A ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou esta sexta-feira no debate sobre o coronavírus no Parlamento que foi feito um reforço do call center da linha SNS 24 que torna possível atender “duas mil chamadas em simultâneo”, quando até agora a linha aguentava apenas o atendimento de 1200 chamadas ao mesmo tempo. Só na última quinta-feira a Linha SNS 24 recebeu mais de 40 mil chamada e foram registadas várias falhas, que foram algumas das principais preocupações dos partidos. Na resposta aos deputados, a governante rejeitou a ideia de que o governo acordou tarde, mas também deixou claro que não existe uma preparação total para o embate que se espera: “Não estivemos parados. Contudo, como todos os outros, tememos não estar preparados porque não depende só de nós.

Sobre os testes para o novo vírus, a ministra diz que foram “alargados os testes consoante a nova definição de caso”  e que “todos os equipamentos médicos disponíveis serão comprados pelo nosso país”, mas avisa que “serão criteriosamente utilizados” já que os tempos assim o exigem. A ministra garantiu também que irá o Serviço Nacional de Saúde vai continuar a reforçar “camas e ventiladores”.

A ministra da Saúde, Marta Temido, diz que antes de ser declarada epidemia “o sistema de saúde não esteve parado”. E fez uma enumeração sobre várias coisas feitas: “Repatriámos cidadãos de Whuan, ativámos laboratórios de referência, distribuímos kits, montámos sistema de reposição de stocks, preparámos orientações diversas, preparámos o plano de resposta, articulámos com outros ministérios, trocámos centenas de emails, lemos centenas de documentos. ”

Quanto às viagens, “as restrições tinham um efeito ilusório de nos proteger de um mundo cada vez mais global, passámos a acompanhar viajantes provenientes da China, depois de Itália, provavelmente teremos de pensar no mesmo sistema para outros passageiros de áreas afetadas”, afirmou. A ministra explicou também porque não isolou populações mais afetadas: “Há quem ache que devíamos ter limitado as viagens, que devíamos impedir que os cidadãos de Felgueiras ou Lousada tivessem menos acesso ao Portugal que não é de todos, não concordamos com isso”.

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PSD: “Cancelem tudo, fiquem em casa”

Os partidos quiseram obter garantias da ministra de que não iriam faltar camas, ventiladores, teste e meios para adquirir materiais na sequência da crise do coronavírus. “Temos de estar um passo à frente do vírus, é uma questão de vida ou de morte”, começa por dizer o vice-presidente da bancada do PSD, Ricardo Batista Leite. O social-democrata acrescentou: “Temos de garantir que há ventiladores para todos, Portugal não pode ser outra Itália. O Governo terá todo o nosso apoio para fazer isto”.

Para o deputado do PSD “Portugal está em estado de guerra contra o coronavírus“, destacando que “este não é um tempo de avaliação política, não é um tempo de debate entre partidos, temos de nos unir e apoiar de forma clara e inequívoca as medidas do Governo”. E fez um apelo à população: “Cancelem tudo. Cancelem a saída programa, o casamento, a festa, o batizado, cancele tudo e fique em casa. Porque ao ficar em casa está a atrasar o coronavírus, porque ao ficar em casa há mais uma cama para os nossos avós no hospital”. A intervenção do deputado do PSD foi aplaudida de pé pela bancada do PSD e por alguns deputados do PS.

CDS exigiu respostas à ministra

O CDS foi quem propôs o debate de atualidade no Parlamento sobre coronavírus, esgotando, como registou Telmo Correia “o único agendamento potestativo” a que tem direito. A deputada centrista Ana Rita Bessa questionou a ministra sobre como “será feito controlo de aeroportos” relativamente a quem vem de outros países com situações mais críticas. A deputada do CDS perguntou ainda o que está a ser feito para que “os transportes não sejam um foco de contágio”, que “em situações normais seriam”. Ana Rita Bessa advertiu que as “cadeias de contágio estão mais complexas” e que, por isso, as pessoas vão recorrer mais à Linha Saúde 24, que lembrou que está sobrecarregada e com várias falhas.

Também o líder parlamentar do CDS, Telmo Correia, fez várias perguntas à ministra da saúde, Marta Temido: “Pode o governo garantir que haverá testes para analisar todos os casos suspeitos?; “Pode o governo garantir que os profissionais de saúde têm os equipamentos necessários?; “Quantas camas teremos?”; “Que medidas foram tomadas para garantir que toda a disponibilidade de ventilação estará disponível?; Que garantias nos dá relativamente à Linha de Saúde 24? Não devíamos tomar medidas no controlo das fronteiras?” A ministra respondeu por atacado, no final, dizendo, de forma genérica, que o governo está a tentar reforçar todas as áreas. Só não se comprometeu com restrições nas fronteiras, que considera ineficazes.

PS avisa: “Cada família tem de ter um Plano de Contingência”

A líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, alertou para a “gravidade do momento requer a todos serenidade, mas também responsabilidade.” A deputada do PS enalteceu “as medidas que foram tomadas ontem” pelo governo e acrescenta que “podem até prejudicar o quotidiano de cada um de nós, mas são essenciais, adequadas, proporcionais e necessárias ao momento que aqui vivemos hoje”.

