Alexei Navalny, o maior opositor russo de Putin, morreu no dia 16 de Fevereiro, numa prisão na Sibéria. Segundo informou o serviço prisional, “sentiu-se mal depois de uma caminhada e perdeu a consciência quase imediatamente”. Não posso dizer que tenha ficado surpreendido. Navalny praticava o desporto mais radical para um dissidente russo: estava vivo.

Fiquei surpreendido, isso sim, com o comunicado do PCP. Não pelo que diz, mas pelo facto de ter sido tornado público. Significa que os comunistas reconhecem que existem mesmo colónias penais na Sibéria onde são encarcerados os opositores do regime russo. Para quem, como eu, cresceu nos anos 80, isto é uma novidade. Nessa altura, se falássemos com alguém do PCP, a Sibéria era uma apenas uma região da Ásia no mapa do jogo Risco. Juntamente com outros clássicos como Kamachatka e Yakutsk.

Mas o PCP não só reconhece, como aguarda o “cabal esclarecimento das circunstâncias em que ocorreu, com o correspondente apuramento de responsabilidades”. Fazem bem. Só porque, no dia anterior, Navalny estava em perfeito estado de saúde e morreu ao cuidado do regime autocrático que já o tinha envenenado, não nos devemos precipitar a tirar conclusões.

Aguardemos. Nós, o PCP e a família de Navalny, que nem sequer pôde ver o corpo. As autoridades ainda não o entregaram, porque ainda estão a investigar as causas de morte. Imagino que tenha sido uma daquelas caminhadas em que a pessoa fica mesmo maltratada. Se calhar, Navalny foi dar um passeio com sapatos novos. É sempre fatal. As bolhas nos pés devem ser tão horríveis que os médicos legistas ainda estão de volta delas. Percebo o PCP. Não quer alinhar no coro dos críticos da Rússia, que dizem mal só por dizer. O regime de Putin não tem só aspectos negativos. Há muitas coisas em que é superior ao nosso. A Justiça, por exemplo. Funciona melhor na Rússia do que em Portugal.

Navalny morreu há menos de uma semana e já há russos condenados por manifestações de luto. A celeridade! Não há cá PGR a arrastar os pés na acusação, nem juiz de instrução a desfazer o trabalho do Ministério Público. Funciona tudo lindamente. Lucília Gago devia pôr os olhos nos russos. Começo a achar que o PCP tem razão. A Rússia não é o papão que se diz por aí. Se calhar, já pensávamos em sair da NATO. Nem é só por os russos serem inofensivos. É porque começa a ser embaraçoso termos de mostrar o nosso equipamento aos nossos aliados.

Na pior das hipóteses, se Putin, contra todas as expectativas, faz uma marotice e acaba a invadir Portugal, o que é que pode acontecer? No máximo, manda os insolentes para a uma prisão na Sibéria. Que agora, com o aquecimento global, já deixou de ser o sítio inóspito que era quando o PCP não admitia que existia.

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