Deixei passar uns dias, só para ter a certeza. Não gosto de me precipitar nestas coisas. Mas a madrugada de Domingo já lá vai e a verdade é que não estou nada satisfeito com a mudança da hora. Nada contra mudar a hora, atenção, mas desde que seja para melhor. Para mim, a mudar de hora, mudava-se para as 15h47. E pronto, eram sempre 15h47. Não havia aquele coisa, “Eh pá, mas que horas são isto?” Eram sempre 15h47, não havia dúvidas. “Mas a que horas nos encontramos amanhã?” Às 15h47, como é óbvio. Não há outra hora! Enfim, eu deixo aqui boas ideias, das bem disruptivas, mas toda a gente parece mais interessada em saber se o IRC desce 1%, ou se o défice sobe 0,2%, ou se o Chega é 200% fascista, ou meros 100% fascista.

Ou seja, temos dificuldade em entendermo-nos, é o que é. Como tem ficado demonstrado, à exaustão, pelas análises aos distúrbios da última semana. Há de tudo e o seu exacto oposto, quando a única coisa certa é que, de entre quem tem expressado opinião, ninguém pode saber o que se passou. Mas já que toda a gente expressa opinião, eu arrisco, no máximo, um palpite: se Odair Moniz tem acatado as indicações dos polícias que o interpelaram naquele dia, hoje o nome Odair Moniz não concorreria com o de Rúben Amorim por espaço nas notícias.

Agora, em rigor, há uma coisa certa no meio disto tudo. É que o Bloco de Esquerda tem, enfim, o seu George Floyd português. E eu a pensar que o Bloco odiava tudo o que vem dos Estados Unidos. Além de odiaram o mercado livre, claro. Que ingenuidade. Claro que o Bloco importará, alegremente, todas as ideias e movimentos que, vindos da América, se propõem destruir tudo o que a América representa. Tal como Obama dizia à entrada da sua presidência estarmos a dias de “fundamentally transforming the United States of America”, também o Bloco de Esquerda adora a América, desde que seja uma América que é o contrário do que é a América.

Confuso? Nada. Apenas o Bloco a aproveitar mais uma oportunidade para tirar partido de uma crise, agora que a agenda Queer por Gaza parece ter perdido, digamos, alguma cor. Incrível, a rapidez com que estes comunistas passam de uma visão do mundo como um colorido arco-íris, para um sorumbático preto e branco. Mais do que sorumbático, fugaz preto e branco. Que o branco, em menos de nada, lincha o preto, como é tão frequente acontecer entre nós.

Nem de propósito, quem é nazi é o Trump. O Trump e, segundo o partido democrata, todos os presentes no seu último grande comício no Madison Square Garden, em Nova Iorque. “Mas porquê?” Porque em 1939 houve um comício nazi naquele mesmo pavilhão. Logo, o Trump, ao fazer também um comício, também naquele local, é nazi. E perguntam vocês: “Mas o Madison Square Garden não é o pavilhão onde os New York Knicks jogam basquetebol?” Mais ou menos, meus amigos. O Madison Square Garden é o pavilhão onde os nazis dos New York Knicks jogam basquetebol. Assim é que é. Os nazis dos New York Knicks. “Mas de certeza que são nazis, Tiago? É que grande parte dos jogadores dos Knicks ao longo dos anos eram afro-americanos…” Só para enganar uma pessoa. Que os afro-americanos são os nazis mais nazis de todos. E agora chega de perguntas e deixem-me continuar, se faz favor.

O nazi do Trump que, com aquelas ganas militaristas, mesmo à nazi, garante conseguir pôr fim à guerra na Ucrânia. Garante, quer dizer. Garantia há uns dias, antes de António Guterres ir à cimeira dos BRICS prestar vassalagem a Putin. Agora não sei. Com Putin, o seu cão de fila da Bielorrúsia, Lukashenko, e um secretário-geral da ONU que se verga perante o primeiro e leva um carinhoso abraço do segundo, tudo pode acontecer. O que já aconteceu foi Guterres ter fugido de Portugal para evitar um pântano nacional e agora não parar de se enterrar no panorama internacional.

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