Para Ana Catarina Mendes “a melhor vacina que temos perante o desconhecido são a informação, a sensibilização, a precaução. Explicar às pessoas que não estamos perante uma situação qualquer, mas de exceção”. A líder da bancada do PS notou o quão “bom é estarmos no plenário e podermos dizer que somos dos países que têm um Serviço Nacional de Saúde”.  O PS fez questão de “enaltecer o grande consenso dos partidos com assento parlamentar na resposta a esta crise” e fez ainda um apelo às famílias: ” Cada família deve ter o seu plano de contingência. Saber exatamente o que fazer e o que não fazer.”

Bloco pede reforço do SNS e mais medidas “já”

Pelo Bloco de Esquerda o deputado Moisés Ferreira antecipou que “a pandemia provocada pelo novo coronavírus será uma batalha dura e prolongada”, sendo por isso necessário estar na “capacidade máxima, enquanto comunidade, de adotar as medidas de contenção e de saúde pública que dependem de cada uma e de cada um de nós” e também “enquanto país, de reforçar a resposta do SNS para cuidar de todos os que venham a ser infetados”.

Quanto ao reforço do Serviço Nacional de Saúde, o Bloco de Esquerda quer que esse reforço seja feito já, que não se espere pelo próximo Orçamento do Estado nem por mais nenhum dia — “tem de ser já”. “Nós sabemos que o Serviço Nacional de Saúde é um fator protetor da nossa população. Sabemos que estamos bem mais protegidos do que países que não têm um serviço público e universal como o nosso. Mas também sabemos que a tendência da epidemia é de crescimento rápido e, por isso, a resposta do SNS também deve crescer e rapidamente”, diz. Para os bloquistas, é preciso tomar mais medidas “já” enquanto é tempo, e não depois quando “já for difícil responder”.

Entre as medidas propostas pelo Bloco de Esquerda estão: “Mobilização imediata dos profissionais de saúde reformados para, entre outras coisas, reforçar a Linha SNS24, a Linha de Apoio ao Médico e o acompanhamento das pessoas sob vigilância”; “requisição de profissionais, meios e instalações ao setor privado para reforçar o número de profissionais e a capacidade de internamento e de prestação de cuidados do Serviço Nacional de Saúde”; “autonomia das instituições públicas de saúde para contratar profissionais e comprar materiais conforme as necessidades sem depender de uma cascata de autorizações”; “limitação das exportações de equipamentos de proteção individual.”

PCP:”Contexto não pode ser pretexto para atacar o SNS”

Tal como o Bloco, o PCP lembra o que aconteceria se não fosse o Serviço Nacional de Saúde. A deputada Paula Santos afirmou que o “Serviço Nacional de Saúde é essencial para combater o surto” e lembrou que “se não existisse o SNS e estivesse nas mãos do setor privado, o estado estaria refém dos grupos privados”. Os comunistas lembraram lembra que as seguradoras de saúde “vieram logo a público dizer que os seguros não cobriam as condições do surto.” Se não existisse SNS, aqueles que tinham seguro seriam assim, deixados “à sua sorte”.

O PCP insistiu no que já tinha defendido no último debate quinzenal: “A agilização da contratação, remover todos os condicionalismos para contratação de equipamentos de proteção e medicamentos; e agilizar procedimentos para a contratação de profissionais de saúde”.

PEV diz que “tempo não é dinheiro”, PAN quer conferências de imprensa em todos os canais públicos

O Partido Ecologista “Os Verdes”, através do deputado José Luís Ferreira,  avisou que “o tempo não é dinheiro, o tempo é vida e com a vida não podemos facilitar”. A deputada do PAN, Bebiana Cunha, exigiu que o governo garantisse que a informação sobre o vírus chegue a todos. Para o PAN é necessário “informar de forma ampla toda a população” e ao mesmo tempo que essa mensagem “seja compreendida por todas as pessoas independentemente” do nível de escolaridade.

Bebiana Cunha defende que, para garantir que a informação, é necessário as conferências de imprensa promovidas pelo governo passem em todos os canais públicos: “Se pretendemos que todas as pessoas tenham acesso a informação atualizada, porque só têm sido transmitidas as conferências de imprensa do governo transmitidas na RTP3 e Antena 1? Devem passar em todos os canais públicos”.

Cotrim fala em 1500 casos, Ventura quer fechar fronteiras

Já João Cotrim Figueiredo recorreu a números trabalhados por ele para caracterizar a doença. O deputado e líder da Iniciativa Liberal explivou que a taxa de mortalidade nos serviços de saúde é habitualmente de 1%, que sobe para 4% se os serviços de saúde entrarem em rutura. Também segundo os seus números, o número real de infetados em Portugal não é de “78” como dizia ontem a DGS mas já deve ser “não menos do que 1500”. Nas contas do deputado do IL, chegaremos à rutura dos serviços de saúde em “20 dias” se nada fosse feito. Com as medidas restritivas do Governo anunciadas ontem “chegaremos à rutura em 24 dias”. Ou seja, “só ganhámos 4 dias: não é suficiente”. “Cada hora conta. É preciso coragem”, diz.

Quanto ao deputado do Chega, André Ventura, insistiu que as medidas tomadas pelo Governo são “tardias” e pretenderam mais “salvaguardar o clima económico do que a saúde dos portugueses”. E voltou a sugerir que o país faça controlo fronteiriço: “Não tenham medo de controlar as fronteiras, se não fizermos hoje vamos lamentar não ter feito”.