1António Costa está cansado. Não há vislumbre de energia, a combatividade sumiu, o empenho está a meio gás. É um repetente a quem pesa o fracasso da geringonça da qual foi produtor e protagonista. Partiu para o combate com essa mochila às costas, vestido de “governante com experiência” mas a “experiência” é uma faca de dois gumes. Temos referências. Nenhum dos seus adversários foi governante, de Costa lembramos tudo. No caldeirão da memória estão os desesperançados com a imobilidade da pátria e os outros. Os que devem a António Costa a “instalação” com carácter definitivo na concha segura do Estado e serão sempre um exército às suas ordens. Desde que não haja grandes chatices o exército de filhos permanecerá fiel, nada importando a sorte dos enteados. Sucede porém que há mesmo grandes chatices mas faz-se de conta: que a Justiça funciona porque se apanhou João Rendeiro; que valia a pena ao país ter Eduardo Cabrita no Governo; que o SNS não deixa patologias graves por tratar a tempo ou que tantas centenas de mortos se devem só à Covid; que os alunos da escola pública estão a ser educados stricto e lato sensu; que o excedente orçamental representou um esforço de reforma e reajustamento e não de taxas juro baixas, conjuntura simpática, cativações implacáveis; que aquilo a que se chama com excesso de segurança “agricultura” foi bem tida em conta nos últimos anos; que a classe média ainda merece esse nome; que a culpa seis anos depois continua a ser de Passos Coelho. Que Rio é “extremista”. Que. E que.

2 António Costa reivindica a “estabilidade” e quer reeditá-la. É certo que ela foi uma realidade, durou. Houve paz social. Mas quanto custou tão infértil estabilidade? Impedir reformas e travar mudanças indispensáveis, empobrece. Foi o caso – excepção honrosa para o passe social, mas quem se lembra de mais?

Ah mas parece que agora é que vai ser bom. (Bom a valer. Bom a sério. Bom mesmo.)

3 É sobre a cartolina deste cenário pobre, desbotado pelo envelhecimento e cerzido pela inflação que António Costa promete e anuncia dias felizes: aumentos de salários, por exemplo. A mirífica possibilidade de crescimento (?) ou a semana laboral de quatro dias. (Paga como? Pelas empresas ricas? E a fronda que logo ocorreria entre trabalhadores de umas e de outras?) Lembrou-me as 35 horas: pena não se conhecer por extenso o custa dessa fantasia que um dia o Chefe de Estado prometeu acompanhar e não acompanhou. Mas entre as horas extraordinárias a que obviamente obrigou, e as novas contratações a que teve de recorrer, o preço deve hoje rondar o exorbitante.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

4 E há ainda a forma. O “modo” socialista de estar e fazer política. Feio, arrogante, usando da falsidade e praticando a manipulação. A forma será menos grave que a substancia, dirão. Não é. Reveja-se o inesquecível debate Rio/Costa que afinal foram dois: pensávamos ser a trivialidade do costume – o debatente X a dizer que sim, fora ele que ganhara contra o debatente Y – mas não: ao fim de quatro, cinco minutos, o candidato do PS continuava o debate por outra forma, anunciando, emendando, atacando, com o adversário ausente. Dezoito minutos depois o abuso da ocorrência mantinha-se em relevo nos écrans. O que teve de ser, teve muita força: António Costa, percebendo (nós também) que perdera o debate, agarrou-.se aquele estratagema salvífico de última hora. Uma lição de democracia. Palmas. Houvera outras: sempre que António Costa distorcia – diante do país – o que acabava de ouvir da boca do seu oponente, cavalgando o que ele não afirmara nem defendia, houve nova lição de bom comportamento cívico e democrático. Continua a fazê-lo: com a insistência no tema – inexistente – da prisão da perpétua atribuindo a Rio palavras que não disse, com o insulto soez a Cavaco Silva a propósito de maiorias absolutas, com a abusadora colagem política ao Presidente da Republica içado para o debate como súbito anjo da guarda do bom socialismo. Vale tudo. Uma cultura que faz escola: dias antes, um “jota”, bom aluno dos costumes da casa não se ensaiara para manipular uma imagem de Jerónimo de Sousa no debate com o “patrão” António Costa .Palmas ao bom aluno, o PS é o maior: ser o maior não é ser capaz de tudo?

5 O líder do PS sabe que não terá a maioria absoluta. (Nós também). O que não o impede de continuar explicitamente a pedi-la mesmo que ontem ela fosse a mãe de todos os males nas mãos do insultado Cavaco Silva e hoje o oxigénio de que o líder do PS desesperadamente precisa. Pelo meio avisa que mesmo que não obtenha “metade mais um”, ele “fica”. Mas sabe (nós também) que nunca será um “ficar” fácil. Não o pode ser: o PS a socorrer-se do PAN? De quem? Pior ainda do que essa grupeta querer mudar uma identidade com nove séculos e ser muito perigosa (é, é),sendo por isso perigoso trazê-la para dentro de casa, pior é o lider socialista olhar para eles sem dúvida, nem fastio. Nunca o PS na sua história desceu tão baixo. Um grande político português alertou-me um dia: “em política há sempre pior”. É verdade, como nos mostra António Costa no seu agora desvelo pela grupeta.

A alternativa chama-se ”governar à Guterres” e seria a via verde para novas eleições, antecipando calendários, gastando o dinheiro que não há, extenuando o país.

Qual o ser ser normalmente constituído que não se inquieta com isto? Que não se aflige com o declíneo de Portugal?

6 Uma coisa está porém a ficar clara: o espaço à direita do PS – PSD, CDS, IL – tem sido capaz de surpresa, outra energia, maior combatividade. O outro lado está sediço. Como se vivessem em meados do século passado. É suficiente? Não.

É preciso muito mais que isso para acabar com a contaminação geral do país pelo partido socialista. Ignoro quem seja capaz desse “mais mesmo que haja já um outro “ar” no ar político destas eleições.

Quer as sondagens gostem, quer não.