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"Um grande contador de histórias", de um "grande ativismo". As reações à morte de Luis Sepúlveda

Este artigo tem mais de 4 anos

O escritor chileno morreu esta quinta-feira, aos 70 anos. Estava internado há quase dois meses num hospital em Oviedo, Espanha. Tinha sido diagnosticado com Covid-19 depois de ter estado em Portugal.

Luis Sepúlveda deixa uma obra extensa, composta sobretudo por fábulas e romances curtos
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Luis Sepúlveda deixa uma obra extensa, composta sobretudo por fábulas e romances curtos

ANDRE MARQUES / OBSERVADOR

Luis Sepúlveda deixa uma obra extensa, composta sobretudo por fábulas e romances curtos

ANDRE MARQUES / OBSERVADOR

Cerca de dois meses depois de ter sido diagnosticado com Covid-19, Luis Sepúlveda morreu esta quinta-feira no hospital onde estava internado em Oviedo, em Espanha. Tinha 70 anos. O escritor chileno tinha sentido os primeiros sintomas em Portugal, onde esteve no final de fevereiro para participar no festival literário Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim. Foi o primeiro caso do novo coronavírus confirmado na região das Astúrias, onde vivia, na localidade de Gijón.

Com quase toda a sua obra publicada em Portugal e uma presença assídua nos festivais literários nacionais, foram muitos os escritores portugueses que travaram amizade com o “Lucho”, como gostava de ser tratado, e que numa primeira reação à sua morte recordaram o “grande contador de histórias” e o homem combativo e ativista que, no final dos anos 70, depois de Augusto Pinochet subir ao poder, se viu obrigado a deixar o seu país para sempre.

Morreu Luis Sepúlveda, o escritor do exílio e das fábulas mágicas

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José Eduardo Agualusa: Luis Sepúlveda “era um grande contador de histórias”

O escritor angolando José Eduardo Agualusa disse, numa curta reação na Rádio Observador, estar “chocado” com a morte de Luis Sepúlveda. “Ainda era muito jovem, é um choque muito grande”, afirmou.

“Era um grande contador de histórias, um escritor que trouxe muita gente para a literatura. Trouxe muitas pessoas comuns para a literatura”, sublinhou o escritor angolano, descrevendo o chileno como “uma pessoa muito divertida” e de um “grande ativismo”.

José Luís Peixoto: um homem e escritor “generoso na escrita e na vida, combativo, sonhador, resistente”.

José Luís Peixoto disse também ter recebido com “choque” a noticia do “desaparecimento” do escritor chileno, lembrando o homem “generoso na escrita e na vida, combativo, sonhador, resistente”.

“Recebo com choque a notícia do desaparecimento deste amigo. E passam-me pela cabeça estes quase vinte anos de encontros em várias partes do mundo, também as histórias partilhadas depois dos jantares na sua casa, em Gijón. As histórias dele, ainda no Chile ou já na Europa, eram sempre as mais incríveis”, recordou o escritor português num depoimento partilhado pela Porto Editora e na sua página de Facebook.

José Luís Peixoto assinalou que Luis Sepúlveda era “amado pelos leitores e pelos amigos”, considerando que este é o “melhor prémio” que pode ter “um escritor e um homem como ele, generoso na escrita e na vida, combativo, sonhador, resistente”. “Lucho era o nome pelo qual gostava de ser tratado pelos amigos. Por isso, agora, não consigo chamar-lhe outro nome. Querido Lucho.”

Francisco José Viegas despede-se do “amigo”: “Ao fim de quase dois meses, um adeus anunciado”

O editor literário e antigo secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas publicou no Twitter uma homenagem ao escritor Luis Sepúlveda, seu amigo. “Tratávamo-nos por «el gordito» um ao outro. Isto assim não está bem. Ao fim de quase dois meses, um adeus anunciado”, escreveu Viegas.

Manuela Ribeiro, da organização do Correntes d’Escritas: “Despedimo-nos, como sempre, com um abraço. Recuso-me a aceitar que foi o último”

Num testemunho prestado à Porto Editora, Manuela Ribeiro, da organização do Correntes d’Escritas, contou como conheceu o escritor chileno no festival literário da Póvoa de Varzim e como ficaram amigos. “Despedimo-nos, como sempre, com um abraço, nas últimas Correntes. Recuso-me a aceitar que foi o último. Não foi. O nosso abraço será para sempre”, afirmou.

Admitindo que o “Lucho” foi e será sempre “uma inspiração”, Manuela Ribeiro declarou que “jamais” esquecerá “a sua generosidade. Na Literatura como na vida. O Lucho é um dos meus imortais”.

Lídia Jorge: “Luis Sepúlveda é um contador maior. Os seus livros são joias preciosas”

A escritora Lídia Jorge, também num testemunho prestado à Porto Editora, recordou o primeiro contacto que teve com a obra de Luis Sepúlveda, em Bruxelas, em 1991, por intermédio da editora Anne Marie Métailié. “O meu entusiasmo não era menor do que o de Anne-Marie. Nesse segundo encontro, que aconteceu no dia seguinte, Anne -Marie já tinha decidido. Durante aquela noite, tinha começado uma aventura maravilhosa no mundo da edição. Luis Sepúlveda iria transforma-se num dos escritores mais queridos das últimas décadas”, contou.

