A Aliança Democrática e o PS estiveram taco-a-taco nestas eleições legislativas. A Aliança Democrática (AD) obteve uma ligeira vantagem em relação ao PS, angariando mais 55.055 votos e mais dois deputados do que os socialistas, faltando ainda contar os círculos eleitorais da Europa e de Fora da Europa. O resultado mais expressivo da noite relativamente às expectativas foi o do Chega, que furou em vários distritos a bipolarização.

Em termos concretos, a AD obteve 79 deputados, o PS 77, o Chega 48, a Iniciativa Liberal oito, o Bloco de Esquerda cinco, a CDU quatro, o Livre quatro e o PAN um. Em termos geográficos, notou-se uma diferença: a Norte, a Aliança Democrática dominou, enquanto a Centro e a Sul o PS conseguiu manter uma ligeira vantagem face à AD. O Algarve foi a exceção — e o Chega conseguiu ganhar aquele distrito.

Açores: uma vitória convincente da AD, mas que não se traduziu em número de deputados

Após ter perdido nas últimas três legislativas (2015, 2019 e 2022), a AD voltou a vencer nos Açores com um resultado convincente: 39,84%. O PS ficou a mais de dez pontos percentuais de diferença — com 29,18%. Mesmo assim, essa vantagem não se verificou no número de deputados: as duas forças políticas elegeram dois deputados. Furando a bipolarização, o Chega conseguiu um resultado na ordem dos 15,8%, o que se traduziu na eleição de um parlamentar. O Bloco de Esquerda ficou em quinto, mas muito longe de eleger.

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Aveiro: AD vence (mas mantém número de deputados), IL elege pela primeira vez

Em Aveiro, a Aliança Democrática voltou a conquistar um distrito que tinha perdido desde 2015. A coligação angariou 35,13% dos votos, registando uma subida de 18 mil votos. Mesmo assim, isso não significou mais deputados; a AD conquistou os mesmos sete do PSD de Rui Rio. Em sentido inverso, o PS perdeu três deputados aveirenses, ficando-se pelos 27,69% e perdendo mais de 27 mil votos. Quem ganhou esses parlamentares foram partidos à direita. O Chega, que tinha eleito um deputado em 2022, ganhou dois, enquanto a Iniciativa Liberal conseguiu eleger pela primeira vez com 5,11% dos votos. Os liberais não ficaram muito do longe dos bloquistas, que angariaram 4,10%.

Beja: CDU desaparece do distrito e uma vitória pírrica para o PS

Uma das maiores surpresas destas legislativas consistiu no facto de a CDU perder a representação parlamentar em Beja, algo inédito na história da democracia. A coligação entre PCP e os Verdes ficou em quarto lugar com 15,03% dos votos, não muito longe do terceiro lugar que pertenceu à Aliança Democrática (16,74%). Ainda assim, a AD elegeu o deputado que tinha perdido em 2015. O PS foi o vencedor do distrito com 31,70% dos votos, mas também só conseguiu um parlamentar socialista na Assembleia da República. O Chega aumenta a votação em mais de dez mil votos face a 2022 e elege um deputado no Baixo Alentejo pela primeira vez.

Braga: AD volta a triunfar no distrito (mas sem efeito prático) e Chega ganha três deputados

Braga tem sido o barómetro nas legislativas: quem ganha no distrito costuma vencer as eleições. Desta vez, a Aliança Democrática venceu com 33,16% dos votos, ficando a cinco pontos de distância do PS. Ainda assim, tal como aconteceu em outras zonas geográficas, a subida em termos de percentagem não teve qualquer impacto no número de deputados eleitos. A AD elege por Braga oito deputados, tal como o PSD de 2022. Já o PS, passou de nove para seis parlamentares. Por seu turno, o Chega mais do que triplica os resultados — o partido de André Ventura sobe de um para quatro parlamentares. Além disso, a Iniciativa Liberal manteve o deputado que conquistara há dois anos e também sobe em número de votos.

