Joe Rogan até pediu desculpas, mas o Spotify acabou por remover 113 episódios do seu podcast, este domingo, depois da utilização de um termo considerado racista. A Bloomberg diz que o pedido partiu do próprio comediante, depois de consultar o serviço de streaming. “Se tenho que explicar que não sou racista, é porque fiz asneira”, afirmou o dono de um dos podcast mais populares em todo o mundo.

Polémico, o comediante acusado de espalhar desinformação sobre a pandemia de Covid-19 no seu podcast “The Rogan Experience”, disponível no Spotify, está de novo debaixo de fogo. Desta vez, como contam vários órgãos de comunicação social como o The Guardian, pediu desculpas por, no passado, ter utilizado um termo inglês racista (a “N-word“, a “palavra com N”, em português, como é intitulada por vários jornais para que o termo real não tenha de ser referido).

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Em causa está uma montagem de um vídeo que foi partilhado no Instagram pela cantora India Arie, uma das várias artistas que, juntamente com Neil Young e Joni Mitchell, fez um boicote ao Spotify por esta plataforma transmitir o podcast, que terá adquirido por cerca de 89 milhões de euros em 2020. No vídeo, aparecem vários excertos — mais de 20 — em que Rogan usou a tal “n-word” no programa. Segundo Arie, o comediante tem um discurso feito em “torno da raça”.

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Joe Rogan, na sua conta de Instagram, reagiu dizendo: “Estou a fazer este vídeo para falar sobre a coisa mais lamentável e vergonhosa que já tive que falar publicamente”. E continuou: “Há um vídeo que saiu, que é uma compilação de mim a dizer o n-word. É um vídeo feito de clipes tirados fora de contexto, de há 12 anos, de conversas no meu podcast, e está tudo misturado, e parece horrível, mesmo para mim”, adiantou também.

Sei que para a maioria das pessoas não há contexto em que uma pessoa branca possa dizer essa palavra, muito menos publicamente num podcast, e eu concordo com isso”, afirmou Rogan.

Segundo o comediante, em vários dos clipes estava a citar outras pessoas que disseram a palavra, não estando o próprio a utilizar o termo. E justifica-se: “Não digo isso há anos, mas durante muito tempo, quando alguém dizia essa palavra, como se surgisse numa conversa, em vez de dizer ‘a palavra com n’, apenas dizia a palavra”.

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Noutro dos exemplos, onde se infere que Rogan terá comparado negros a macacos através de uma alusão do filme “Planeta dos Macacos”, o comediante também se justifica. “Estava a contar uma história no podcast sobre como eu, o meu amigo Tommy e a sua namorada ficámos drogados, estávamos em Filadélfia e fomos ver ‘Planeta dos Macacos’”. “Não sabíamos para onde estávamos a ir, apenas fomos deixados por um táxi e fomos deixados num bairro de negros”, continua. Depois, o comediante afirma que para tentar “tornar a história divertida” disse: “Era como se estivéssemos na África, como se estivéssemos no planeta dos macacos”. Porém, de acordo com Rogan, a alusão que fez não era para associar os negros aos macacos, dizendo de seguida que tinha dito “algo que soava a racismo” e, consequentemente, apagou o episódio.

Apesar das justificações, Rogan afirmou: “As minhas sinceras e mais humildes desculpas. Gostaria que houvesse mais que pudesse dizer.”

Desde que começou a polémica com Joe Rogan que o Spotify passou a incluir um aviso em “qualquer episódio de podcast que inclua uma discussão sobre a Covid-19″ e tem retirado várias das emissões publicadas da plataforma. Ao todo, o podcast tem 11 milhões de assinantes.

No domingo, Rogan já tinha reagido às críticas sobre ter alegadamente incentivado que os mais jovens não fossem vacinados contra a Covid-19, tendo alegadamente também promovido o uso de um medicamento para tratar a doença provocada pelo coronavírus que não foi aprovado para o efeito. “O meu compromisso para convosco é que darei o meu melhor para tentar equilibrar estes pontos de vista controversos com a perspetiva de outras pessoas, para que possamos encontrar uma melhor perspetiva”, prometeu.

Devido a estas polémicas, o presidente executivo do Spotify, Daniel Ek, anunciou a introdução de novas regras para combater a desinformação na plataforma. “Temos tido regras em vigor durante vários anos, mas reconheço que não temos sido transparentes sobre as linhas que orientam de forma geral os nossos conteúdos”.

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Assim, o Spotify divulgou que, entre outras normas — como o aviso em cada podcast –, vai publicar e atualizar regularmente as regras da plataforma; acrescentar um aviso em relação ao tipo de conteúdo no caso de podcasts que promovam discussões em relação à Covid-19 (direcionando os utilizadores para links com conteúdo produzido por autoridades de saúde de todo o mundo, à semelhança do que faz o Facebook ou Instagram); e procurar meios para destacar as regras da plataforma tanto para os ouvintes como para os produtores de conteúdo.

(Artigo atualizado a 6 de fevereiro com a notícia da remoção de mais de 100 episódios do podcast de Joe Rogan)