O investigador sueco Jonas Ludvigsson, do Instituto Karolinska, já era alvo de críticas por causa dos estudos que tinha publicado a defender a estratégia sueca para manter as escolas abertas. Agora, uma cidadã sueca, Bodil Malmberg, acusa-o de ter manipulado os dados sobre o impacto da pandemia nas crianças, noticia a Science Magazine.

Na carta publicada na revista científica New England Journal of Medicine, Ludvigsson e os co-autores relatam a análise dos casos de internamento em unidades de cuidados intensivos e mortes por Covid-19 na comunidade escolar, entre 1 de março e 30 de junho de 2020.

Os investigadores dizem que 15 crianças, 10 educadores do pré-escolar e 20 professores do ensino básico estiveram nos cuidados intensivos e que nenhuma criança morreu devido à Covid-19 neste período. Por outro lado, revelam que nestes quatro meses morreram 69 crianças, comparável com as 65 que tinham morrido entre novembro de 2019 e fevereiro de 2020.

Bodil Malmberg recorreu à lei sueca para conseguir ter acesso aos emails trocados entre Ludvigsson e o epidemiologista sueco responsável pela estratégia de resposta à pandemia no país, Anders Tegnell. Já antes o investigador tinha usado “comunicações pessoais” do epidemiologista como referência num artigo científico (ou seja, dados não publicados nem registados).

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Na correspondência, Jonas Ludvigsson pedia ajuda a Tegnell para justificar o excesso de mortes nas crianças entre os sete e os 16 anos que tinha detetado. De 2015 a 2019, a média de mortes entre crianças nessas idades, de março a junho, era de 30,4, em 2020 foi de 69 — mais 68%. E o normal seria que o investigador tivesse comparado períodos idênticos.

É possível que este excesso de mortes seja fruto do acaso ou de outros motivos não relacionados com a Covid-19, diz o epidemiologista Jonas Björk, da Universidade de Lund. Mas a verdade é que não havia política de testagem das crianças na Suécia, nem avaliação sistemática dos surtos nas escolas, o que deixa um grande vazio de informação.

Entre as principais críticas a Jonas Ludvigsson e ao facto de defender que as escolas se mantenham abertas é que as análises não foram além do impacto nas próprias crianças, em vez de incluírem a transmissão na comunidade, que poderia dar um contexto mais realista da evolução da pandemia.