O Partido Nacional Escocês (SPN) está a enfrentar um período conturbado desde que, em julho de 2021, a polícia nacional abriu uma investigação às suas finanças. No novo capítulo da Operação Branchform, como é conhecida, as autoridades detiveram Nicola Sturgeon, ex-primeira-ministra escocesa e antiga líder da força partidária. Mas afinal o que está em causa na investigação que já levou à detenção e interrogatório de três membros do partido e levou à apreensão de uma caravana de luxo da sogra de Sturgeon?

Tudo começou com os esforços do SPN para angariar fundos para uma campanha sobre a realização de um referendo sobre a independência da Escócia. Através de vários apelos o partido angariou, entre 2017 e 2020, mais de 600 mil libras, o equivalente a cerca de 680 mil euros, para a sua causa. No entanto, os anos seguintes viriam a mostrar que os donativos dos apoiantes não se refletiam do mesmo modo nas contas do SPN.

Ex-primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon libertada. “Estou inocente”, garante

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Segundo a Sky News, alguns apoiantes começaram a questionar-se sobre o destino dos fundos angariados quando foi revelado que, em 2019, o SPN tinha apenas cerca de 97.000 libras no banco e um total de 272.000 libras em ativos. Por volta da mesma altura, em que começavam a chegar questões incómodas, o partido recebia a notícia da demissão do tesoureiro nacional. Depois de apenas alguns meses no cargo, Douglas Chapman apresentava a sua resignação, alegando não ter recebido informações suficientes para cumprir as suas funções.

Os problemas continuaram a somar-se e a polícia começou a receber queixas formais sobre o SNP. Com os problemas financeiros à vista, Peter Murrell, marido de Nicola Sturgeon e na altura presidente executivo do SPN, viria a fazer um empréstimo de 107.620 libras. O objetivo, como recorda a Sky News, era ajudar com os problemas monetários.

Detenções e interrogatórios

No âmbito da Operação Branchform a polícia escocesa já fez três detenções temporárias e interrogatórios. O primeiro alvo foi Peter Murrell, detido a 5 de abril, já depois de ter renunciado ao cargo de presidente executivo que manteve durante duas décadas. As autoridades revelaram que em causa estava a investigação do dinheiro angariado para a campanha sobre o referendo da independência e, no mesmo dia, confiscaram a autocaravana de luxo da mãe de Murrell.

De acordo com o The Telegraph o veículo, avaliado em cerca de 125 mil euros, tinha paredes de feltro “para uma acústica suave”, uma cozinha expansível, prateleiras elétricas, luz de ambiente e um chuveiro que “desaparece”. O SPN já confirmou que gastou em 2021 80,632 libras em veículos novos, no entanto não indicou se estava incluída a caravana de luxo em nome da mãe de Murrell.

Marido da ex-primeira-ministra da Escócia libertado pela polícia após 12 horas de interrogatório

O marido de Nicola Sturgeon foi libertado depois de 12 horas de interrogatório, no que foi descrito como um “dia difícil” para o partido pelo primeiro-ministro escocês e líder do SPN, Humza Yousaf. Mas o caso não ficou por aí e no dia 18 do mesmo mês a polícia viria a deter e interrogar Colin Beattie, tesoureiro do SPN.

O responsável pelas finanças do partido garantiu que iria cooperar com as autoridades e, na sequência da detenção, decidiu mesmo abandonar o cargo até ao fim da investigação. Na altura assumiu que queria “evitar ser uma distração” no trabalho de Yousaf para “melhorar a governação e transparência” no partido.

Quase dois meses depois a polícia escocesa voltou a sua atenção para Nicola Sturgeon, que foi detida e interrogada ao início da manhã de domingo. Durante a tarde a antiga governante viria a ser libertada, garantindo ser inocente. “Encontrar-me numa situação como a deste domingo quando estou certa de que não cometi nenhum crime é chocante e profundamente perturbador”, escreveu num comunicado publicado no Twitter.

Para já a polícia escocesa não fez nenhuma acusação formal. Segundo a BBC, o próximo passo da investigação passa pelo envio de um relatório da polícia para o Crown Office and Procurator Fiscal Service (COPFS), a Procuradoria Geral da Escócia. Os procuradores vão então avaliar se existem provas suficientes que apontem para um crime e se os suspeitos são ou não responsáveis. Por agora a polícia disse apenas que, por se tratar de uma investigação em curso, não fará mais comentários.