Quarta-feira, 16 de novembro, 20h em Portugal e no Reino Unido. A primeira parte da entrevista de Piers Morgan a Cristiano Ronaldo foi finalmente transmitida na íntegra depois de dias de pequenos excertos e vídeos partilhados nas redes sociais. A grande questão? Quase tudo o que Cristiano Ronaldo disse na versão integral já tinha saído nos pequenos excertos e nos vídeos partilhados nas redes sociais.

O capitão da Seleção Nacional começou por referir que decidiu dar esta entrevista porque sentiu que estava “na hora de dizer alguma coisa” e recordou depois o verão de 2021, quando decidiu deixar a Juventus e regressar ao Manchester United. “Estive muito perto do City. O Guardiola disse ainda há duas semanas que tentaram muito ter-me. Mas, como se sabe, a minha história começou no United. O meu coração, o meu sentimento, fizeram a diferença. E, claro, também Sir Alex Ferguson. Fiquei surpreendido por tudo, de alguma forma, mas foi uma decisão consciente. O coração falou mais alto naquele momento”, acrescentou, detalhando depois a conversa que teve com o antigo treinador escocês.

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“Ferguson foi a chave, fez a diferença naquele momento. Mas não seria leal dizer que não estive perto do City. Foi uma decisão consciente e não me arrependo, como já disse. Falei com Sir Alex Ferguson antes e ele disse-me que era impossível ir para o City. E eu disse ‘ok, boss’. Tomei a decisão e, repito, foi algo consciente. Foi uma boa decisão”, explicou Ronaldo, que não esqueceu o “sentimento extraordinário” que foi voltar a Old Trafford mas não esconde que ficou surpreendido — pela negativa — com a falta de evolução do Manchester United.

Quando assinei pensei que tudo tinha mudado, tinham passado 13 anos desde que tinha saído. Pensei que tudo seria diferente, a tecnologia, as infraestruturas, mas fiquei surpreendido de forma negativa. Vi que estava tudo na mesma. Solskjaer foi demitido e foi tudo muito rápido, havia muita instabilidade no clube. Parece que o clube parou no tempo e isso foi algo que eu não esperava. A saída de Sir Alex Ferguson deixou um grande buraco no clube. Eu sabia que o Manchester United não era o mesmo mas não sabia que a diferença era assim tão grande”, explicou o capitão da Seleção Nacional, noutro excerto que também já tinha sido revelado.

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Mais à frente, fez uma comparação entre o clube inglês e os outros dois emblemas que representou, Real Madrid e Juventus. “No Manchester United, o progresso foi zero. Comparar ao Real Madrid e à Juventus, que seguem a tecnologia em termos de treino, nutrição, condições para recuperar os jogadores… O Manchester United está atrás do Real Madrid e da Juventus nesses aspetos, infelizmente. Espero que nos próximos anos possam lá chegar”, concluiu o capitão da Seleção Nacional.

Ainda sobre o Manchester United, Ronaldo recordou o período em que Ole Gunnar Solskjaer foi o treinador, ainda na época passada. “Desde que Sir Alex saiu que não houve evolução. Como é que um clube como o Manchester United, depois de despedir Solskjaer, traz um diretor desportivo como o Ralf Rangnick para treinador? Nem sequer é treinador e isso foi algo que me surpreendeu. Foi uma decisão ridícula, tenho de ser honesto. Como é que não és treinador e treinas o Manchester United? Não foi a decisão certa para chegar ao sucesso. Ninguém tinha ouvido falar do Ralf Rangnick, ninguém sabia quem ele era”, começou por dizer.

“Chamava-lhe treinador, sim, respeitava-o. Mas, lá no fundo, nunca o vi como o meu treinador. Via coisas com as quais não concordava. Ele estava parado no tempo. Não gosto de treinadores que chegam e pensam que são a última Coca-Cola do deserto”, acrescentou.

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“Ele não sabia o que estava a fazer. Conhecia o clube muito bem mas não tinha noção da história e da dimensão do Manchester United. Quando despedes o Solskjaer tens de contratar um treinador de topo, não um diretor desportivo! Penso que deviam ter dado mais tempo ao Solskjaer. Foi uma ótima experiência trabalhar com ele, apesar de ter sido pouco tempo”, garantiu o avançado português.

Piers Morgan questionou Cristiano Ronaldo sobre os jogadores que mais admira no Manchester United. E Cristiano Ronaldo escolheu… Um português. “Pergunta difícil mas diria o Dalot. É muito profissional e não tenho dúvidas de que vai ter uma carreira longa. É inteligente, trabalha muito. Mas há mais alguns, como o Lisandro Martínez e o Casemiro”, afirmou, comentando depois a atitude dos jogadores mais jovens.

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“Têm tudo de forma mais facilitada mas a mentalidade é diferente. Ouvem as coisas por uma orelha e sai pela outra. Lembro-me de que quanto tinha 18, 19 anos, procurava aprender sempre com os melhores jogadores, o Giggs, o Van Nistelrooy, o Roy Keane. E foi por isso que tive o sucesso que tive, aprendi com os melhores. Não sou muito de dar conselhos, gosto mais de dar o exemplo. Estou lá todas as manhãs, sou o primeiro a chegar e o último a sair, os detalhes falam por mim. Gosto de liderar pelo exemplo. Alguns seguem-me, não muitos. Mas outros não, não querem saber. Mas isso é algo que não me surpreende”, defendeu Ronaldo.

Noutro excerto que também já tinha sido divulgado, Cristiano Ronaldo aborda a recente morte de um dos filhos gémeos durante o parto. “Foi a pior fase da minha vida desde que o meu pai morreu. Foi duro. Eu e a Georgina passámos por momentos muito difíceis. Porquê a nós? Não percebíamos. E o futebol não parou, muitas competições… Passar por isto, nessa fase, foi a fase mais difícil da minha vida. Foi muito duro. Foi a primeira vez que me senti feliz e triste ao mesmo tempo. Não sabia se sorria ou chorava. Foi uma grande confusão de sentimentos. As cinzas estão comigo, tal como as do meu pai, e vou guardá-las para sempre. Estão ao lado do meu pai, numa pequena capela que temos em casa. Se falo com eles? Sim, a toda a hora”, recordou o jogador.

Sobre as reações à tragédia, Ronaldo assume que não estava à espera da homenagem dos adeptos do Liverpool e revela que recebeu uma carta da Família Real britânica. “Não esperava que os adeptos do Liverpool cantassem assim. Recebi uma carta da Família Real, fiquei muito surpreendido, foi inacreditável. Respeito imenso o povo inglês, têm sido fantásticos comigo. Foi espetacular a forma como me trataram nessa altura. Muito obrigado”, indicou.

“Foi muito difícil mas, como sempre, tive o apoio da minha família. A Georgina mandou-me ir jogar e ajudou-me a esquecer um pouco a situação. Treinos, jogos, Seleção Nacional… Não há um minuto para parares e pensares no que está a acontecer mas foi bom. Ajudou-me”, terminou o avançado.

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