A política é uma das esferas mais importantes da sociedade, com o poder de moldar o destino de uma nação. Numa democracia, a relação entre os políticos e os cidadãos deve ser clara: os políticos estão na política para servir os interesses do povo. Infelizmente, em Portugal, como em muitos outros lugares do mundo, essa relação muitas vezes parece estar invertida. Em vez de vermos políticos preocupados em servir os cidadãos, vemos, políticos a servirem-se do poder e da influência que conquistaram para benefício próprio.

A ideia fundamental da democracia é que os cidadãos devem escolher os seus representantes para tomar decisões em seu nome. Os políticos são eleitos, depois de nomeados pelos partidos para constarem nas listas de candidatos, com a responsabilidade de criar e implementar políticas que beneficiem a sociedade como um todo. Mas, muitas vezes, aquilo a que assistimos é a uma desconexão entre essa missão fundamental e a realidade.

Uma das principais críticas que se faz à política em Portugal é a forma como muitos políticos são colocados nas listas dos partidos ou nomeados para cargos públicos. Muitas vezes, a nomeação de políticos não é baseada no mérito, experiência ou comprometimento com o serviço público, mas sim em lealdades partidárias ou conexões pessoais. Esse modus operandi, retira credibilidade ao já pouco credível sistema político e degrada a confiança dos cidadãos nos seus representantes.

Esta falta de credibilidade e confiança agrava-se quando os eleitos adotam comportamentos de supremacia perante os eleitores. Isto é, em Portugal existe a cultura da submissão e do deslumbramento em relação aos políticos. Muitos cidadãos tendem a ver os políticos como figuras intocáveis, quase como celebridades, em vez de servidores públicos. Isso cria uma falsa sensação de supremacia dos próprios políticos fazendo com que não se sintam responsáveis perante os cidadãos, mas sim superiores a eles. É a total inversão daquilo que deve ser o escrutínio a um político, pois em vez de serem avaliados pelo seu desempenho e responsabilizados pelas suas ações, eles são protegidos por essa cultura de adoração.

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Para inverter essa cultura e restaurar a verdadeira missão da política, Portugal pode aprender com outros países, que têm sistemas mais eficazes de prestação de contas política.

Na Suécia, a transparência e a prestação de contas são fundamentais. Os políticos são responsáveis perante o parlamento e podem ser destituídos se não cumprirem com as suas promessas ou agirem de forma antiética.

Após a crise financeira de 2008, a Islândia reformou o seu sistema político, envolvendo diretamente os cidadãos na redação de sua nova Constituição. Isso demonstra um compromisso com a participação popular e a responsabilidade política.

Em Singapura, a corrupção é severamente punida e os políticos são obrigados a serem transparentes com as suas finanças. Não há por lá ninguém que enriqueça com financiamento de primos, familiares ou amigos.

Estes exemplos são representativos de como é possível criar um ambiente saudável, de confiança entre os políticos, que são incentivados a servir o público e não a servirem-se.

É crucial que Portugal reavalie a relação entre políticos e cidadãos. Os políticos não devem servir-se do poder, mas sim servir os cidadãos. A nomeação baseada em mérito, a transparência, a responsabilidade política e a participação cidadã são passos essenciais para inverter essa cultura prejudicial. É hora de os políticos em Portugal fazerem uma vénia a cada cidadão que lhes paga o vencimento, em vez de esperarem o contrário. O futuro da democracia portuguesa depende disso.