Talvez receio da imposição de um pensamento único; do silenciamento de órgãos de comunicação social, que, à semelhança do Observador, ainda dão espaço à diversidade de correntes de opinião; da ideologia queer, criada por adultos lgbt, imposta a crianças indefesas – sem conhecimento dos pais – por meio de políticas do Ministério da Educação e de associações radicalizadas que têm livre acesso às escolas; da transformação de salas de aula numa espécie de linha de montagem da cultura lgbtqiap+; e, sim, como os factos comprovam, da explosão do fenómeno da disforia de género de início rápido1, não só no Reino Unido mas também cá, neste cantinho à beira-mar plantado, onde recebo telefonemas e e-mails de famílias alarmadas com a confusão mental identitária que está a afectar os seus filhos adolescentes e, claro, toda a família. E, antes que me acusem, outra vez, de “usar o caso único do Reino Unido” deixo aqui as palavras de um psicólogo americano transgénero (imaginem), que afirma que a ideologia trans está “indo longe demais” e que admite picos alarmantes de crianças que se declaram “trans” porque “está na moda”.2 (Não sei se casos de dois países, sendo um deles reportado por um psicólogo trans, chegam, ou se querem mais casos.)

E, porque não há nada mais ideológico do que transformar em “diversidade humana” as preferências/desvios sexuais de homens e mulheres e usá-las como bandeira de desconstrução social e da revolução sexual em curso, gostaria de desmontar apenas algumas mentiras do artigo de opinião do Sérgio e do Diogo, que, como bons militantes da causa “lgbetista” começam por atacar a pessoa que escreve (eu) e o órgão que publica (o Observador). Esse não é o meu modus operandi, por isso, permitam-me contar-vos uma história verídica:

O meu vizinho Vitinho nasceu em finais dos anos 70. O pai “andava ao mar” e a mãe, costureira de profissão, vivia com a avó (de quem aprendeu a arte). A mãe do Vitinho casou tarde e sempre teve o desejo de ter uma menina. Numa das vindas do marido a terra engravidou, e, 9 meses depois nasceu um menino. Contrariada no seu desejo mais íntimo, a mãe não se deixou vencer pela natureza e, quando o marido estava no mar, vestia o Vitinho como a menina que não tinha tido. Fazia-lhe vestidinhos, sainhas e blusinhas com folhos, punha-lhe lacinhos no cabelo, calçava-lhe sapatinhos de boneca com soquetes com rendinha, e, assim, satisfazia – no Vitinho – a sua frustração por não ter tido uma menina. E não eram só as roupas que eram de menina, mas também os brinquedos e até as brincadeiras.

O Vitinho só era vestido e tratado como o rapazinho que era quando o pai vinha a terra. Aí, mancomunada com a avó do petiz, a mãe escondia tudo o que era para menina e vestia-o de rapaz, espalhava os brinquedos que o pai costumava trazer pela casa e permitia-lhe correr, saltar e sujar-se nas brincadeiras com outros rapazes.

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O Vitinho cresceu assim. Sofreu imenso, tanto por detestar ser vestido e tratado como menina, como por causa do gozo dos amiguinhos da idade dele, mas sempre soube que era um rapaz. Criado por duas mulheres que o tratavam como menina, ele tinha muitos trejeitos femininos, mas, como ele mesmo fazia questão de frisar, gostava de mulheres, casou e… o relacionamento com a mãe nunca foi bom. O pai, quando finalmente soube de tudo, abandonou a mulher e aquele ambiente doentio.

Poderão sempre dizer “é um caso isolado”, mas a verdade é que muitas das pessoas que conheço conhecem um caso parecido. Imaginem se, naquele tempo, o activismo trans estivesse como hoje. O que seria daquela criança, e de outras, nas mãos de adultos frustrados.

Voltando às considerações “científicas” que o Sérgio e o Diogo usaram:

