A variante britânica (B.1.1.7) apresenta um índice de transmissibilidade (Rt) superior à variante que dominava o Reino Unido antes do surgimento da nova variante, conclui uma equipa britânica no artigo científico publicado na Nature. Os autores estimam que a B.1.1.7 atingiu uma frequência de 50% em Inglaterra menos de três meses depois de ter aparecido, mas o confinamento parece ser eficaz a diminuir a transmissão.

“Há um consenso entre todas as análises de que a variante de preocupação [B.1.1.7] tem uma vantagem substancial na transmissão, com um número de reprodução [Rt] 50% a 100% maior [do que a variante existente]”, escreve a equipa de Erik Volz, do Imperial College de Londres.

A variante B.1.1.7 estava, durante o mês de novembro, concentrada na região de Londres e este e sudeste de Inglaterra, mas desde meados de janeiro que está distribuída em todo o país.

A boa notícia, segundo os investigadores, é que o número de reprodução da variante B.1.1.7 diminuiu de dezembro para janeiro, durante o período em que as medidas de confinamento e contenção do vírus foram mais duras em Inglaterra. Mais, não só os contactos com outras pessoas diminuem, como os contactos dentro do agregado familiar aumentam. Esta “saturação nas probabilidades de transmissão pode levar a uma redução nas vantagens de transmissão da variante de preocupação”, sugerem os autores.

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A presença da nova variante e o aumento durante o mês de novembro foi detetado quando se notou também um aumento das falhas nos testes PCR. A variante tem uma mutação que provoca uma falha na identificação dos casos positivos nos testes. A presença deste erro passou a ser usado como forma de identificar a presença de B.1.1.7 — e o mesmo é feito em Portugal.

A análise dos resultados dos testes PCR, e dos respetivos erros, e a sequenciação genética (leitura dos genes do vírus) feita para alguns casos permitiu perceber que a transmissibilidade da variante B.1.1.7 não é diferente entre escalões etários, mas surgiu mais vezes entre jovens do que as variantes anteriores.

Os alunos do secundário, entre os 11 e os 18 anos, apareceram sobre-representados entre os casos positivos observados (9%), tendo em conta a proporção na população, e a diferença entre os casos da variante de preocupação e as restantes “foi estatisticamente significativa durante três semanas de novembro”, reportaram os investigadores. Ou seja, a nova variante foi mais frequente durante estas semanas, neste grupo etário, do que as variantes anteriores.

Os investigadores destacam, no entanto, que neste período, 5 de novembro a 2 de dezembro de 2020, a Inglaterra esteve sujeita ao confinamento, mas as escolas permaneceram abertas, logo “as crianças estavam em maior risco de infeção por todas as variantes quando comparadas com os adultos”.

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A variante B.1.1.7 tem várias mutações importantes nos genes que guardam a mensagem para a construção da proteína spike, incluindo a N501Y que permite que a proteína do vírus se ligue melhor às células humanas e P618H, importante para a entrada do vírus nas células que revestem o trato respiratório.