A diretora-geral da Saúde avisou esta sexta-feira que a pandemia de Covid-19 ainda não terminou e tem diferentes velocidades em diversos locais do globo, insistindo na importância de se cumprirem as medidas de proteção. Miguel Castanho, do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa, também apelou para que as medidas se mantenham, com o aproximar do inverno e do Natal.

“Por muito que gostássemos que fosse assim, a pandemia não acabou, está em curso a diferentes velocidades em diferentes partes do globo, mas não terminou. As medidas de proteção genéricas que estão em vigor desde inicio da pandemia devem ser seguidas de forma voluntária e com autoresponsabilização de todos”, afirmou à Lusa Graça Freitas, apontando o uso de máscara e a ventilação dos espaços.

“Recomendamos no interior o uso de máscara, [porque] é um método barreira (…), assim como o arejamento das instalações”, exemplificou, acrescentando: “como abrirmos a sociedade promovemos mais contactos entre as pessoas e, portanto, há que ter cautelas e a principal é continuar a vacinação”.

Sobre o alerta da Organização Mundial de Saúde, que na quinta-feira se mostrou preocupada com o acelerar do aumento de novos casos sobretudo na Europa, Graça Freitas apontou os três cenários em cima dos quais as autoridades nacionais trabalham:

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OMS preocupada com ritmo de progressão da pandemia na Europa

“O primeiro é aquele em que a vacina se manteria efetiva, por um período muito longo e tudo estaria estabilizado, o cenário dois é aquele em que sabemos que alguns perdem imunidade, com um aumento do número de casos sem repercussões na gravidade, é entre o um e o dois que Portugal está (…), e um terceiro cenário, mais grave, em que pode aparecer uma variante que consiga escapar ao sistema imunitário construído” quer com a vacina, quer com a infeção, explicou.

A responsável lembrou que “há muitos casos em todo o mundo e muito potencial para o vírus sofrer mutações e aparecerem outras variantes”, sublinhando: “é preciso estarmos atentos e fazer sempre tudo o que pudermos para controlar este vírus”.

“O que agora podemos fazer é ter bons sistemas de vigilância, os cidadãos usarem os métodos proteção e vacinar os elegíveis”, disse Graça Freitas, insistindo: “É preciso muita atenção. A pandemia não acabou e pode aparecer uma variante nova. Temos de estar preparados”.

Na quinta-feira, a OMS avisou que a situação da pandemia de Covid-19 na Europa é “muito preocupante” e apontou a cobertura insuficiente de vacinas e o relaxamento de restrições para explicar o aumento de casos nas últimas semanas.

Inverno e Natal tornam inevitáveis medidas de proteção, garante investigador

O investigador Miguel Castanho considera inevitável que, com a evolução da pandemia na Europa, a chegada do Inverno e o aproximar do Natal, se mantenham algumas medidas de proteção contra a Covid-19 e reforcem outras.

Em declarações à agência Lusa a propósito do alerta da Organização Mundial de Saúde, que se manifestou preocupada com o acelerar dos novos casos nalguns países da Europa, o especialista lembrou que “qualquer circunstância em que haja multiplicação acelerada e descontrolada do vírus aumenta a probabilidade de aparecer uma nova variante”.

Diz que não é automático que tal variante escape à proteção conferida pelas vacinas, mas admite que há esse risco: “Não quer dizer automaticamente que vá aparecer uma variante que escapa às vacinas, mas é um risco. Não quer dizer que seja uma fatalidade, mas quando deixamos vírus multiplicar-se livremente (…) criamos uma situação propícia a esse perigo”.

O investigador do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa admite que a Europa, com o ritmo de crescimento dos novos casos nalguns países, conjugado com taxas mais baixas de vacinação, “pode contribuir para esse risco”, mas lembra que o continente europeu não está numa situação homogénea.

“Há países numa situação muito difícil, como os do leste e alguns do Centro da Europa, e outros ainda numa situação relativamente boa, como Portugal. Mas, claro que, fazendo parte da mesma comunidade, estes países não podem garantir que vão continuar nessa situação boa, pois estão expostos â circulação das pessoas”, afirmou.

O especialista considera inevitável que se tenham de manter algumas medidas de proteção, reforçando eventualmente outras, sobretudo com o aproximar do Inverno e do Natal, quando a mobilidade das pessoas e os contactos aumentam.

“Vimos no Natal passado que este período é especialmente propicio a contágios e à propagação do vírus. Não estamos na mesma situação, e não voltaremos a viver a mesma situação em termos de intensidade porque coincidiu com a entrada da variante do Reino Unido e porque já temos uma população bastante vacinada, mas é preciso atenção”, considerou.

O investigador insiste que é preciso aprender com o passado, sobretudo por causa das condições climatéricas e da cultura de Natal, em que há maior mobilidade e contactos entre as pessoas. “E isto é propicio à propagação do vírus e a contágios”, insiste.

“Mesmo tendo a população vacinada, sabemos que as vacinas não impedem por completo o contágio e a transmissão e é expectável que a situação epidémica piore no Natal”, acrescentou.

Miguel Castanho sublinha que as vacinas são eficazes ao evitar a doença grave e a hospitalização, mas lembra que o chamado “Covid longo” é um problema “de dimensões consideráveis”.

“Se muita gente adoece, ainda que com formas mais leves ou moderadas da doença, estamos a arriscar a que muitos sofram ao longo de vários meses ou anos as sequelas do vírus e isso também tem custos”, lembra, sublinhando: “Não podemos corre esse risco”.

Face ao aproximar do Inverno e do Natal, Miguel Castanho defende que se devem reconsiderar algumas medidas de proteção individual, designadamente o uso de máscara sempre que se contacte com outras pessoas.

“Estamos com parâmetros de incidência semelhantes a junho e numa situação que já vimos disparar e ser o início de uma fase em que as coisas pioram, mesmo estando mais vacinados”, alertou.

Sobre as doses de reforço, Miguel Castanho é prudente e defende que “faz sentido acelerar a análise dos dados de modo a que se perceba se a terceira dose, a de reforço, é necessária para todos faixas etárias ou não”.

“Não devemos avançar para a terceira dose indiscriminadamente. Temos de perceber primeiro que faixas etárias beneficiam. É preciso ver se a lógica que se aplica aos maiores de 80 anos também se aplica a outras faixas etárias”, concluiu.

A Covid-19 provocou pelo menos 5.020.845 mortes em todo o mundo, entre mais de 248,03 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 18.184 pessoas e foram contabilizados 1.094.048 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.