O ultranacionalista Fidesz, o partido do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, vai abandonar o Partido Popular Europeu (PPE). Orbán bate assim com a porta depois de o PPE ter aprovado medidas que permitem a suspensão ou até expulsão de partidos-membros, como o Fidesz.
A decisão foi avançada no Twitter por Katalin Novák, a vice-presidente do Fidesz. “Não deixaremos que os nossos eurodeputados sejam silenciados ou limitados na capacidade de representarem os nossos eleitores. Combater a pandemia e salvar vidas continua a ser a nossa prioridade número um. Por isso, após a adoção das novas regras no grupo parlamentar do PPE, o Fidesz decidiu deixar o grupo”, disse Novák.
We will not let our MEPs be silenced or limited in their capacity to represent our voters. Tackling the pandemic and saving lives remains our number one priority. Therefore, following the adoption of new rules in the @EPPGroup, #Fidesz has decided to leave the Group. pic.twitter.com/WSx1PmtKQ8
— Katalin Novák (@KatalinNovakMP) March 3, 2021
Na publicação, pode ver-se uma carta assinada por Orbán, onde o primeiro-ministro húngaro informa que o Fidesz vai abandonar o grupo parlamentar do PPE e critica o que diz ser uma tentativa de “silenciar” os eurodeputados do partido. “Enquanto centenas de milhares de Europeus estão hospitalizados e os nossos médicos estão a salvar vidas, é extremamente dececionante ver que o grupo do PPE está paralisado pelos seus problemas administrativos internos e tenta silenciar e incapacitar os nossos eurodeputados eleitos democraticamente”, refere Orbán.
As alterações às regras do PPE “são claramente uma jogada hostil contra o Fidesz e os nossos eleitores. Limitar a capacidade de os nossos eurodeputados levarem a cabo as suas responsabilidades como membros eleitos do Parlamento Europeu priva os eleitores dos seus direitos democráticos. Isto é antidemocrático, injusto e inaceitável”, aponta. “Os eurodeputados vão “continuar a falar por quem representam, os eleitores, e a defender o melhor interesse do povo húngaro”, conclui.
Em causa está uma reforma nos estatutos, que foi aprovada esta quarta-feira de manhã pelo PPE, com uma maioria de 84,1%. O Fidesz acabou por se antecipar e sair do grupo parlamentar, mas se não o tivesse feito, a suspensão dos eurodeputados do partido servia votada dentro de semanas.
Paulo Rangel, vice-presidente do PPE, apela à presidência portuguesa que “vá mais longe”
À Rádio Observador, Paulo Rangel salienta a votação expressiva “de 84% dos deputados do Partido Popular Europeu, o que revela que os líderes políticos têm mão neste processo”, aproveitando para perguntar a “António Costa e a Augusto Santos Silva, que têm a presidência do Conselho, o que é que vão fazer para sancionar a Hungria?”. Para Paulo Rangel, os órgãos europeus têm capacidade de ativar o “artigo 7º, que pode suspender o pagamento de fundos, e que nunca foi aplicado”.
[Ouça aqui a reação de Paulo Rangel à Rádio Observador]
“Costa e Santos Silva devem ir mais longe nas sanções à Hungria”
O eurodeputado social-democrata recorda ainda que “o PSD sempre esteve na linha da frente para a saída do Fidesz” e “quando se abriu o processo de exclusão, Rui Rio foi um dos primeiros a subscrever a saída de Viktor Orban”, num processo que envolveu 14 países.
O Fidesz já estava suspenso desde março de 2019 do PPE devido a posições consideradas antieuropeias e contra os direitos fundamentais, mas a decisão teve poucos efeitos práticos. A rutura é agora consumada.