A véspera do arranque da cimeira da NATO na capital da Lituânia foi o momento escolhido pelo Presidente turco pôr termo ao bloqueio à adesão da Suécia à aliança atlântica. Depois de mais de um ano de negociações, Recep Tayyip Erdogãn garantiu luz verde no avanço do processo, um passo descrito como “histórico”.

Enquanto os 31 estados-membros da organização se reúnem a partir desta terça-feira em Vilnius — a primeira cimeira desde a adição da Finlândia –, as expectativas são já elevadas para uma rápida adesão da Suécia. O Presidente norte-americano, Joe Biden, já se mostrou desejoso de um próximo encontro com o reforço da Suécia como membro oficial.

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Depois de vários meses de avanços e recuos, o líder turco comprometeu-se a encaminhar para o parlamento a candidatura sueca, que terá de ser aprovada pela maioria dos deputados. Mas afinal, o que garantiu a Turquia ao longo deste processo e o que espera receber em troca?

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  • Apoio no caminho para a UE

“Apelo aos que mantiveram a Turquia à espera, à porta da União Europeia, durante mais de 50 anos, que preparem o caminho para a Turquia e nós preparamos o caminho para a Suécia”. As palavras de Erdogãn proferidas na segunda-feira de manhã, ainda antes de admitir a adesão da Suécia à NATO, mostram a importância que a adesão à UE tem para o líder turco. Esta é uma história que começou há várias décadas com uma primeira candidatura em 1959 à Comunidade Económica Europeia (CEE), renovada em 1987. Só em 2005 é que a candidatura começou a ganhar alguma esperança, com o início de negociações. No entanto, estas estão congeladas desde 2016.

A entrada da Suécia na NATO apareceu como uma espécie de moeda de troca para Ancara conseguir a luz verde da UE. O secretário-geral da Aliança Atlântica disse apoiar as ambições da Turquia, mas sobre as consequências de uma eventual adesão disse apenas que esse “não é um problema para a NATO”.

A Comissão Europeia, porém, foi rápida a reagir e a distinguir que se tratam de dois processos paralelos, apesar de decorrerem simultaneamente.”A União Europeia tem um processo muito estruturado de alargamento, com passos muito claros que precisam de ser tomados por todos os países candidatos e mesmo aqueles que desejam tornar-se países candidatos”, sublinhou uma porta-voz da Comissão Europeia, citada pela Euronews.

Entrada da Suécia na NATO, a moeda de troca para a Turquia fazer parte da União Europeia

No arranque da cimeira da NATO, que decorre até quarta-feira, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel já se reuniu com o líder turco. “Exploramos as oportunidades para trazer a cooperação entre a UE e a Turquia de volta à linha da frente e reenergizar as nossas relações”, escreveu numa publicação no Twitter. Não avançou, contudo, detalhes sobre os passos concretos na perspetiva de aproximação e deixou de fora uma eventual adesão.

  • A transferência de caças F-16

Um dia depois do Presidente turco ter dado ‘luz verde’ à adesão da Suécia à NATO, os Estados Unidos revelaram que vão avançar com a transferência de caças F-16 para o território turco. O anúncio partiu do conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, que esta terça-feira garantiu que o Presidente norte-americano foi claro no apoio da decisão.

Em outubro de 2021, as autoridades turcas pediram para comprar caças Lockheed Martin Corp F-16, num total de cerca de 20 mil milhões de dólares, e cerca de 80 kits de modernização para as aeronaves de que dispõem. Erdogãn garantiu que a ratificação da candidatura da Suécia não estava relacionada com a transferência dos F-16, mas o timing é no mínimo suspeito. Segundo a agência Reuters, alguns aliados da NATO acreditam que a Turquia usou o bloqueio à adesão da Suécia como uma forma de pressionar a questão dos caças.

É esperado que este seja um tema em cima da mesa durante o encontro entre Biden e Erdogãn à margem da cimeira da NATO. Vai estar em discussão o modo como os EUA e Turquia “podem seguir em frente de forma positiva”, explicou ainda Jake Sullivan.

  • A luta sueca contra o terrorismo

A posição sueca perante as milícias curdas, descritas pela Turquia como organizações terroristas, têm sido um dos principais argumentos para Ancara bloquear a adesão do país à NATO. O tema é particularmente sensível quanto à extradição de alegados terroristas, que a Turquia espera tanto da Suécia como da Finlândia.

Ao longo do último ano, o país nórdico já reformou vários aspetos da legislação sobre o terrorismo. Anunciou também que iria extraditar dois membros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). As autoridades turcas esperam agora que, mais do apresentar as leis, a Suécia mostre vontade de as aplicar com “determinação”.

Turquia mantém posição de que a Suécia ainda não tem condições para aderir à NATO

Neste processo, os protestos e a queima de exemplares do Corão na Suécia provocou alguns atrasos. Na semana passada voltou a repetir-se um episódio desta natureza, que causou preocupação sobre a eventual adesão do país à NATO.