As operações de resgate de Julen duram há mais de uma semana. Houve três planos diferentes na equação, todos comportavam riscos para o sucesso. Houve avanços e recuos, mas as autoridades espanholas optaram por escavar um túnel paralelo aquele em que se encontra a criança de dois anos, em Málaga, na zona de Totalán. Desde que se deu início aos trabalhos, já houve vários percalços que obrigaram a alterar o plano inicial e a adiar a data final da operação. Espera-se que a equipa de mineiros que vai resgatar a criança consiga fazê-lo na terça-feira. Mas qualquer previsão pode vir a ser alterada. “Não sabemos o que vamos encontrar”, avisou no primeiro dia o engenheiro que coordena o salvamento. Até agora, cada dia foi uma batalha feita de incertezas e superações. Agora, a busca por Julen aproxima-se do fim.

Dia 1 — Domingo, 13 de janeiro

A notícia apanha Espanha de surpresa. Uma criança de dois anos caiu num poço na Serra da Totalán, em Málaga, enquanto brincava com uma prima, um ano mais velha. O pai de Julen, o rapaz que viria a deixar o país em suspenso, estava por perto e viu-o cair pelo buraco. Rapidamente tentou socorrer o filho mas já não era possível resgatá-lo sem a ajuda das autoridades. Como o próprio relatou, primeiro à polícia e depois à imprensa, teve a certeza de que o bebé ainda estava vivo quando caiu. “Ouvi-o chorar“, garantiu.

[Veja no vídeo o cenário do resgate de Julen]

No próprio dia, as autoridades espanholas unem esforços para conceber os vários planos possíveis de resgate. A família recebe logo no dia apoio psicológico enquanto, no terreno, as autoridades tentam perceber a localização exata de Julen. Recorrendo a uma câmara, tentam alcançar a criança dentro do poço que, já se sabe então, tem 25 centímetros de diâmetro e 110 metros de profundidade. Mas não conseguem passar dos 70 metros debaixo do solo. Até lá, uma certeza: Julen estará soterrado mais abaixo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

https://observador.pt/videos/atualidade/camara-robotica-filmou-os-70-metros-do-poco-em-que-julen-caiu/

Dia 2 — Segunda-feira, 14 de janeiro

As buscas intensificam-se na esperança de se conseguir resgatar o rapaz com vida. No segundo dia de buscas, sabe-se que a polícia já analisa as primeira pistas: vestígios capilaresum saco de gomas, que Julen levava consigo quando caiu. Por esta altura, já se reduziram as várias possibilidades de resgate a três planos principais: extrair terra do buraco, cavar um segundo poço paralelo ou escavar a céu aberto o buraco em que se encontra a criança. Destas, a terceira é tida como a menos ideal, já que podia causar deslizamentos de terra que podiam comprometer os trabalhos de salvamento.

https://observador.pt/videos/atualidade/ha-tres-vias-para-resgatar-julen-e-todas-sao-complexas/

Opta-se pelo primeiro plano, mas, quando chegam aos 30 centímetros de profundidade, as equipas de resgate deparam-se com uma dificuldade no terreno, que se apresenta demasiado duro e rochoso para arriscar a continuação da extração de terra do poço. Esta será uma luta constante ao longo de toda a operação. Terão de seguir com o segundo plano e começar a escavar um buraco paralelo àquele em que Julen caiu.

Dia 3 — Terça-feira, 15 de janeiro

No terceiro dia de buscas, os detalhes do plano são revelados. O túnel adjacente terá uma profundidade de 60 metros. Quando estiver concluído, será escavado um túnel na horizontal para ligar os dois buracos. A expetativa é que esta ligação possibilite o resgate da criança de dois anos.

Por esta altura, já se fazem perfis sobre a família da criança. Sabe-se que os pais já perderam um outro filho em 2017 enquanto passeavam em família na praia. Um enfarte fulminante tirou a vida ao irmão mais velho de Julen, que tinha apenas três anos.

Neste dia, o dono da empresa de perfurações responsável pelo buraco no terreno de Málaga garante ter tapado a abertura com uma pedra que alguém terá retirado. Antonio Sánchez Gámez nega ter responsabilidades. Em declarações à imprensa, assegura que sela “sempre” as perfurações que faz “por uma questão de segurança”. “Se alguém, depois, não tivesse tirado a pedra, a criança não teria caído lá dentro”, diz.

“Alguém tirou a pedra, eu não tenho a culpa”. Responsável pelo poço de Málaga defende-se

Dia 4 — Quarta-feira, 16 de janeiro

“Encontrou-se um pouco de cabelo no túnel e as análises que se realizaram por parte da Guardia Civil certificaram que é do menino. Isso dá-nos uma certa certeza de que o menino está ali, neste poço“. A declaração das autoridades espanholas serve apenas de confirmação para o cenário que já era tido como certo: Julen está mesmo no poço. A esperança de encontrar o menino com vida não esmorece, vão garantindo as autoridades.

ADN confirma: encontrado cabelo de Julen no poço em Málaga

As autoridades vão recusando falar de prazos. O terreno apresenta-se muito rochoso e a dureza do solo tem dificultado a escavação. A expetativa é de que até ao final da semana ou até ao início da próxima seja possível alcançar Julen. No entanto, é cedo para fazer previsões. A perfuração do solo pode demorar mais do que isso e os vários contratempos que foram surgindo aconselham cautela a quem se quiser lançar em previsões.

Ao quarto dia, surge uma notícia nos jornais espanhóis que dá conta de que o menino de dois anos já foi encontrado. A notícia chega à imprensa nacional mas é prontamente desmentida pela polícia. A confusão deu-se porque os vestígios corporais encontrados no primeiro dia — os cabelos — são analisados e combinam com o ADN de Julen. As buscas prosseguem.

