Notícia: Museus abrem na segunda fase de desconfinamento.

Notícia: Museus fecham para proteger obras de arte da incúria da ministra.

Graça Fonseca não leu, não ouviu, não atendeu o telefone. A senhora ministra estava muito ocupada com o seu trabalho e não teve disponibilidade para ouvir os pedidos urgentes dos diretores dos principais museus nacionais. O excesso de humidade no edifício e a falência do ar condicionado levam o diretor do Museu Nacional de Arte Antiga a ponderar fechar a porta, que acaba de abrir, para guardar as obras de arte em lugar seguro.

Os alertas foram dados ao longo de muitos meses e agora, com a chegada do calor, é preciso agir. O Louvre teve que fazer algo semelhante durante a Segunda Guerra Mundial para proteger as peças da loucura e da cobiça de Hitler. Ficaram famosas as imagens do maior museu francês com os corredores vazios. Um sinal dos tempos. Por cá, o nosso maior museu prepara-se para esvaziar salas e, assim, proteger as obras da incúria da ministra da Cultura. Outro sinal dos tempos.

A verdade é que, para além de drinks de fim de tarde e de aparições de circunstância, ainda não conseguimos perceber se Graça Fonseca já visitou um museu sem ser ao postigo, que é como quem diz numa pesquisa rápida do Google.

Neste Governo já vimos um ministro da Cultura ser despedido por ter ameaçado uns sopapos. Nada que se compare à gravidade da inação desta ministra.

Portugal não tem nenhum museu que possamos realmente considerar como um museu com dimensão europeia ou mundial. O Museu Nacional de Arte Antiga é o único que tem um espólio capaz de ombrear com as coleções internacionais. Há décadas que está prevista a sua expansão e melhoramento para lhe dar, finalmente, a dimensão internacional que merece.

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Porque é que nada acontece? Porque o país não acredita verdadeiramente no poder da cultura.

Apesar da retórica em sentido contrário, a cultura sempre foi o parente pobre da nossa política. A democracia e o desenvolvimento ainda não chegaram ao sector, quase cinquenta anos depois da revolução. O ensino artístico é o parente pobre do nosso sistema educativo e o país político não acredita no poder multiplicador do investimento cultural. E a prova está à vista: nas 143 páginas do célebre Programa de Recuperação e Resiliência não há uma linha dedicada à cultura. Talvez esteja aqui uma boa explicação para o atraso que registamos em tantas áreas quando nos comparamos com a maioria dos países europeus.

Os nossos vários governos sempre olharam para a política cultural como um elemento decorativo da governação. Tem que lá estar, mas não é para fazer nada. Assiste-se a uns espetáculos. Dá-se uns subsídios. E está feita a coisa. A discussão mais excitante que temos sobre o tema da cultura é se a pasta tem direito a ministério ou se fica como simples secretaria de Estado. E quanto a debate cultural, estamos conversados.

Não espanta, portanto, que Graça Fonseca seja vista como um mero adereço no Governo. É por isso que não tem tempo para atender o telefone ao diretor do Museu Nacional de Arte Antiga. Está ocupada com futilidades.

E assim se transforma um diretor de museu em chefe do aprovisionamento a empacotar as obras de arte para as proteger do calor que ameaça estalar as madeiras.