O Hino da Ucrânia, escrito num momento difícil da sua história, começa com as palavras: “Ainda está viva a Ucrânia”, mas parece cada vez mais moribunda. Depois da perda da Crimeia em março, ontem viu separarem-se mais dois pedaços significativos do seu território: as regiões de Donetsk e Lugansk.

É verdade que poucos serão as organizações internacionais ou os países, além da Rússia, que reconheçam a legitimidade das eleições realizadas nas auto-proclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk. Porém,  isso já não tem importância. Como não teve importância na Crimeia, em março passado. Entraram uns “homenzinhos verdes” e “simpáticos” nessa península ucraniana, foi organizado rapidamente um referendo e a maioria decidiu-se pela adesão à Rússia. Ponto final.

No caso de Donetsk e Lugansk, a anexação pela Rússia poderá não ser a opção imediata do Kremlin, pois isso já ultrapassaria todos os precedentes, nomeadamente o do Kosovo, que o Presidente Vladimir Putin tanto gosta de repetir. O principal é controlar a maior parte possível do território ucraniano, mesmo que indiretamente, para ter uma alavanca de pressão sobre Kiev.

Segundo os dirigentes dos separatistas, que se consideram agora legitimados pelo apoio da maioria, numas eleições em que não participou qualquer força política pró-ucraniana, o escrutínio mostrou a vontade da população cortar definitivamente com o governo de Kiev.

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Os dirigentes ucranianos consideraram as eleições uma “farsa”, mas pouco ou nada podem fazer. Se se lançarem numa nova campanha militar para reconquistarem os territórios perdidos, não é certo que vençam, bem pelo contrário. Segundo fontes nacionais e internacionais, a Rússia voltou a concentrar um forte contingente militar na fronteira com a Ucrânia e muitos dos seus homens já se encontram do outro lado da fronteira.

Além do mais, as forças políticas ucranianas tardam em criar uma coligação governamental sólida que permita arrancar o país da pesada crise económica, social e política em que se encontra.

A continuar assim, os separatistas pró-russos, e os seus ideólogos em Moscovo, não escondem os seus planos de alargar os seus territórios, admitindo mesmo a possibilidade de chegarem a Kiev e não só. Konstantin Dolgov, coo-presidente da Frente Popular da Novorrossya, declarou à televisão russa: “Infelizmente, a desgraça consiste em que a guerra no território da antiga Ucrânia será longa. A guerra terminará com a nossa vitória. Chegaremos a Kiev e enforcaremos todos os criminosos de guerra: Poroshenko, Kolomonsky, Avakov, Lyachko, etc.”

Este dirigente separatista não podia ser mais claro. E, por enquanto, tudo parece correr à sua maneira.