O ultranacionalista Fidesz, o partido do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, vai abandonar o Partido Popular Europeu (PPE). Orbán bate assim com a porta depois de o PPE ter aprovado medidas que permitem a suspensão ou até expulsão de partidos-membros, como o Fidesz.

A decisão foi avançada no Twitter por Katalin Novák, a vice-presidente do Fidesz. “Não deixaremos que os nossos eurodeputados sejam silenciados ou limitados na capacidade de representarem os nossos eleitores. Combater a pandemia e salvar vidas continua a ser a nossa prioridade número um. Por isso, após a adoção das novas regras no grupo parlamentar do PPE, o Fidesz decidiu deixar o grupo”, disse Novák.

Na publicação, pode ver-se uma carta assinada por Orbán, onde o primeiro-ministro húngaro informa que o Fidesz vai abandonar o grupo parlamentar do PPE e critica o que diz ser uma tentativa de “silenciar” os eurodeputados do partido. “Enquanto centenas de milhares de Europeus estão hospitalizados e os nossos médicos estão a salvar vidas, é extremamente dececionante ver que o grupo do PPE está paralisado pelos seus problemas administrativos internos e tenta silenciar e incapacitar os nossos eurodeputados eleitos democraticamente”, refere Orbán.

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As alterações às regras do PPE “são claramente uma jogada hostil contra o Fidesz e os nossos eleitores. Limitar a capacidade de os nossos eurodeputados levarem a cabo as suas responsabilidades como membros eleitos do Parlamento Europeu priva os eleitores dos seus direitos democráticos. Isto é antidemocrático, injusto e inaceitável”, aponta. “Os eurodeputados vão “continuar a falar por quem representam, os eleitores, e a defender o melhor interesse do povo húngaro”, conclui.

Em causa está uma reforma nos estatutos, que foi aprovada esta quarta-feira de manhã pelo PPE, com uma maioria de 84,1%. O Fidesz acabou por se antecipar e sair do grupo parlamentar, mas se não o tivesse feito, a suspensão dos eurodeputados do partido servia votada dentro de semanas.

Paulo Rangel, vice-presidente do PPE, apela à presidência portuguesa que “vá mais longe”

À Rádio Observador, Paulo Rangel salienta a votação expressiva “de 84% dos deputados do Partido Popular Europeu, o que revela que os líderes políticos têm mão neste processo”, aproveitando para perguntar a “António Costa e a Augusto Santos Silva, que têm a presidência do Conselho, o que é que vão fazer para sancionar a Hungria?”. Para Paulo Rangel, os órgãos europeus têm capacidade de ativar o “artigo 7º, que pode suspender o pagamento de fundos, e que nunca foi aplicado”.

[Ouça aqui a reação de Paulo Rangel à Rádio Observador]

“Costa e Santos Silva devem ir mais longe nas sanções à Hungria”

O eurodeputado social-democrata recorda ainda que “o PSD sempre esteve na linha da frente para a saída do Fidesz” e “quando se abriu o processo de exclusão, Rui Rio foi um dos primeiros a subscrever a saída de Viktor Orban”, num processo que envolveu 14 países.

O Fidesz já estava suspenso desde março de 2019 do PPE devido a posições consideradas antieuropeias e contra os direitos fundamentais, mas a decisão teve poucos efeitos práticos. A rutura é agora consumada.