Dia 5 — Quinta-feira, 17 de janeiro

As equipas de resgate vão construir um furo paralelo ao poço onde as autoridades acreditam que Julen está soterrado. Apesar de já se tratar do quinto dia de buscas, as autoridades têm esperança de encontrar a criança ainda com vida. O presidente da Federação de Espeleologia de Andaluzia, José António Berrocal, garante ter “absoluta confiança” na possibilidade de Julen ser encontrado vivo.

É também neste dia que o Observador chega a Totalán e encontra o triciclo de Julen à porta de casa, no sítio em que o deixou. É tido como um símbolo de esperança entre os vizinhos. O símbolo de um milagre que todos esperam que venha a concretizar-se.

O triciclo de Julen ainda está à porta de casa. Os vizinhos rezam para que o venha buscar

Dia 6 — Sexta-feira, 18 de janeiro

As buscas avançam e as equipas de resgate acreditam que podem chegar em breve ao local em que estimam que esteja Julen. Apesar de as máquinas estarem a encontrar muita resistência ao tentarem escavar o túnel paralelo por o solo ser demasiado duro, é lançada uma chama de esperança.  É estabelecido um prazo otimista: talvez faltem menos de 24 horas para que os mineiros encontrem a criança.

A previsão veio a revelar-se demasiado precipitada no mesmo dia. A dureza do solo não permite que as escavações avancem de acordo com o esperado. Os meios envolvidos na operação não param de aumentar. Entre topógrafos, engenheiros, agentes da polícia, geólogos e mineiros contam-se mais de 100 pessoas. Surgem as primeiras críticas dos pais de Julen, que têm como destinatários os responsáveis com poder de decisão e não os que estavam diretamente envolvidos nas escavações no terreno. “Só me queixo de não terem sido fornecidos todos os meios possíveis de resgate no primeiro momento”, diz o pai à imprensa espanhola.

O que já foi feito e o que falta fazer: o resgate de Julen em 5 perguntas e respostas

Ao final do sexto dia de trabalho, a expetativa é conseguir encontrar Julen até segunda-feira, embora as previsões já não sejam assumidas oficialmente pelas autoridades ou pelos responsáveis técnicos.

Dia 7 — Sábado, 19 de janeiro

Depois de avaliados todos os riscos, arrancam as escavações para construir o furo paralelo que vai permitir estabelecer uma ligação com o poço onde está Julen. Quando as máquinas começam o trabalho de perfuração, o relógio marca as 15h45 locais (menos uma hora em Lisboa). O resgate irá durar, no mínimo, 35 horas. A chuva que cai sobre Totalán pode vir a dificultar os trabalhos. No cenário ideal, a criança será encontrada na segunda-feira.

Por volta das 21h00 locais, as operações estavam tão avançadas quanto as previsões tinham antecipado e o furo já tinha 20 metros de profundidade. Faltam quarenta metros mas o solo começa a apresentar-se cada vez mais rochoso e difícil de escavar. Começa a desenhar-se a possibilidade de o resgate vir a demorar mais de 48 horas.

O chefe da Proteção Civil de Málaga fala à imprensa para dar conta do bom andamento dos trabalhos e assegura que, apesar de as buscas já durarem há quase uma semana, o cansaço “não pesa”. O único objetivo para as autoridades é entregar Julen “aos seus pais o quanto antes”.

Dia 8 — Domingo, 20 de janeiro

No dia que se cumpre uma semana desde o desaparecimento de Julen a expetativa é grande. Mas também o é a cautela. Quando Totalán adormeceu havia uma pequena esperança de que a escavação do túnel horizontal, que simboliza o esforço final das buscas e o culminar de um calvário que seria sempre longo demais, pudesse começar neste domingo. A noite não foi fácil e a dureza do terreno voltou a atrasar os trabalhos.

Ainda assim, o túnel paralelo chegou aos 45 metros de profundidade. Falta pouco menos de metade para que se possa dar início à construção da galeria horizontal, a tal que será construída manualmente e que vai ligar os dois furos. Mas as rochas que as equipas foram encontrando durante a perfuração não permitem manter a previsão de conseguir chegar ao bebé de dois anos na segunda-feira. Este domingo vai ser inteiramente dedicado a tentar concluir o túnel paralelo para poder dar início à construção dessa ligação no dia seguinte, segunda-feira. Assim, Julen deve ser resgatado apenas na terça-feira.

Terreno continua sem facilitar: Julen pode ser resgatado apenas na terça-feira

Dia 9 — Segunda-feira, 21 de janeiro

O túnel paralelo deve ficar concluído esta segunda-feira. A escavação do túnel horizontal começará logo de seguida, depois de uma equipa de mineiros ser transportada para o fundo do buraco através de um elevador feito à medida para este resgate. As operações entram na reta final mas as ações que se seguem são delicadas.

A ligação entre os dois túneis vai ser escavada com as mãos e com recurso a picaretas. No limite, serão utilizados martelos pneumáticos. Mas a maquinaria não pode ir além destas ferramentas devido aos elevados riscos de desabamento de terras. A dureza do terreno e o facto de ser um trabalho sobretudo manual exige minúcia e tempo. Assim, estima-se que o grupo de escavadores destacado para o resgate de Julen demore cerca de 24 horas a conseguir estabelecer uma conexão entre os túneis paralelos. Esta operação só deve ficar concluída esta terça-feira.

Málaga. Elevador para resgatar o Julen já se encontra no local