A opção de apresentar uma lista conjunta para o Conselho de Estado, incluindo o Chega, causou algum mal estar no grupo parlamentar do PS, registado por fontes presentes na reunião da bancada socialista desta quinta-feira. Ao Observador, deputados do PS falam de um “incómodo por ser uma lista conjunta, com a inclusão do Chega”: “O argumento contra é votar uma lista onde esteja o André Ventura”, explica um socialista, resumindo o que levou alguns parlamentares a manifestarem-se contra a solução encontrada pela direção.

A lista para o Conselho do Estado, que inclui cinco nomes que o Parlamento tem direito a indicar no início de cada legislatura, foi composta por acordo entre PS (que indicou Pedro Nuno Santos e Carlos César), PSD (Carlos Moedas e Francisco Pinto Balsemão) e Chega (André Ventura). A prática mais recente tem passado por acordar uma lista única, mas também há registos de listas concorrentes. Aconteceu, por exemplo, em 2015, na origem da ‘geringonça’: o PS quis indicar dois nomes dos partidos com quem chegara a acordo (Francisco Louçã, pelo Bloco de Esquerda, e Domingos Abrantes, pelo PCP) e não houve consenso para apresentar esses nomes ao lado dos que o PSD apresentaria.

O resultado seria, na prática, igual, uma vez que a eleição é feita por Método d’Hondt e que, tendo em conta o número de deputados que as três maiores bancadas têm, a eleição de dois nomes do PS, dois do PSD e um do Chega estaria garantida. Mas para alguns socialistas, incluindo os que se manifestaram na reunião do grupo parlamentar, a questão simbólica importa, e o PS não deveria ser visto a apresentar nenhum tipo de candidatura ao lado do Chega.

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Foi isso que algumas intervenções expressaram, sendo que os relatos variam: alguns, mais distantes da atual direção, falam de uma insatisfação “significativa”, enquanto outros confirmam as reclamações mas frisam que foram feitas de forma “serena” e sem acrimónia.

A essas reclamações seguiram-se as explicações da líder parlamentar, Alexandra Leitão, no sentido de defender que a apresentação da lista conjunta teria, na prática, o mesmo resultado que a de duas listas separadas. Do lado dos socialistas que apoiaram a solução, argumenta-se que a lista não foi “politicamente conjunta”, mas uma transposição da proporcionalidade que teria sempre de verificar-se após a votação.

A lista foi votada e aprovada na quarta-feira, mas os resultados deixaram algumas dúvidas: os nomes conseguiram a aprovação de 168 votos de 221 votantes, com 40 votos brancos e 13 nulos, mas isto significa que houve vários votos que falharam dentro das bancadas de PS, PSD ou Chega, uma vez que juntos estes partidos somariam 208 deputados.

Mais à esquerda, Livre e Bloco de Esquerda criticaram a ideia da lista conjunta, com os bloquistas a anunciarem que votariam em branco por considerarem que “a barreira à extrema-direita” tem de ser “real”. À direita, a Iniciativa Liberal atacou tanto PS como Chega pela “hipocrisia” de se apresentarem na mesma candidatura.

O que acabou por falhar foi a eleição de Luís Pais Antunes como sucessor de Francisco Assis na liderança do Conselho Económico e Social, por apenas um voto. Esta quinta-feira, o líder parlamentar social democrata, Hugo Soares, veio comentar o “percalço” garantindo que não só falou com Pais Antunes para que volte a apresentar-se como candidato já esta sexta-feira como conversou com Leitão para garantir o apoio do PS ao nome indicado pelo PSD.

Pais Antunes falha eleição para o CES por um voto. Moedas, Pedro Nuno e Ventura entram no Conselho de Estado