Bragança: a vitória da AD, o único distrito em que o Chega não elegeu e o quarto lugar do ADN

Bragança acabou por ser o único distrito em Portugal em que o Chega não elegeu qualquer deputado. Mesmo assim, o partido de André Ventura obteve um resultado satisfatório, ainda que insuficiente para eleger: 18,19%. A Aliança Democrática voltou a ganhar o distrito, que tinha perdido apenas por 15 votos em 2022 para o PS, e também conquista o deputado perdido há dois anos. Os socialistas, por sua vez, perdem mais de cinco mil votos e perdem um parlamentar para a AD. Surpresa ainda para o quarto lugar: o Alternativa Democrática Nacional (ADN) reuniu 2,18% — mais do que BE, IL e CDU.

Castelo Branco: PS vence distrito mas perde 12 mil votos e Chega também elege

O PS voltou a conquistar Castelo Branco, uma constante desde 2011. No entanto, em comparação com as últimas legislativas, os socialistas ficaram sem 12 mil votos, passando de uma vitória convincente com 47,65% para uma vitória mais magra com 34,22%, perdendo pelo meio um deputado. A quatro pontos percentuais está a Aliança Democrática (28,45%), que voltou a eleger um parlamentar tal como em 2022. Com 19,52%, o Chega superou a barreira dos 20 mil votos e também conseguiu eleger. Em quarto lugar, muito longe com 4,11%, ficou o Bloco de Esquerda.

Coimbra: a vitória pouco expressiva do PS e a subida tímida da AD

Não muito diferente do que aconteceu em Castelo Branco, o PS ganhou Coimbra. Contudo, os socialistas perderam 18 mil votos em comparação com 2022, passando de 45,23 para 32,67%. A AD ficou muito perto, obtendo uma percentagem em redor dos 30,6%, ainda que só tenha subido um ponto percentual em relação a 2022. No distrito, o Partido Socialista conseguiu eleger quatro deputados, mais um do que a Aliança Democrática. Pela primeira vez, o Chega elegeu em Coimbra — e logo dois parlamentares com uma votação em redor dos 15,5%. Em quarto lugar, ficou o Bloco de Esquerda, mas muito longe de eleger.

Évora: AD sobe, PS cai, Chega elege e CDU volta a não conseguir vingar

O PS ganhou Évora, angariando 32,79% dos votos. Mas o cenário não é positivo. Os socialistas perderam cinco mil votos em comparação com 2022 e perderam um deputado. Por sua vez, a Aliança Democrática ganhou cinco mil votos, mantendo, não obstante, o único deputado que tinha há dois anos. Foi o Chega que ficou com o terceiro parlamentar do distrito, com o partido de André Ventura a conquistar 19,96% dos votos. Antigo bastião comunista, a CDU ficou em quarto lugar, obteve 10,93% e voltou a não a eleger no distrito alentejano. Aliás, chegou mesmo a perder cerca de 1.500 votos comparativamente com 2022.

Faro: Chega consegue vencer distrito pela primeira vez, AD em terceiro (mas mais um empate a três)

Foi algo histórico na democracia portuguesa: o Chega venceu pela primeira vez um distrito. O partido de André Ventura triplicou o resultado de há dois anos, conquistou 27,19% e venceu concelhos como Lagoa, Portimão ou Albufeira. O PS ficou próximo, a cerca de quatro mil votos de distância, conseguindo 25,46%, mas não se pode considerar um bom resultado. Em 2022, os socialistas ganharam o distrito algarvio com quase 40% dos votos e mais de 77 mil votos; em dois anos, perderam 18 mil votos. Já a Aliança Democrática, não ficou muito longe (22,39%) e até ganhou cinco mil votos, mas vê-se relegada para o terceiro lugar. Este triplo empate originou que as três forças políticas elegessem três deputados cada. Em quarto lugar, ficou o Bloco de Esquerda — mas ficou muito longe de eleger.

Guarda: PS perde um deputado, Chega conquista o primeiro deputado

A Aliança Democrática (ou em bom rigor o PSD) voltou a conquistar o distrito, algo que já não acontecia desde 2015. Com 34,12% dos votos, a AD ganhou quatro mil votos e a Guarda, mas manteve o único deputado social-democrata eleito para a Assembleia da República. Em contrapartida, PS perdeu sete mil votos e passou apenas a um parlamentar no distrito. Tal como aconteceu noutras localidades, o Chega conseguiu eleger: o partido ganhou quase nove mil votos face às legislativas de 2022, ficou perto dos 19% e conquistou um deputado. Em quarto lugar, ficou o Bloco de Esquerda, não indo além dos 2,70%.

