A maioria dos milhares de mortos nas inundações no leste da Líbia “poderia ter sido evitada” se houvesse organização das entidades de alerta e emergência do país, disse hoje o líder da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Com uma melhor coordenação neste país devastado por uma grave crise política, “poderiam ter emitido avisos e os serviços de gestão de emergências poderiam ter retirado as pessoas, e poderia ter sido evitada a maior parte das perdas humanas”, afirmou Petteri Taalas em conferência de imprensa realizada em Genebra, Suíça.

Número de mortos após as inundações da Líbia sobe para 11.300

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Uma inundação repentina equiparável a um tsunami atingiu o leste da Líbia no domingo, matando 11.300 pessoas e deixando milhares de desaparecidos.

A subida das águas destruiu duas barragens perto da cidade de Derna, destruindo quarteirões inteiros de casas. De acordo com Petteri Taalas, a desorganização que afeta a Líbia – incluindo os seus serviços meteorológicos – contribuiu largamente para a escala do desastre.

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O líder daquela agência das Nações Unidas sublinhou ainda que o conflito interno que perturba o país há vários anos “destruiu, em grande parte, a rede de observação meteorológica” e os sistemas informáticos.

As inundações aconteceram e nenhuma evacuação foi feita porque os sistemas de alerta precoce que seriam apropriados não estavam a funcionar”, disse.

Se as pessoas tivessem sido retiradas das zonas afetadas, o número de vítimas humanas teria sido muito menor, garantiu.

Ao contrário do que Peterri Taalas defende que devia ter sido feito, foi declarado um recolher obrigatório em várias cidades do leste do país, incluindo Derna, obrigando os cidadãos a ficar em casa.

É claro que não podemos evitar completamente as perdas económicas, mas também as poderíamos ter minimizado através da implementação de serviços apropriados”, defendeu.

O Centro Meteorológico Nacional da Líbia emitiu avisos de condições meteorológicas severas com 72 horas de antecedência e informou as autoridades governamentais por e-mail, instando-as a tomar medidas preventivas.

O estado de emergência foi declarado pelas autoridades no leste da Líbia na sexta-feira e criada uma unidade de crise, mas a OMM considera que não está claro que “[os alertas] foram efetivamente divulgados“.

A tempestade mediterrânica Daniel causou inundações devastadoras em muitas cidades no leste da Líbia na noite de domingo para segunda-feira, mas a destruição foi pior em Derna, onde bairros inteiros desapareceram.

As duas barragens destruídas libertaram um total de 33 milhões de metros cúbicos de água. Segundo o autarca de Derna, o número de mortos na cidade pode aumentar para 20 mil, sendo que já há 30 mil deslocados.

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De acordo com as autoridades locais, há pelo menos 5.200 mortos, embora fontes do governo de unidade da Líbia tenham indicado 6.000 mortes.

A Líbia está, há mais de uma década, dividida entre duas administrações rivais: uma no leste e outra no oeste, cada uma apoiada por diferentes milícias e governos estrangeiros.

O conflito deixou o país do Norte de África, rico em petróleo, em pleno caos, com infraestruturas desintegradas e inadequadas.

A tempestade Daniel atingiu o país depois de causar estragos na semana passada na Grécia, na Bulgária e na Turquia, onde ocorreram perto de 30 mortes.