Os países que compõem o G20 reuniram-se este fim-de-semana em Brisbane, na Austrália, e chegaram a acordo para um esforço coletivo para estimular as suas economias num total de dois biliões de dólares até 2018, o que segundo a análise do Fundo Monetário Internacional e da OCDE resultaria num crescimento das economias num adicional de 2,1%, anunciaram em comunicado.
Numa reunião marcada principalmente pelo conflito na Ucrânia e pelas tensões que levaram a que o Presidente da Rússia abandona-se a Austrália mais cedo, também os problemas económicos da Europa estiveram em grande destaque.
800 medidas, dois biliões de dólares
O acordo entre os 19 países que compõem o G20 – maiores economias do mundo, economias emergentes -, a que se junta a União Europeia, os líderes reconheceram que a procura continua muito fraca e que por isso são necessárias medidas para estimular as economias. A lista de medidas é grande, com mais de 800 medidas individuais.
Para que as medidas saiam do papel, os países fizeram questão de dizer que se iam responsabilizar mutuamente, caso estes compromissos não fossem levados a sério.
“Há sinais preocupantes na economia mundial que representam uma ameaça para nós e para o nosso crescimento”, disse o primeiro-ministro do Reino Unido após o fim da reunião, estando confiante que se todos os países cumprirem o acordado, o que inclui acordos de comércio, então o crescimento económico continuará.
Estas medidas surgem numa altura em que as principais políticas estão a divergir entre a Europa, os EUA e as economias emergentes. Os EUA já começaram a cortas os estímulos monetários, o que está a ter efeitos adversos nas economias emergentes, enquanto a Europa continua a lutar contra o espectro da deflação e de um crescimento anémico. Também o Japão, uma das três maiores economias do mundo, continua uma política de estímulos para combater a estagnação económica.
Ainda no mês passado o Fundo Monetário Internacional cortou as projeções para a economia mundial para os 3,8% do PIB.
Um dos pontos centrais na reunião das maiores economias foi mais uma vez o estimulo ao comércio. Os líderes das maiores economias da Europa, que estavam presentes na reunião, reuniram-se com Barack Obama e emitiram um comunicado conjunto a dar conta de um reforço do empenho em torno da parceria transatlântica.
A China também se comprometeu a acelerar investimentos, entre eles a construção da rede de comunicações com tecnologia 4G.
Na conferência de imprensa deste sábado, a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, defendeu que devem ser usadas todas as ferramentas para lutar contra o baixo crescimento e baixa inflação, o elevado desemprego e elevada dívida.
Entre as medidas que têm vindo a ser defendidas pelo FMI – como o uso da política monetária, política orçamental e reformas estruturais – entrou recentemente o estímulo através de infraestruturas. Essa hipótese foi já defendida pelo Fundo na apresentação do World Economic Outlook, nas reuniões anuais do FMI e Banco Mundial de outubro, e Lagarde voltou a defender essa posição.
“Isso inclui não só política monetária, que tem sido significativamente usada, particularmente na zona euro, ma também política orçamental, reformas estruturais e, em certas condições, infraestruturas”, disse em Brisbane.
O FMI e a OCDE fizeram a avaliação das medidas acordadas e dizem que esses podem fazer aumentar o PIB na área do G20 em mais 2,1% até 2018, face à trajetória, de acordo com o comunicado do G20.
Reforma do FMI
Já tinha sido acordada mas tem sido bloqueada pelos EUA. A reforma devia dar mais poder aos países emergentes, e ate houve acordo, mas nunca avançou por causa do Congresso norte-americano. Está parada desde 2010.
Os líderes do G20 afirmaram-se “profundamente desapontados” pelo atraso e defendem que esta é uma prioridade, instando os EUA a ratificar as mudanças acordadas e que se isso não acontecer, será pedido ao FMI para avaliar outras opções para avançar com a reforma.
Ainda este sábado, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o grupo conhecido por BRICS, considerou que este atraso não tinha qualquer justificação e pedia ao G20 para apresentar alternativas.
Ucrânia gera tensões e Putin abandona mais cedo
Mas o foco das atenções na reunião do G20 foi mesmo Vladimir Putin. As tensões com a Ucrânia levaram alguns dos líderes do G20 a mostrar o seu desagrado, de tal forma que Putin abandonou mais cedo a reunião.
Stephen Harper, primeiro-ministro do Canadá, mostrou o seu desagrado ao próprio Putin durante os cumprimentos a que o protocolo obrigam: “Acho que vou cumprimentá-lo, mas tenho uma coisa a dizer-lhe: tem de sair da Ucrânia”, disse a Vladimir Putin.
Vladimir Putin, segundo um porta-voz da delegação russa, terá respondido à altura: “Isso é impossível porque nós não lá estamos.”
Na chegada à Austrália, foi recebido por um membro do Governo britânico de pouca relevância, ao contrário das restantes figuras de Estado, como foi o caso de Angela Merkel.
David Cameron deixou o aviso que a relação com o Reino Unido e com a União Europeia será muito diferente caso Putin não deixe de armar os rebeldes.
No fim, Putin saiu mais cedo e disse que a razão era que precisava de pôr o sono em dia antes de voltar a trabalhar na segunda-feira. Com uma viagem de 18 horas de regresso à Rússia, Putin diz que precisava de quatro horas de sono pelo menos e que transmitiu isso mesmo ao primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbott, que terá dito que não haveria “qualquer problema”.