O Conselho de Redação do Jornal de Notícias alertou, esta terça-feira, para os riscos de eliminação da pluralidade e diversidade e estranham as contratações feitas no Diário de Notícias (DN) em vésperas do anúncio de rescisão de até 200 trabalhadores da Global Media.

Num comunicado enviado à redação, a que a Lusa teve acesso, o Conselho de Redação (CR) do Jornal de Notícias (JN), perante a intenção da administração da Global Media Group (GMG) de avançar com um processo de reestruturação de negociação de acordos de rescisão com caráter de urgência num universo entre 150 e 200 trabalhadores, diz que se isto acontecer pode “significar uma machadada de consequências inimagináveis” na capacidade da empresa.

Global Media, dona do “Diário de Notícias” e “Jornal de Notícias”, quer avançar com rescisão de 150 a 200 trabalhadores

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ou seja, não só na capacidade do JN e dos outros títulos do grupo — onde se inclui o DN, Dinheiro Vivo, TSF, entre outros — “em continuar a fazer jornalismo de qualidade e com interesse para as pessoas”.

E fica “mais difícil ainda porque vários dos nossos camaradas com contrato a prazo estão a ser dispensados, empobrecendo a riqueza e a diversidade da nossa redação e deixando o jornal à míngua de recursos”, refere o CR.

Além disso, “temendo que os despedimentos sejam apenas uma primeira fase de um plano geral destinado a emagrecer as redações dos vários títulos e colocar os jornalistas da GMG a trabalhar de forma indiscriminada para todas as marcas, numa espécie de ‘agência’ interna destinada a alimentar todo o grupo, os membros eleitos do CR manifestam firme oposição a qualquer tentativa deste género”, prossegue o CR.

Além disso, “alertam para os riscos de eliminação da pluralidade e para o fim da diversidade, essenciais ao jornalismo e à GMG, uma vez que atraem leitores diversos a títulos diferentes”, sendo que “seguir este caminho de concentração levanta várias questões de ordem ético-legais, sancionáveis pela entidade reguladora”, aponta o Conselho de Redação do JN.

Salientando que “nenhum jornalista pode opor-se ao reforço de meios num jornal, pelo capital humano e de qualidade que representará”, o CR do JN “não pode deixar de estranhar que tenham sido feitas contratações no Diário de Notícias poucos dias antes de ser anunciado o plano de reestruturação” da Global Media, “que irá afetar até 200 pessoas no grupo e, de acordo com as informações iniciais, pelo menos 40” no Jornal de Notícias.

Trabalhadores do Jornal de Notícias fazem greve de dois dias após notícias de despedimento coletivo

O CR recorda que o JN “tem uma impressão digital do Norte e é elaborado diariamente com uma marca e um sentido de proximidade aos seus leitores”, pelo que “retirar metade da capacidade de produção ao jornal seria prejudicar gravemente, para não dizer ferir de morte, a relação do JN com os leitores e os territórios que este serve”.

Tal teria consequências “nefastas para o prestígio do JN e eventualmente na qualidade a que os leitores estão habituados, podendo levá-los a procurar outros meios de comunicação”, alerta o CR.

Resumindo, “será impossível fazer o mesmo trabalho e logo ter o mesmo impacto e envolvência, com menos jornalistas”, porque sem jornalistas não há jornalismo, aponta, recordando que, “ao longo das últimas décadas”, o título “tem apresentado e continua a apresentar resultados financeiros positivos”.

O CR critica ainda a “implacável lógica de reduzir cegamente as despesas de pessoal, na tentativa de equilibrar contas”, que “tem levado as empresas a entrar em espirais de encolhimento e decréscimo”.

Os trabalhadores do JN estiveram em greve no início do mês, o que se traduziu na primeira vez em mais de 30 anos que o título não chegou às bancas, em protesto contra o despedimento anunciado pela GMG.