A Conferência Nacional do CNRT, vencedor das eleições legislativas timorenses de maio, aprovou esta segunda-feira por unanimidade uma coligação com o Partido Democrático (PD), terceira força política, para a formação do IX governo.

“Normalmente, depois das eleições sempre nos reunimos para ver o que ocorreu, o porquê disto e daquilo. Hoje, por exigência da lei reunimo-nos para tomar a decisão de irmos ou não com coligação. Depois do debate, todos, unanimemente disseram que sim à coligação”, afirmou à Lusa Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) e futuro primeiro-ministro..

A curta Conferência Nacional é um dos passos formais no processo de formação do governo, com Xanana Gusmão a explicar que o partido está ainda em conversações com o PD relativamente à distribuição de pastas.

“Ainda estamos em contactos com o pessoal do partido, mas também com o PD para vermos o que vamos fazer”, confirmou.

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Relativamente à presidência do Parlamento Nacional – que deverá ser votada no inicio da próxima semana – Xanana Gusmão recordou que “normalmente o partido que tem maioria no parlamento assume a presidência. Não é obrigatório, mas é o que ocorre normalmente”.

O futuro primeiro-ministro, que assumirá o cargo oficialmente a 1 de junho, disse que o executivo que vai liderar tem uma lista “enorme” de coisas para fazer, “muita coisa mesmo”, remetendo os detalhes para a apresentação do programa, em julho. E, ainda sem avançar dados do executivo, quer organigrama quer dimensão, deixou antever que deverá ser integrado por elementos mais experientes, tendo em conta o que o CNRT pretende fazer.

“Se fosse uma situação de continuidade do que fizemos, de 2012 e 2016, poderíamos estar a pensar em preparar [ministros inexperientes]. Agora é preciso corrigir tudo, repor as coisas“, disse.

Sobre o relacionamento com o chefe de Estado, José Ramos-Horta, Xanana Gusmão considerou que é positivo no “sentido de repor a lei, a legalidade constitucional e todas as formalidades exigidas do Estado de direito democrático”.

“O Estado está hoje muito mais enfraquecido, e é preciso recuperar o Estado. Fizemos uma análise, e foi por causa disto que o povo votou em nós. O povo quer continuar o que foi feito e corrigir o que foi mal feito”, disse.

O novo executivo timorense, que toma posse a 1 de julho, terá no início do seu mandato uma agenda intensa, com compromissos nacionais e internacionais, a possível revisão do orçamento de 2023 e as contas públicas para 2024.

Um dos primeiros passos depois da tomada de posse será a aprovação da orgânica do governo, documento que poderá ser concluído cerca de uma semana depois, permitindo que seja posteriormente concluído e aprovado o programa governamental.

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O programa tem de ser apresentado ao Parlamento Nacional até um mês depois da tomada de posse, com o regimento a prever o máximo de cinco dias de debate, sendo que o documento não é votado, exceto se for apresentada uma moção de rejeição. Crucial para a implementação do programa é a eventual apresentação de um Orçamento Geral do Estado (OGE) retificativo, o que segundo responsáveis do CNRT, é “o mais provável”.

Caso o governo avance com o retificativo, a proposta poderá chegar já ao parlamento até meados de agosto, com pelo menos três semanas de consultas, debates e depois votação e aprovação, a que se seguirá a promulgação pelo Presidente.

O governo poderá ainda aprovar a Lei das Grandes Opções do Plano (LGOP) e terá, depois, que iniciar a preparação do OGE para 2024, sendo que a proposta deve dar entrada no parlamento a 01 de outubro para que o processo possa estar concluído antes do final do ano, evitando assim o recurso a duodécimos no início de 2024.

Entre outras prioridades definidas para os primeiros 100 dias, Agio Pereira referiu ainda o que considera serem outros temas a tratar com urgência, como a emissão de documentos pessoais, e fornecimento de medicamentos ao Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV).

Paralelamente a todos os passos que marcam o arranque do mandato do executivo, nos próximos meses estão ainda em cima da mesa questões complicadas, como a implementação do roteiro de adesão à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), a adesão à Organização Mundial de Comércio (OMC).

Na agenda para a segunda metade do ano, e uma das prioridades do executivo – declarada durante a campanha eleitoral – está igualmente o desenvolvimento dos campos petrolíferos do Greater Sunrise, no Mar de Timor.

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Nos próximos meses deverão ser conhecidos os resultados de um estudo pedido pelas empresas do consórcio do projeto, tendo depois de ser acordado o modelo de desenvolvimento para o implementar.

Os próximos passos antes de todo este processo, decorrem já na próxima semana, com o Parlamento Nacional a marcar a sessão inaugural da nova legislatura, a 6.ª, para 22 de junho, com o juramento dos 65 deputados eleitos a 21 de maio e a apresentação de candidaturas a presidente do Parlamento Nacional.

A eleição do presidente do parlamento e o seu discurso inaugural estão previstos para 23 de junho, enquanto a 26 de junho decorrem as eleições para os restantes cargos da mesa do Parlamento Nacional. A 29 de junho, o Presidente, José Ramos-Horta, terá a primeira reunião com o primeiro-ministro indigitado, Xanana Gusmão, bem como outros elementos dos dois partidos do executivo.

No dia seguinte, José Ramos-Horta assina o decreto de nomeação do IX governo Constituciona,l que toma posse no dia 1 de julho no Palácio Presidencial em Díli.

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