Num momento em que as relações entre a Rússia e o chamado Ocidente não tendem a melhorar, bem pelo contrário, o Kremlin procura impulsionar novas plataformas de cooperação para escapar ao isolamento internacional. Neste campo, muito irá depender do desenvolvimento dos acontecimentos a nível internacional nos próximos tempos.

O mais importante resultado da cimeira dos BRICS, organização que reúne o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, foi a decisão de criar um banco conjunto com vista a investimentos no campo da energia e das infraestruturas de transportes. Banco semelhante poderá ser criado no quadro da Organização de Cooperação de Xangai (OCX).

Alguns observadores consideram que estes projectos poderão chocar com outros impulsionados pela China e de maiores dimensões: o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas e o Fundo “Rota da Seda”. Porém, Vladimir Dmitriev, vice-presidente do novo banco dos BRICS, defende outra opinião: “no quadro da união bancária da OCX, acordámos criar uma estrutura que irá interagir estreitamente com organizações que estão a ser criadas no espaço eurasiático”.

Além dessa possível rivalidade entre Moscovo e Pequim em regiões como a Ásia Central, onde o Kremlin olha com algum receio para o avanço chinês, as trocas comerciais entre a Rússia e a China sofreram uma queda de 30% no primeiro trimestre deste ano. E aqui é de salientar que a maioria das exportações russas são combustíveis, enquanto que os chineses exportam maquinaria e produtos de consumo corrente. Por isso, tendo em conta o potencial financeiro e económico desses dois países, torna-se claro que o Império do Meio é cada vez mais o motor dos processos de integração naquela região.

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Claro que não se podia deixar de abordar o “problema grego”, campo em que os dirigentes dos BRICS sublinharam que o dinheiro do novo banco não servirá para ajudar financeiramente a Grécia. Aliás, Moscovo tem tido muita precaução face aos seus “irmãos ortodoxos”, pois, além de não ter meios financeiros para ajudar o governo grego, receia que a desestabilização do euro se reflita negativamente na própria economia russa. A União Europeia continua a ser o principal parceiro comercial da Rússia e se as economias dos países membros da UE se afundarem numa crise, isso poderá, por exemplo, levar à redução das importações de combustíveis russos.

O Irão esteve também no centro das atenções dos dirigentes dos BRICS e da OCX e não só porque Teerão tem o estatuto de observador nesta última organização. Todos os olhos continuam postos em Viena, onde se espera para breve um acordo sobre o programa nuclear iraniano. O único obstáculo é o prazo para o levantamento do embargo à venda de armas ao Irão. Se os iranianos, apoiados pela Rússia e a China, querem o seu fim dentro de seis meses, os países ocidentais propõem períodos entre 2 a 8 anos.

Se o acordo for final assinado em breve, a Rússia espera lucrar com ele. Além do reinício do fornecimento de armas ao Irão, Moscovo espera ganhar com o urânio enriquecido iraniano que Teerão irá produzir em excesso que, segundo o acordo a assinar, deverá ser vendido à Rússia.

Porém, a assinatura do documento provoca também alguns receios no Kremlin. Se as sanções contra o Irão forem levantadas e as petrolíferas iranianas começarem a exportar combustível em quantidades significativas, isso pode causar a queda do seu preço no mercado internacional, o que será muito negativo para a economia russa, cada vez mais mergulhada na crise.

Não se pode também excluir o facto que o Irão opte por outros parceiros que não a Rússia na aquisição de armamentos.

Outra má notícia para Moscovo foi o anúncio pela gasífera russa Gazprom de que suspende os trabalhos de construção do gasoduto “Corrente Turca”, que devia fornecer gás à Europa através da Turquia e Grécia, ladeando a Ucrânia. Ancara pede descontos na compra do gás russo e não olha com bons olhos para a participação da Grécia neste projecto. A Gazprom frisou que o projecto foi suspenso, mas não posto na prateleira.
P.S. Segundo peritos abordados pelo jornal Gazeta.ru, a queda do PIB  russo em 2015 poderá situar-se entre os 3 e os 5%. No ano corrente, a saída de capitais da Rússia poderá rondar os 100 mil milhões de dólares (dados do Banco Central). Boa notícia para o Kremlin, a Arábia Saudita decidiu investir mil milhões de dólares em vários projectos na Rússia.