Marisa Matias volta a ser a candidata presidencial apoiada pelo Bloco de Esquerda e na apresentação da recandidatura teve apenas profissionais da “primeira linha de combate à Covid-19 na assistência”, nas cerca de 20 cadeiras distribuídas pelo Largo do Carmo em Lisboa. Ninguém da direção do BE que a apoia mas que deixou essa presença para a apresentação oficial. A candidata coloca-se como a candidata contra o medo: “Venho a esta campanha para mostrar que não pode haver medo“.

“Estou aqui para dizer que serei candidata à Presidência da República”. Foi assim que começou a sua intervenção onde explicou as razões da sua candidatura afirmando ser “candidata frente a frente com Marcelo Rebelo de Sousa. É o Presidente em funções e sei bem das diferenças com o passado” — e com quem tem diferenças também (ver em baixo). Também em direção a Marcelo posiciona-se como alguém que não terá “o voto dos mandatários das fortunas”, mas sim “dos jovens trabalhadores que não aceitam empobrecer nesta segunda crise das suas vidas”.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Há cinco anos, em novembro de 2015, Marisa Matias estreou-se nesta corrida e ficou em terceiro lugar, com 459 mil votos (10,12%), atrás de Marcelo Rebelo de Sousa, o vencedor dessas eleições, e de Sampaio da Nóvoa. O lema de Marisa Matias na campanha de 2015 foi “Uma por todas” e o seu discurso de apresentação de candidatura muito focado nas diferenças face ao candidato da direita, Marcelo, e nos riscos que essa ala política tinha trazido para a Constituição durante quatro anos de governação PSD/CDS. Nessa altura, a geringonça estava em pleno processo de formação e a esquerda estava prestes a acordar posições conjuntas inéditas com o PS para a governação do país.

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Desta vez surge como a candidata que vem à campanha “afirmar respeito e solidariedade com quem está aflito com a crise” para “mostrar que não pode haver medo. O medo é que nos destrói, é o que torna um país pequeno e submisso, que provoca divisões, racismo, ódios e divisões. O medo divide, a República une”. Nas entrelinhas do seu discurso está o já candidato André Ventura. Mas nas linhas esteve Marcelo Rebelo de Sousa, ainda não recandidato mas o único citado diretamente como rival. Por defender um “regime político e assente em mais do mesmo” e um regime financeiro “que se foi esvaindo em privatizações e negócios”, enquanto a sua candidatura quer “uma banca pública e de confiança” e um Serviço Nacional de Saúde de qualidade para todos”.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Na plateia estava um trabalhador de recolha de lixo, uma trabalhadora de limpezas, um enfermeiro, um médico, uma técnica superior de diagnóstico (e dirigente sindical), uma cuidadora informal, um microempresário, uma voluntária de centros de apoio a sem-abrigo durante a pandemia, um cientista, uma trabalhadora da cultura, um estudante, um maquinista, uma professora, um trabalhador da indústria, um carteiro, um bombeiro e um vigilante da Autoridade para as Condições do Trabalho. “Gente que olhou o medo nos olhos e foi à luta” durante a pandemia, segundo a recandidata presidencial.

Com esta apresentação informal — sem o partido presente — e rápida (uma declaração curta, de cerca de dez minutos), o BE conseguiu antecipar-se à apresentação de outra candidatura à esquerda, a de Ana Gomes — que se apresenta na corrida esta quinta-feira.