A notícia boa é: as empresas portuguesas preveem contratar mais e despedir menos no próximo trimestre do que previam no trimestre passado, ou seja, estão mais otimistas. A notícia má é: em comparação com o ano passado, as perspetivas de contratação pioraram.

Vamos aos números: 11% dos empregadores antecipa aumentar a sua força de trabalho nos meses de outubro, novembro e dezembro e 9% prevê despedimentos. Resultado? Um aumento de 2% na projeção para a criação líquida de emprego. É certo que, no trimestre passado, a percentagem de empresas que tencionavam contratar não era assim tão diferente (10%), mas a percentagem daquelas que previa despedir era muito maior do que a atual (19%) — o que significava que a projeção para a criação líquida de emprego era negativa, um mínimo histórico. Assim, houve uma uma recuperação de 11 pontos percentuais face ao trimestre anterior em relação às perspetivas de contratação. No entanto, diminuíram oito pontos quando comparadas com as do mesmo período do ano passado.

As conclusões são do estudo “ManpowerGroup Employment Outlook Survey”, que inquiriu 440 empregadores sobre quais as alterações que preveem fazer para os próximos três meses, e a partir do qual é possível concluir que a grande alteração diz respeito aos despedimentos e não tanto às contratações. As empresas estão mais otimistas quanto às pessoas que estimam despedir — que são menos  —, mas continuam cautelosas quando às intenções de contratar novas — que será feito a um ritmo lento.

Setor público antecipa mercado forte. Construção prevê o mercado mais fraco desde há quatro anos

O setor público é aquele que antecipa um mercado de trabalho mais forte, com o maior aumento nas intenções de contratação: uma projeção de mais 12% — que contrasta com o pessimismo do setor da construção, com menos 9%. Em relação ao setor das finanças e serviços, o mais otimista, “os planos de contratação melhoram acentuadamente em relação ao trimestre anterior, aumentando em 31 pontos percentuais”. Ainda assim, a tendência mantém-se: o cenário melhora, mas não chega aos valores pré-pandemia. No setor público, há uma diminuição de oito pontos percentuais na comparação com o período homólogo do ano anterior.

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Na escala de otimismo, depois do setor público — que ocupa o 1.º lugar do pódio — surge a categoria de outras atividades de serviços com uma projeção de mais 8%. Segue-se o comércio grossista e retalhista, setor em que os empregadores avançam uma projeção de mais 5% de contratações — o que “traduz uma subida de 15 pontos percentuais face ao período anterior, mas uma redução de quatro pontos percentuais na comparação com o quarto trimestre de 2019”. Por fim, no setor de outras atividades de produção, o setor agrícola com uma projeção de mais 2% de contratação e o setor do fornecimento de eletricidade, gás e água com mais 3%.

O setor agrícola permanece estável na comparação com o trimestre anterior e com o período homólogo de 2019, ao mesmo tempo que o setor do Fornecimento de Eletricidade, Gás e Água regista uma evolução de 6 pontos percentuais com respeito ao período de julho a setembro, diminuindo de 7 pontos percentuais face ao trimestre homólogo de 2019″, lê-se no estudo.

Do lado dos setores mais pessimistas, é o da construção a levar a taça. “Neste último trimestre de 2020, o setor da Construção antecipa o mercado de trabalho mais fraco desde que o estudo começou, há quatro anos”, lê-se no estudo. Os empregadores estimam uma projeção de menos 9% na criação líquida de emprego — menos três pontos percentuais do que no trimestre anterior e 25 em relação ao mesmo período do ano passado.

Restauração e Hotelaria. Quase duas em cada cinco empresas preveem despedir no verão

Não tão pessimista, mas igualmente pessimista está o setor da restauração e hotelaria que antecipa uma criação líquida de emprego de menos 8%.

As intenções de contratação melhoram 21 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior, mas são 21 pontos percentuais mais fracas na comparação com o mesmo período de 2019″, indica o estudo.

Quando ao setor da indústria, espera-se “pouco ativo” de outubro a dezembro, já que os empregadores preveem uma criação líquida de emprego de 0%. As intenções de contratação são, ainda assim, mais fortes que as declaradas para o trimestre anterior e para o mesmo período do ano passado, aumentando 12 e 2 pontos percentuais, respetivamente”, lê-se.

Empresas do Centro e Norte estimam contratar mais. As do sul preveem despedir mais

Os empregadores da região Sul anteveem o mercado de trabalho regional mais fraco, mas Centro e Norte antecipam um aumento nas contratações nos próximos três meses, com uma projeção de mais 8% e mais 3% respetivamente. Já no Sul é esperada uma redução da força de trabalho com uma projeção de menos 9%. “Quando comparamos com o trimestre anterior, os planos de contratação são consideravelmente mais fortes em duas das três regiões analisadas”, conclui o estudo. São as regiões do Centro com mais 16 pontos percentuais em relação ao último trimestre e o Norte com uma melhoria de 12 pontos percentuais. “Já na região Sul as perspetivas de contratação diminuem em 5 pontos percentuais”, indica o estudo.

Na comparação com o último trimestre de 2019, as intenções de contratação são mais pessimistas nas três regiões, e em especial no Sul, que cai 11 pontos percentuais. Nas restantes regiões, as perspetivas diminuem em oito pontos percentuais no Norte e cinco pontos percentuais no Centro”, indica.

Na Grande Lisboa é antecipado um crescimento da força de trabalho com uma projeção de mais 4%: “Os planos de contratação são 19 pontos percentuais mais fortes que no terceiro trimestre de 2020, mas caem 6 pontos percentuais em relação ao último trimestre de 2019”. Pior está o Grande Porto a prever um “mercado de trabalho pouco ativo”, com uma projeção líquida de emprego de mais 2% — 11 pontos percentuais mais forte em relação ao trimestre anterior, mas 11 pontos a menos do que no mesmo período do ano passado.

Quanto à dimensão das empresas, “as grandes e médias empresas declaram os planos de contratação mais sólidos, com uma projeção para a criação líquida de emprego de mais 6%, enquanto que a projeção para as pequenas empresas é de +4%. Contrariamente, as microempresas antecipam uma redução na sua força de trabalho, relatando uma perspetiva de menos 3%”, indica o estudo.