A OCDE divulgou recentemente uma análise sobre as desigualdades em vários países. Será que todos os países são desiguais da mesma maneira? Ou seja, como é que tratam os mais novos e os mais velhos, os homens e as mulheres? Como são integrados os imigrantes?

No caso de Portugal, a análise por grupos demográficos evidencia vários sinais positivos: a igualdade entre homens e mulheres no acesso à educação, a distância relativamente pequena (e menor do que a média da OCDE) nos salários das mulheres relativamente aos dos homens e dos imigrantes relativamente aos nacionais. Estas são, seguramente, conquistas que progrediram com a democracia.

No entanto existem dados que nos devem interpelar.

Em 2018, o ano mais recente disponível, Portugal era o quarto país da OCDE onde as pessoas se sentiam menos satisfeitas com a sua vida (um valor médio inferior a 7 em 10). Mais grave, no entanto, é que Portugal era também o segundo país da OCDE com a maior desigualdade neste indicador. Isto é, os 20% mais ricos estavam quase três vezes mais satisfeitos com a sua vida do que os 20% mais pobres. Em média na OCDE esse rácio era perto de dois.

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Esta enorme distância na perceção subjetiva que os portugueses têm da sua qualidade de vida não é meramente um estado de espírito, mas o reflexo de fatores reais tais como a desigualdade de rendimentos, a incidência de salários baixos (Portugal tem mais de um quinto dos trabalhadores a tempo inteiro com salários muito inferiores à mediana), ou problemas de saúde (mais de metade dos inquiridos reportaram ter problemas de saúde, a 4ª taxa mais elevada da UE).

No entanto, o fator de desigualdade mais significativo para o nosso futuro coletivo é a falta de oportunidades de trabalho para os jovens. Apesar do nível médio de instrução dos jovens ser significativamente superior ao dos mais velhos, o que é um sinal do progresso da educação em democracia, Portugal encontra-se também entre os dez países da OCDE que têm uma taxa de desemprego relativa dos jovens face aos mais velhos mais elevada. Os fatores desta diferença são conhecidos: o fraco crescimento dos últimos vinte anos e as dificuldades de acesso dos mais jovens a um mercado de trabalho muito regulado.

Mas sobretudo esta discrepância tem também uma consequência política: o aparente desinteresse de muitos jovens pelos partidos e pelo funcionamento da nossa democracia. Isto mede-se, por exemplo, na taxa de abstenção dos jovens portugueses em eleições, mais elevada do que na média dos países da OCDE. Segundo a OCDE, nas eleições de 2015, a taxa de participação dos jovens entre 18 e 24 anos foi 25% inferior à dos adultos entre 25 e 50 anos.

O futuro da nossa democracia depende de assegurar que as novas gerações continuam a preservá-la e a melhorá-la. Por isso é fundamental, não só aproximar a política e os partidos dos jovens, por exemplo através de novas formas de comunicação, mas também criar oportunidades de trabalho, que contribuam para aumentar a confiança no país e nas suas instituições. Os progressos enormes em termos de educação, de rendimentos e de redução das desigualdades desde o 25 de abril são motivo de orgulho e devem-nos motivar a fazer mais e melhor especialmente pelas gerações mais novas. Não nos podem deixar complacentes.