Mais dinheiro e durante mais tempo. O Banco Central Europeu (BCE) anunciou esta quinta-feira que vai aumentar em 600 mil milhões de euros o volume de compra de dívida no âmbito do programa de apoios de emergência anunciado em março para fazer frente aos efeitos da pandemia de Covid-19.

No total, este programa – que se chama Pandemic Emergency Purchase Programme (PEPP) – ascende agora a 1,35 biliões de euros. O PEPP é o principal programa de urgência do BCE destinado a apoiar as economias dos 19 países da Zona Euro, muito afetadas pela crise do novo coronavírus.

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Mais, a entidade informou igualmente que o Conselho de Governadores também decidiu prolongar a duração do PEPP, “pelo menos até final de junho de 2021”. Até agora, a entidade liderada por Christine Lagarde tinha dito que apenas compraria dívida no âmbito deste plano até final o ano.

Desde finais de março que o BCE tem vindo a comprar dívida da zona do euro para manter acessíveis as condições de financiamento dos países que integram a moeda única. Até 29 de março, o BCE adquiriu dívida no valor de 234,6 mil milhões de euros, dos quais 186,6 mil milhões em dívida pública.

Na prática, este programa consiste na compra aos bancos de dívida pública (títulos de dívida soberana), privada ou outros ativos financeiros, pagando-a com dinheiro acabado de criar. Isso ajuda a baixar as taxas de juro nas maturidades mais longas, impedindo que os efeitos da pandemia “sequem” o financiamento necessário para que economia funcione.

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O novo programa de compra de dívida do BCE tem uma característica que o distingue de outros instrumentos anteriores. É mais flexível, pelo que o banco central europeu pode comprar mais dívida de um determinado país caso os seus juros da dívida disparem no mercado. “Estas compras vão continuar a realizar-se com flexibilidade ao longo do tempo, com diferentes tipos de ativos e entre jurisdições”, reiterou esta quinta-feira o banco central.

Estas compras também enviam sinais aos mercados financeiros de que o BCE está determinado em garantir que as taxas de juro se mantêm baixas em toda a eurozona e em garantir que os custos de pedir emprestado aos mercados por parte de governos mais endividados – o caso mais premente é o de Itália – não disparam.

O BCE diz que estas compras não se destinam especificamente a apoiar a Itália, mas até ao momento comprou muito mais dívida italiana do que a de outros países e tem vindo a receber reconhecimento por ter contido a enorme pressão que se fez sentir sobre a Itália, inicialmente um dos países mais atingidos pela pandemia (Espanha e Reino Unido, entretanto, já levam essa palma).

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O confinamento em Itália vai ter um enorme custo em receita fiscal, bem como despesa adicional destinada a apoiar o lento retomar da economia transalpina. Isto num país que já tem uma dívida pública superior a 135% do seu PIB. Quaisquer dúvidas neste momento por parte dos investidores quanto à capacidade da Itália de pagar poderia dar início a uma espiral de custos (o preço que custa a cada país para ir aos mercados buscar dinheiro) cada vez mais elevados. E isso poderia resultar numa crise financeira que levou – há quase uma década – aos resgates da Grécia e, mais importante, de Portugal, de Espanha e também da Irlanda.

Por outro lado, o BCE apresentou as previsões macroeconómicas que sustentam a decisão de aumentar o programa de compra de dívida, bem como a de manter a principal taxa de juro em 0%.

E as previsões não são boas. O banco central espera agora uma recessão profunda na zona euro em 2020 provocada pela crise sanitária, seguida de uma recuperação progressiva, mas a inflação ficará longe do seu objetivo pelo menos até 2022.

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A zona euro regista “uma queda brutal da atividade económica devido à pandemia de coronavírus e às medidas para a conter”, resumiu Christine Lagarde numa conferência de imprensa que se seguiu à reunião do Conselho. O banco central espera uma queda de 8,7% do PIB da Zona Euro em 2020, antes de uma recuperação de 5,2% em 2021 e de 3,3% em 2022.

Mas estas previsões estão ainda sujeitas a uma “grande incerteza”. Para a presidente do BCE, tanto a contração como a recuperação “dependem da duração e da eficácia” das medidas de confinamento, das medidas de relançamento e do apoio ao emprego, bem como do “impacto duradouro” da pandemia de Covid-19 na procura. Estas projeções macroeconómicas são as do cenário base do BCE, sendo que as do cenário severo indicam que o PIB da Zona Euro pode cair até 12,6% este ano.