De calças de ganga e camisa preta, Peter Madsen entrou na sala de audiência do tribunal de Copenhaga, na Dinamarca, completamente silenciosa. A juíza Anette Burkø entra. Todos se levantam. “Podem sentar-se”, diz pouco depois das 8h30 locais (7h30 em Lisboa). Começa o julgamento do inventor dinamarquês acusado de assassinar e desmembrar a jornalista Kim Wall, de 30 anos, dentro do próprio submarino que desenhou e construiu, o UC3 Nautilus, de 33 toneladas e 18 metros de comprimento.

Antes mesmo de começar o julgamento, a advogada de defesa Betina Hald Engmark levantou a ponta do véu em declarações aos jornalistas. Engmark revelou que a defesa de Madsen se mantém: “Ele não sabe como ela [Kim Wall] morreu, mas sustenta que foi um acidente”, disse a advogada a caminho para o tribunal. O inventor sempre garantiu que não matou a jornalista, alegando que esta morreu acidentalmente no interior da embarcação quando ele estava no convés do submarino. Mas admite que a atirou as partes do corpo para o mar, ao largo da Dinamarca. Em tribunal mantém a mesma versão: Peter Madsen declara-se inocente. “Tenho a certeza que ela teve uma noite muito, muito boa até ao acidente”, disse. O inventor — que afinal até sabia como Wall morreu –explicou que a jornalista foi intoxicada dentro do submarino, enquanto ele estava no exterior.

Kim Wall, a jornalista morta num submarino e atirada ao mar em partes. A cronologia do caso

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sangue no nariz do inventor e pesquisas pela palavra “decapitação” no Google

Na noite de 10 para 11 de agosto do ano passado, o submarino — que foi o local do crime –, esteve submerso por várias horas e invisível no radar, revelou o  procurador Jakob Buch-Jepsen esta quinta-feira, acrescentando que o inventor Peter Madsen não respondeu imediatamente às tentativas de contacto realizadas. Quando finalmente o contacto foi correspondido, Madsen explicou que tinha tido problemas técnicos mas que não havia pessoas feridas a bordo, mas apenas problemas técnicos. Pouco depois, ouviu-se: “Homem ao mar” — uma expressão utilizada quando se apercebe que alguém caiu na água. Quando regressou, Madsen estava sozinho e foi detido.

O procurador revelou ainda que o inventor, quando ainda estava no submarino, pesquisou no Google a palavra “decapitação” e, de seguida, viu vários vídeos que mostravam uma mulher a ser degolada.

Especialistas forenses encontraram sangue seco no nariz do inventor, que se veio a provar que pertencia a Kim Wall”, revelou ainda o procurador. Além disso, foi ainda encontrado sangue na roupa que Madsen estava a usar no momento em que foi detido, em agosto do ano passado, e vestígios de esperma na sua roupa interior. Foram encontrados vestígios de sangue no corpo da jornalista mas não de esperma.

Sem sinais de psicose, inventor está apto para ser condenado a prisão

O Ministério Público pediu que Madsen seja condenado a prisão perpétua. Tal não aconteceria caso fosse considerado necessário pelos psiquiatras que o inventor fosse mantido numa clínica psiquiátrica até deixar de ser considerado doente ou perigoso para os outros. Mas um relatório psiquiátrico revelado no julgamento retirou todas as esperanças ao inventor dinamarquês de 47 anos.

No geral, é um homem bem comportado sem sinais de psicose. Pessoalmente, ele é muito diferente das características narcisistas e psicopatas. Ele sofre de uma séria falta de empatia, raiva e culpa”, revelou o procurador.

Sem sinal de psicose identificado, o procurador sugeriu que Madsen está apto a ser condenado a uma pena de prisão normal. Mas o veredicto final só deverá ser conhecido a 25 de abril. A próxima sessão de julgamento foi agendada para dia 21 deste mês.