Inês Sousa Real começou o debate a atacar a opção do Bloco de Esquerda na votação do Orçamento do Estado, mas esqueceu-se que há várias áreas em que o PAN  e o Bloco se tocam e rapidamente ficou sem argumentos para contrariar Catarina Martins. Sousa Real acabou a admitir as óbvias convergências sem conseguir fugir a todas as tentativas de colar o PAN à direita que a líder do Bloco fez ao longo do debate.

A primeira intervenção do debate coube a Sousa Real que acusou o Bloco de “estender a passadeira vermelha aos partidos de extrema-direita e à direita liberal” considerando que o Bloco “faltou aos portugueses” . Na resposta, Catarina Martins acusou o PAN de dar à mão à direita e pressionou o PAN: “É preciso ser claro”.

Descartando a acusação do PAN, passando a culpa para o PS que “quis chegar à maioria absoluta”, Catarina Martins “estranhou” que o PAN tenha trazido para o debate a extrema-direita quando não afasta um eventual acordo com a direita.

“Se queremos salvar o SNS, e eu quero e acho que também quer, é preciso ser claro. Dar a mão à direita é o que o PAN tem feito quando diz que pode viabilizar o Governo”, atacou a líder do Bloco que forçou Sousa Real a clarificar que o partido que lidera “não está disponível para tudo”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“O PAN é um partido progressista, não se confunda isso com o facto de estarmos a dizer que vamos viabilizar todo e qualquer governo”, disse Sousa Real notando que uma das linhas vermelhas do PAN é o Chega.

E com Catarina Martins a insistir na colagem à direita — tentando pressionar o PAN a uma tomada de decisão que não saiu –, lá chegaram à convergência de ideias. Exceção feita (e sublinhada) à taxa de carbono e à proposta do Rendimento Básico Incondicional, onde concordaram em discordar, PAN e BE concordam, por exemplo, no alívio fiscal no IRS e IVA da energia.

Com Catarina Martins a pressionar Inês Sousa Real com a disponibilidade para acordos à direita, a líder do PAN ainda lembrou os dois votos contra a proposta da taxa de carbono que o PAN apresentou na Assembleia da República, mas Catarina Martins respondeu com o argumento dos mais desfavorecidos, que seriam prejudicados pela medida e Sousa Real voltou a ficar desarmada no combate com a opositora à esquerda com quem, afinal, ainda pode disputar algum eleitorado.

O diálogo mais revelador

Catarina Martins: O Orçamento não resolvia nenhuma das questões em que estamos de acordo…

Inês Sousa Real: Resolvia algumas das questões em que estamos de acordo, sim.

Catarina Martins: Há um problema quando tentamos ter uma ficção de que tanto faz termos a esquerda como a direita na emergência climática. Nós estamos num carro que está a ir para o abismo e a direita quer acelerar porque representa os interesses das indústrias poluentes, que não querem mudar o sistema.

Inês Sousa Real: E quem tem apresentado propostas para acabar isso tem sido o PAN, na Assembleia da República…

Catarina Martins: Pois, mas quando o PAN diz que até pode fazê-lo com a direita… Enfim, fará o quê?