Para Lídia Jorge, o que torna a escrita de Sepúlveda “tão singular e atraente” tem a ver com o “testemunho de uma experiência de vida vivida no fio da navalha que lhe deu a dimensão dos movimentos subterrâneos que determinam a mudança do mundo, e por isso o seu olhar é político. E uma ternura absoluta pelos seres da Terra que lhe permite uma efabulação fantástica em que pássaros, cães, baleias, confraternizam com os seres humanos no mesmo reino da Criação. Por isso as páginas de Luis Sepúlveda, escritas para auditórios de todas as idades, estão repletas de fábulas ora violentas ora mansas, mas sempre tocadas por uma singular arte de contar”.

“Luis Sepúlveda é um contador maior”, considerou ainda a escritora, acrescentando que “os seus livros são joias preciosas, marcados pela terra sul-americana que lhe deu origem, pela língua espanhola que lhe deu a plasticidade vigorosa da narrativa, e sobretudo pelo cunho de criador incomum, que lhe permite ser traduzido e amado em todas as línguas”.

Miguel Barrero, diretor da Fundação Municipal de Cultura de Gijón: “De certeza que está a ensinar as gaivotas a voar”

O escritor e diretor da Fundación Municipal de Cultura, Educación y Universidad Popular de Gijón, Miguel Barrero, lembrou no Twitter que Luis Sepúlveda se instalou na localidade asturiana nos anos 90, “convertendo-se num dos nossos”. “De certeza que está a ensinar as gaivotas a voar”, disse, referindo-se a uma das obras mais famosas do escrito chileno, História do gato e da gaivota que o ensinou a voar.

Também no Twitter, Pilar del Río lembrou o apoio a Salvador Allende, o exílio, o regresso e a forma como Sepúlveda, “um grandíssimo escritor”, culto, que tinha “mais de mil amigos” e um riso que transbordava, foi “acumulando pátrias”. A Fundação José Saramago, que Pilar dirige, partilhou na mesma rede social uma fotografia do escritor chileno junto de José Saramago e uma carta que este último lhe dirigiu data de 6 de janeiro de 2011, salientando a relação de “amizade, solidariedade, camaradagem” dos dois autores.

Porto Editora lembra o “carinho do público português” pelos romances de Sepúlveda

A Porto Editora, responsável pela publicação das obras de Sepúlveda em Portugal, manifestou “o mais profundo pesar pelo falecimento” do autor. “O escritor chileno tem a sua obra editada em Portugal pela Porto Editora e era presença assídua na Feira do Livro de Lisboa, em sessões de autógrafos onde era bem visível o carinho do público português pelos seus romances”, lê-se num comunicado divulgado esta quinta-feira.

“Luis Sepúlveda esteve presente em quase todas as 21 edições do Festival Correntes d’Escritas, na Póvoa do Varzim, a última das quais entre 18 e 23 de fevereiro de 2020. A 29 de fevereiro foi diagnosticado com a doença Covid-19, naquele que seria o primeiro caso de infeção nas Astúrias, e consequentemente internado no Hospital Universitário Central de Astúrias, onde veio a falecer, aos 70 anos de idade”, referiu a editora.

“À família e aos amigos de ‘Lucho’ (como carinhosamente era tratado) e a todos os seus leitores endereçamos as mais sinceras e sentidas condolências por tão grande perda”, termina a nota da Porto Editora.

Em declarações à rádio Observador, Paulo Gonçalves, responsável pela comunicação da Porto Editora, salientou a obra “excecional”, que conquistou e vai continuar a conquistar “muitos milhares de leitores no nosso país. Havia e continua a haver uma legião de leitores, de fãs, de Luis Sepúlveda em Portugal. Havia de facto uma relação muito especial entre ‘Lucho’, como era tratado pelos mais próximos, e os leitores portugueses. Uma relação única, genuína, de grande efetividade”, salientou o responsável.

“A relação entre Lucho e os leitores era única”

O escritor João Tordo também reagiu à morte do escritor. No Facebook, dirigiu os seus “mais sinceros pêsames” à família e garantiu que a obra de Sepúlveda “continuará entre nós”.

Marcelo lamenta a morte de Luis Sepúlveda: “Pelo escritor que era, pelas circunstâncias que bem conhecemos, e porque era um amigo de Portugal.”

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a notícia da morte de Luis Sepúlveda. “Pelo escritor que era, pelas circunstâncias que bem conhecemos, e porque era um amigo de Portugal.”

Descrevendo o autor como um “chileno empenhado, militante, apoiante de Salvador Allende, também jornalista, guionista, ecologista e viajante”, Marcelo apontou que,” além dos romances e novelas (livros breves, claros, pícaros, alegóricos)”, Sepúlveda deixou “vários testemunhos dos seus combates e do seu pensamento crítico”.

“Amplamente traduzido em Portugal, visita habitual do nosso país, o seu desaparecimento é especialmente sentido pelos portugueses, sentimento a que me associo, apresentando as minhas condolências à sua mulher, a escritora Carmen Yáñez”, disse ainda Marcelo, numa nota publicada no site da Presidência da República.

Catarina Martins: “Hoje é um dia triste”

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, partilhou no Twitter uma imagem da sua edição de O velho que lia romances de amor, um dos livros mais famosos de Sepúlveda, confessando tê-lo lido “há muitos anos” e ter regressado a ele “algumas vezes”. “Continuarei a voltar. Hoje é um dia triste”, disse Catarina Martins, enviando os seus “sentimentos à família” do escritor.

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