Os produtos químicos que permanecem muito tempo no ambiente e que estão impregnados em quase tudo aquilo com que contactamos aumentam o risco de desenvolvimento de cancro. Os PFAS em particular (substâncias perfluoroalquiladas) aparecem associados a alguns cancros, sobretudo em mulheres, revela um estudo publicado na revista científica Journal of Exposure Science and Environmental Epidemiology.

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Estes “químicos eternos” — assim chamados porque a sua degradação é muito lenta e permanecem muito tempo no ambiente — estão presentes em produtos industriais, mas também nos produtos que usamos em casa, como tintas, produtos resistentes ao calor ou até embalagens de papel para take-away. Além de acumularem no ambiente, estes “químicos eternos” permanecem no organismo por meses ou anos.

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Aos riscos dos PFAS juntam-se os dos fenois, também presentes nas embalagens de comida, garrafas de água, latas de conserva, nos produtos de cuidados pessoais e brinquedos. A equipa coordenada por Max Aung, então no Programa de Saúde Reprodutiva e Ambiente da Universidade da Califórnia (São Francisco), verificou que uns e outros apareciam associados a cancros controlados por hormonas nas mulheres — mas não encontraram uma associação equivalente nos homens. Os cancros controlados por hormonas são, por norma, mais difíceis de tratar e mais mortíferos.

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Recorrendo às bases de dados dos Centros de Controlo e Prevenção da Doença (CDC), nos Estados Unidos, os investigadores verificaram que as pessoas que desenvolveram cancros da mama, ovário, pele e útero também tinham níveis mais altos destes químicos no sangue e urina. A equipa alerta que isto não prova que os PFAS e os fenois sejam a causa dos cancros, mas defendem que a interferência destes químicos no organismo deve ser estudada, de acordo com o comunicado de imprensa.

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“Estes químicos podem aumentar o risco de vários problemas de saúde diferentes e podem alterar suas vias biológicas… É importante saber isso para que possamos prevenir melhor a exposição e mitigar os riscos”, disse Max Aung, agora investigador em Saúde Ambiental na Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia do Sul, citado pelo jornal The Guardian. Ou seja, se os químicos perturbarem a função hormonal nas mulheres, isso pode aumentar o risco de cancro associado às hormonas.

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Os investigadores verificaram que consoante o tipo de cancro, o tipo de PFAS presente em maior quantidade também variava. Além disso, a associação entre PFAS e cancro do ovário e útero foi encontrado principalmente em mulheres brancas, enquanto a associação entre os fenois e o cancro da mama foi mais comum nas restantes populações de mulheres — podendo dever-se a diferentes hábitos alimentares ou à exposição a água contaminada.

“Este é o primeiro estudo epidemiológico a investigar a relação entre a exposição a fenois e diagnósticos prévios de cancro, e o primeiro estudo NHANES [Investigação Nacional de Saúde e Nutrição, dos CDC] a explorar disparidades raciais/étnicas na associação entre a exposição ambiental a fenois, parabenos e PFAS e o historial clínico de cancro“, destacaram os autores no artigo científico.