Leiria: AD volta a dominar distrito, PS com pior resultado desde 2011

Em Leiria, em que o PSD costuma dominar, a Aliança Democrática ganhou o distrito com 35,21%. A coligação de direita ganhou um deputado e cerca de 15 mil votos face a 2022. Em contrapartida, o PS voltou a perder Leiria, ficou-se pelos 22,5% e obteve o pior resultado desde as legislativas de 2011. Em comparação com há dois anos, os números falam por si: os socialistas perderam 23 mil votos e dois parlamentares. Por sua vez, o Chega ganhou mais um deputado face a 2022, conquistando um resultado na ordem dos 19,66%. Em quarto lugar, ficou a Iniciativa Liberal com 5,65%.

Lisboa. A vitória curta do PS e o Livre à frente do Bloco e da CDU

Na capital, o PS voltou a vencer com 27,73% dos votos, elegendo 15 deputados. Mesmo assim, são menos 120 mil votos e menos seis parlamentares do que há dois anos. Apesar de ter ficado em segundo lugar, a Aliança Democrática ficou muito perto (27,03%) dos socialistas e conseguiu eleger mais um deputado do que em 2022. O Chega ocupou o terceiro lugar, ultrapassando a Iniciativa Liberal e angariando nove deputados. Os liberais caem um lugar em comparação com as últimas legislativas e perdem um deputado, ainda que tenham tido mais votos. Em quinto lugar, superando vários partidos de esquerda, ficou o Livre. A força partidária de Rui Tavares ganhou um deputado e triplicou o número de votos. O Bloco de Esquerda mantém-se em sexto com dois deputados, os mesmos que elegeu a CDU — que passa de quinto para sétimo lugar em Lisboa. A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, também conseguiu ser eleita com 2,49% dos votos, mantendo-se como deputada única do partido.

Madeira. Chega rouba deputado a PS e fica perto dos socialistas

Tradicionalmente social-democrata, a Madeira deu a vitória à Aliança Democrática com mais de 35% dos votos. Já em 2022, foi a região autónoma em que o PSD de Rui Rio conseguiu triunfar face ao PS. Nestas eleições legislativas, a AD ganhou cerca de dois mil votos, se bem que tenha mantido o número de deputados (três). Em sentido inverso, foi o PS que mais perdeu. Os socialistas passaram de 40 para 29 mil votos, perdendo um parlamentar (estando agora com dois) e ficando próximo do Chega — uma diferença apenas de três mil votos. Em terceiro lugar, o partido de André Ventura triplicou os votos e elegeu pela primeira vez um deputado na Madeira. Em quarto lugar, com 9,58%, ficou o partido Juntos Pelo Povo.

Portalegre. O distrito em que o Chega superou a AD (e deixou a coligação sem nenhum deputado)

Portalegre apenas elege dois deputados — e um foi para o PS e outro para o Chega, o que furou o bipartidarismo. A Aliança Democrática não conseguiu nenhum deputado naquele distrito e foi superada inclusive pelo partido de André Ventura por 783 votos. Tal como em 2022, os socialistas voltaram a ganhar Portalegre, mas com menos quatro mil votos. E perderam mesmo um deputado para o Chega, que duplicou o resultado nas últimas legislativas. Em quarto lugar ficou a CDU, com 5,94%.

Porto. AD venceu por 1.012 votos, PS perdeu cinco deputados e Livre elegeu pela primeira vez

A Aliança Democrática conseguiu vencer no Porto por uma unha negra: apenas 1.012 votos separaram a coligação do PS. Mas essa diferença concedeu mais um deputado à AD, que manteve os mesmos que o PSD de Rui Rio conquistara em 2022. No distrito, os socialistas perderam, por seu turno, 80 mil votos e cinco deputados. Tendo ficado em quinto lugar em 2022, o Chega consolidou-se como a terceira força política no distrito: obteve mais de 170 mil votos e mais cinco parlamentares. De resto, a Iniciativa Liberal e o Bloco de Esquerda ficaram em quarto e em quinto lugar respetivamente, mantendo os dois deputados. A CDU manteve o único parlamentar eleito, tendo sido ultrapassado pelo Livre; o partido liderado por Rui Tavares ficou em sexto e elegeu pela primeira vez no Porto. Em oitavo, o PAN não ficou longe de eleger com 2,10%.