  1. Não creio que seja anti-científico, mas é mentira afirmar que o caso clínico de Helena Kerschner é um caso isolado.
  2. O Sérgio e o João andam muito desatentos, ou lêem muito pouco. Já citei o caso Keira Bell noutros artigos, no meu último livro, etc., e o que não falta são casos de arrependimento3. Por exemplo, no dia 12 de Abril, mais um homem que passou por uma cirurgia de “mudança de sexo” na adolescência alerta aqueles que consideram uma operação semelhante.4
  3. A lei 38/2018 preparou caminho para silenciar a comunidade médica que não seja “afirmativa” da “mudança de sexo” e, brevemente, a proibição das ditas terapias de conversão deixará os profissionais de saúde, e a própria família, sem qualquer espaço para contrariar uma criança que sofra de confusão mental quanto à sua identidade, que passou a ser-lhes atribuída como resultado dos seus desejos sexuais, algo em que nem sequer deviam pensar tão cedo. Não faltam relatos que mostram que quando algum cientista demonstra interesse em explorar a questão das diferenças biológicas e se opõe aos facilitismos da “mudança de sexo”, exigidos pelo activismo trans, imediatamente é acusado5 de querer justificar atentados aos direitos das mulheres e pessoas LGBT+. Assim, em vez de se analisarem racionalmente as provas que esses cientistas apresentam, são submetidos a ataques pessoais cruéis, são “apedrejados” em praça pública. Ora, esta pretensa submissão das conclusões científicas à ideologia é nada menos do que a antítese da ciência. E na raiz disto está a visão das ciências sociais como o único instrumento ideológico para rebater o pensamento da biologia.
  4. Não nego o sofrimento de pessoas que sofrem de disforia de género e nunca escrevi nada sobre adultos que resolvem amputar partes saudáveis do corpo e tomar hormonas do sexo oposto – a vida toda – para o adaptar ao que sentem e desejam. São adultos, o corpo é deles, fazem o que entenderem e os casos são raríssimos. Sempre me ensinaram, e eu ensinei os meus filhos, a respeitar as pessoas – todas as pessoas e não as características de algumas pessoas – pelo facto de serem, todas elas, criadas à imagem e semelhança de Deus.
  5. Portanto, e sendo com as crianças a minha preocupação, o American College of Pediatricians (ACPeds) também publicou um estudo, assinado pela presidente da associação, a doutora Michelle Cretella (que os lgebetês odeiam), analisando a literatura médica sobre disforia de género e as bases científicas dos actuais protocolos para o tratamento dessa condição, principalmente em relação a crianças e adolescentes. A partir de uma extensa análise dos dados, o relatório conclui pela falta de evidências científicas sólidas para recomendar tratamentos invasivos, como os bloqueios hormonais em crianças e adolescentes, cujos efeitos ainda são em grande parte desconhecidos ou, em muitos casos, prejudiciais.

Ora, esse estudo chegou às seguintes conclusões:

  • Entre 80% e 95% das crianças e adolescentes com disforia de género aceitam o seu sexo biológico até ao final da adolescência.6 A maioria das crianças aceita o seu sexo biológico até ao final da adolescência.
  • A “perspectiva alternativa” de uma “identidade de género inata” que teria origem em cérebros “feminilizados” ou “masculinizados” presos no corpo errado é, de facto, uma crença ideológica que não tem base na ciência rigorosa.
  • Segundo inúmeras evidências, existe também uma tendência crescente entre adolescentes, para se autodiagnosticarem como transgéneros, depois de passarem períodos prolongados em sites como Tumblr, Reddit e YouTube.7
  • Em vista do fenómeno amplamente constatado da neuroplasticidade, o comportamento reiterado de fazer-se passar pelo sexo oposto vai alterar, de alguma maneira, a estrutura e função do cérebro da criança.8

Resumindo: a disforia de género (DG) infantil é um termo usado para descreve uma condição psicológica em que uma criança sente uma incongruência marcante, entre o género que sente ter e o género associado ao seu sexo biológico. Estudos com gémeos demonstram que a DG não é uma característica inata. E, sem a afirmação da sua transexualidade antes da adolescência e sem intervenção hormonal, antes de chegarem ao final da adolescência, entre 80% e 95% das crianças com DG vão aceitar a realidade do seu sexo biológico.

O tratamento da DG infantil com hormonas equivale, na prática, à realização de experiências em massa e esterilização de crianças e adolescentes, que são cognitivamente incapazes de dar o seu consentimento informado. Existe um problema ético grave em permitir que procedimentos irreversíveis e transformadores de vida sejam realizados em menores que não têm idade suficiente para darem o consentimento válido, eles próprios; os adolescentes não são capazes de compreender a magnitude de tais decisões.9

O documento é extenso e pode ser lido na íntegra por quem estiver interessado em saber a verdade dos factos.

Termino com as palavras da Dra. Michelle Cretella (entretanto censurada pela intolerância dos que se afirmam tolerantes: «Sejamos claros: doutrinar as crianças a partir da pré-escola, com a mentira de que elas podem estar no corpo errado, destrói os fundamentos de um teste da realidade de uma criança. Se uma criança não pode confiar na realidade do seu corpo físico, no que é que ela poderá confiar?

A ideologia transgénero nas escolas é abuso psicológico e frequentemente resulta em castração química, esterilização e mutilação cirúrgica. Se isto não é abuso infantil, senhoras e senhores, então o que é?»

6 Cohen-Kettenis PT, Delemarre-van de Waal HA, Gooren LJ. The treatment of adolescent transsexuals: changing insights. J Sexual Med, 2008, número 5, pp. 1892–1897.

7 Youth Trans Critical Professionals. Professionals Thinking Critically about the Youth Transgender Narrative. Disponível em https://youthtranscriticalprofessionals.org/about/. Acesso em 15 de junho de 2016.

8 Gu J, Kanai R. What contributes to individual differences in brain structure? Front Hum Neurosci, 2014, número 8, p. 262.

9 https://especiais.gazetadopovo.com.br/ideologia-de-genero/ (Leia todo o artigo, traduzido, aqui, ou aceda ao texto original, que aparece nas fontes bibliográficas).