As mais recentes decisões do PSOE começaram por causar perplexidade para, num curto espaço de tempo, passarem a ser vistas como altamente preocupantes, tanto a nível interno, como nos círculos diplomáticos.

Na verdade, ainda os espanhóis não estavam refeitos da inusitada estratégia que manteve Pedro Sanchéz no Poder e já os socialistas davam mais um exemplo da confusão em que resolveram mergulhar.

Se, no primeiro caso, o futuro próximo se encarregará de cobrar um preço, presumivelmente elevado, pela aliança do PSOE com o populista Podemos, ainda por cima contando com a bênção dos independentistas catalães, a situação agravou-se face à forma desajustada como o Governo de Sánchez está a lidar com a questão venezuelana.

O problema já seria suficientemente grave pelo facto de um antigo líder do PSOE, José Luis Zapatero, se ter disponibilizado para servir como uma espécie de porta-voz diplomático do Governo de Nicolás Maduro, esquecendo que a Espanha é um dos cerca de sessenta países que reconheceu Juan Guaidó como o legítimo Presidente da Venezuela. Só que os socialistas espanhóis ousaram ir mais longe. Assim, José Luis Ábalos, o número três do PSOE e ministro dos Transportes, Mobilidade e Agenda Urbana, resolveu ir ao aeroporto de Barajas, agora rebatizado muito justamente com o nome de Adolfo Suarez, o político que conseguiu levar a bom termo a transição democrática em Espanha, para se encontrar com a segunda figura do Governo de Maduro, a vice-Presidente Delcí Rodríguez.

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As sucessivas desculpas inventadas por Ábalos manifestam uma coerência muito semelhante às desculpas de uma criança apanhada com a cara lambuzada de chocolate, depois de ter sido proibida de comer doces. Quando se apercebeu da inutilidade de continuar a negar o encontro, defendeu-se dizendo que apenas tinha ido ao aeroporto para se encontrar com o seu amigo e ministro do Turismo venezuelano, Félix Plasencia, e que se tinha limitado a ir cumprimentar Delcy Rodríguez a pedido de Plasencia. Dito de uma forma mais simples: um cumprimento não é um encontro e não se deve negar a ninguém. Uma questão de civismo, segundo o próprio. Uma falta de senso político e de sentido de Estado, segundo a quase totalidade dos espanhóis.

Face a este imbróglio, o PSOE começou a falar a várias vozes até encontrar uma razão explicativa para uma ação descabida. Finalmente, fez-se luz numa cabeça socialista. A subida de Ábalos a bordo do Falcão 900 onde se encontrava Rodríguez não merecia ser criticada, mas, pelo contrário, louvada. Afinal, Ábalos tinha evitado o incidente diplomático que surgiria no caso de a número dois de Maduro ter resolvido pisar solo espanhol, uma vez que Rodríguez está proibida de entrar no espaço Schengen.

O que o PSOE não conseguiu foi calar as vozes que não tardaram a afirmar que, mal o avião aterrou, Delcy Rodríguez fez questão de rentabilizar as mais de 14 horas da paragem técnica. Exigiu falar com alguém do PSOE. Ábalos, na qualidade de ministro e de secretário da organização do partido, foi esse alguém.

Como nem o acaso acontece por acaso, Guaidó resolveu terminar o seu périplo diplomático europeu precisamente em Madrid. Seria uma ocasião para Sánchez emendar a mão, mas os socialistas espanhóis quiseram, mais uma vez, desacertar o passo com a História. Por isso, Sánchez não recebeu Guaidó. Entregou essa missão à ministra dos Assuntos Exteriores, Arancha González Laya. Um encontro que efetuado na Casa da América. Um palco demasiado exíguo tendo em conta que a Espanha reconheceu Guaidó como legítimo Presidente da Venezuela.

Como se percebe, não é só a nível interno que os socialistas espanhóis estão perdidos num emaranhado de confusões. A pasokização do PSOE está em curso.