Santarém. PS ganha à AD por 1.500 votos, mas Chega fica muito perto

Em sentido inverso ao que aconteceu no Porto, foi o Partido Socialista que ganhou Santarém por pouco: foram cerca de 1.500 votos. O PS angariou 27,85% dos votos com a AD a ficar com 27,28%. Os socialistas perderam vinte mil votos no distrito e dois parlamentares, enquanto a coligação liderada pelo PSD manteve os três deputados de 2022, ainda que tenha ganhado dez mil votos. O Chega foi um dos destaques: em Santarém, o partido de André Ventura obteve mais de 58 mil votos, ficando a cerca de dez mil das outras duas forças políticas. Feitas as contas, PS, AD e Chega elegeram três deputados cada. Em quarto, com 4,4%, ficou o Bloco de Esquerda.

Setúbal. O distrito em que a esquerda tem a maioria com PS à cabeça (mas com o Chega em segundo)

Com 19 deputados eleitos por Setúbal, os resultados no distrito dão uma maioria à esquerda: 10 contra 9 dos partidos de direita. O PS venceu com 31,27% dos votos, mas perdeu 40 mil votos em relação às últimas eleições e elege sete deputados, menos três do que em 2022. De quarta para segunda força política mais votada, o Chega triplica o número de votos e passa de um para quatro parlamentares na região. A Aliança Democrática ficou em terceiro; ainda assim, a AD subiu em número de votos e conseguiu mais um deputado do que há dois anos. A CDU ficou em quarto, com 7,73%, o Bloco em quinto com 6% e a Iniciativa Liberal em sexto com 5,36%. Estas três forças políticas mantêm o deputado em Setúbal. Nos partidos menos votados, a única novidade foi a eleição de um deputado do Livre por Setúbal. O partido ficou em sétimo com 4,29%.

Viana do Castelo. AD vence, mas perde um deputado, tal como PS. Chega ganha parlamentar (oriundo do PSD) 

Desde 2015 que os sociais-democratas não ganhavam Viana do Castelo. Neste domingo, a AD venceu o distrito com 34,72%. Ainda assim, fruto de uma redistribuição de parlamentares no distrito (que passou de seis para cinco), a coligação perdeu um deputado, tal como o PS. Os socialistas ficaram em segundo e ficaram-se pelos 28,15%, perdendo 13 mil votos em comparação com 2022. Por sua vez, o Chega angariou 18,64%, o suficiente para um deputado, neste caso Eduardo Teixeira, que tinha saído do PSD. Em quarto lugar, ficou a Iniciativa Liberal com 3,57%.

Vila Real. AD mantém dois deputados, ADN ficou em quarto

Em 2022, o PS ganhou Vila Real por uma pequena diferença (cerca de 1.300 votos). Dois anos depois, a Aliança Democrática voltou a ganhar o distrito com um diferencial de 15 mil votos, ainda que mais por demérito do PS (que perdeu 10 mil votos). Embora a diferença de votos entre as duas forças partidárias, a AD e os socialistas elegeram dois deputados pelo distrito. Em terceiro, o Chega ficou acima dos 20 mil votos, o que lhe valeu a eleição do primeiro parlamentar no distrito. Tal como em Bragança, em quarto lugar ficou o ADN com 2,53% dos votos.

Viseu. AD ganhou, mas perdeu um deputado. Chega conseguiu dois

Nem todas as vitórias são suficientes. A Aliança Democrática ganhou Viseu com 36,36%, conquistando mais nove mil votos do que em 2022. Ainda assim, em comparação com 2022, a AD (ou PSD, na altura) perdeu um deputado. O PS ficou em segundo lugar com 27,45% e também ficou sem um parlamentar. Furando novamente a bipolarização no distrito, o Chega conseguiu eleger dois deputados. Com 19,45% dos votos, o partido de André Ventura consolidou o terceiro lugar obtido já em 2022. Tal como em outros distritos, o ADN ficou em quarto lugar com uma votação na ordem dos 3,13%.