Várias organizações que lutam por um papel mais relevante das mulheres na Igreja Católica lançaram uma petição a exigir que o Vaticano dê direito de voto às sete mulheres religiosas (freiras) que estão a participar no Sínodo dos Bispos, reunião periódica do maior órgão consultivo do Papa, que se realiza por estes dias em Roma. Na base da argumentação está o facto de na última reunião e na atual ter sido dado o direito de voto a um homem não ordenado que participam em representação de ordens religiosas (nomeadamente frades).

Até 2015, ano em que se realizou o Sínodo dedicado à família, o critério de voto era simples: só podiam votar os bispos e padres participantes do encontro. Todos os representantes de ordens religiosas e outros movimentos da Igreja que fossem escolhidos como delegados ao Sínodo podiam participar nos trabalhos e nas discussões, mas não podiam votar na aprovação das resoluções, como explica a revista jesuíta America.

Nesse ano a União dos Superiores Gerais (organização que congrega os superiores das ordens religiosas masculinas) escolheu o frei Hervé Janson como um dos dez delegados da organização ao Sínodo. Acontece que Janson, superior geral da Fraternidade dos Pequenos Irmãos de Jesus, é um frade, mas não é um padre — ou seja, nunca foi ordenado sacerdote. Porém, aquele frade foi autorizado a votar. A autorização, inédita, levantou a pergunta óbvia: deixaria de ser preciso ser um sacerdote ordenado para votar no Sínodo?

Este ano, o critério mudou. As normas do Sínodo deste ano, dedicado à juventude, preveem que os religiosos (homens consagrados) que foram eleitos como delegados para o encontro em representação de ordens religiosas podem votar oficialmente. Mas o mesmo não aconteceu com as ordens religiosas femininas, que, aliás, nem elegeram representantes para o Sínodo. Importa aqui sublinhar que, à luz do Direito Canónico, frades e freiras têm exatamente o mesmo estatuto eclesial: são leigos especialmente consagrados, sem distinção de sexo. Porém, esta exceção permite que dois frades pudessem votar enquanto as freiras continuam sem voto.

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Afinal, porque não podem as mulheres ser padres?

Segundo o Crux, três líderes de congregações religiosas foram pressionados pelos jornalistas na conferência de imprensa diária da última segunda-feira para esclarecer porque é que apenas foi aberta uma exceção para os homens. “Os três superiores religiosos ficaram, essencialmente, sem palavras, e apenas responderam à pergunta após uma longa pausa”, sublinha a notícia do Crux. E, quando responderam, foi para repetir que as mulheres já têm vindo a assistir e a participar nos Sínodos desde a década de 80, como especialistas e observadoras.

O padre Marco Tasca, superior dos Franciscanos Conventuais — ordem a que os dois homens que vão poder votar este ano pertencem — argumentou que a Ordem Franciscana foi criada por um leigo (S. Francisco de Assis) e não por um sacerdote, como na maioria das outras congregações. Por isso, os franciscanos dão uma maior importância aos leigos e escolhem habitualmente homens não ordenados para lugares de liderança.

Os três líderes preferiram destacar a grande presença de mulheres no Sínodo, mas não como membros votantes. O padre Bruno Cadoré, superior dos frades dominicanos, destacou mesmo que “80% dos membros da vida consagrada da Igreja são mulheres“, e manifestou esperança num futuro em que o Sínodo dos Bispos queira ouvir a voz de todos os que trabalham “no cuidado pastoral, tendo em conta que oitenta por cento da vida consagrada é feminina”.

Contudo, a verdade é que apenas 10% dos participantes do Sínodo são mulheres, e todas elas foram escolhidas diretamente pelo Papa Francisco para estar presentes e colaborar. Nenhuma foi eleita como delegada por qualquer movimento da Igreja, não havendo por isso nenhuma mulher com direito de voto.

Papa institui comissão oficial para estudar o diaconado das mulheres na história da Igreja

A discussão é tão antiga como a própria instituição: qual é o lugar das mulheres na Igreja Católica, em que apenas os homens podem ser ordenados padres e bispos e, por conseguinte, chegar a lugares de poder? Porém, só recentemente têm surgido respostas concretas. Em 2016, o Papa Francisco instituiu uma comissão no Vaticano para estudar o diaconado das mulheres ao longo da história da Igreja. “Fazia bem à Igreja esclarecer este ponto“, disse na altura.

Ainda assim, quando confrontado com uma questão de um jornalista sobre quando haveria mulheres ordenadas na Igreja (no voo de regresso da visita à Suécia, onde celebrou com a arcebispa Antje Jackelén, primaz da Igreja Luterana sueca), foi taxativo: “Sobre a ordenação das mulheres, a última palavra, clara, é a de São João Paulo II, e ela permanece”. Referia-se a um documento de 1994 do Papa polaco, que determina que a ordenação está “exclusivamente reservada aos homens”.