Nem toda a gente gosta de jantares surpresa. Pior: há mesmo quem encare o seu próprio aniversário com temor, por achar que algum ente querido vai querer, mais tarde ou mais cedo, organizar uma ocorrência do género. Mas se todos os jantares surpresa se transformassem em jantares-guerrilha Silver Spoon, organizados pela agência gastronómica dinamarquesa com o mesmo nome, esse temor desvanecia-se na hora. E porquê?
1. Não é apenas um jantar, é uma aventura gastronómica
“Aventura gastronómica”, a expressão escolhida pela organização para caracterizar o evento, podia soar a algo tão pomposo como vazio não fosse dar-se o caso de encaixar que nem uma luva na experiência Silver Spoon. Basta recordar edições anteriores para o comprovar. Quando o evento se estreou em Portugal, em janeiro de 2014, fê-lo sob o mote “Under the Deep Sea”, com um jantar numa sala escondida da estação de metro do Terreiro do Paço, em Lisboa, em que o menu que foi servido reproduzia precisamente o que se pode encontrar no fundo do mar. Numa visita posterior, a temática “Addictions” levou charutos feitos de chocolate, cocaína que era pó de iogurte ou uma seringa injetada num naco de porco às mesas instaladas no Village Underground. Já em novembro último, o Forte do Beliche, em Sagres, recebeu uma caça ao tesouro que culminava numa refeição com ostras, areia comestível e uma sobremesa servida num baú. Desta vez, o tema escolhido é a arte. E de que forma isso se vai revelar à mesa? É esperar para ver. E comer.
2. Não é apenas um jantar, é um evento de alta cozinha.*
Apesar da originalidade dos conceitos por detrás de cada jantar, a parte gastronómica não é, de todo, descurada. Desta vez, e ao contrário do que tem acontecido sempre que o Silver Spoon se desloca a Portugal, não vão marcar presença os chefs dinamarqueses que geralmente preparam as refeições. Isto porque é intenção dos organizadores que o evento possa começar a promover jovens portugueses emergentes. Assim, no jantar de Lisboa quem vai estar responsável pela cozinha é Manel Lino, chef do Tabik, restaurante do Bessa Hotel, que, apesar dos seus 28 anos, conta no currículo com passagens por duas das melhores cozinhas do mundo, El Celler de Can Roca e Mugaritz, além de ter liderado, no último verão, o projeto pop up Com.Horta, na Comporta, com uma cozinha muito criativa à base do produtos da terra e do mar. Já no Porto, a cozinha vai estar a cargo de Vasco Coelho Santos, chef que além de ter trabalhado com Manel Lino no projeto Com.Horta, também passou por cozinhas de respeito (El Bulli ou Arzak, entre outras), e que organiza, com frequência, jantares ao domicílio, na Invicta.
3. Não é apenas um jantar, é um encontro num local secreto.
Uma das características mais curiosas (e atrativas) do Silver Spoon é que o local da refeição fica em segredo até à hora do evento. Um dia antes, os inscritos recebem apenas algumas indicações que podem ser mais ou menos precisas. Por exemplo, no caso do jantar “Up Up and Away” (baseado no filme de animação Up, da Pixar), que em Lisboa se realizou no Palácio de São Vicente, a ordem era simplesmente ir até à Casa dos Bicos e procurar por balões.
4. Não é apenas um jantar, são três. E com elevada nota artística.
Este “Exhibit X”, nome dado ao evento, ocorre a 17 e 18 de abril em Lisboa e a 24 do mesmo mês no Porto. Como é apanágio no Silver Spoon sabe-se muito pouco do que vai acontecer — tirando a supracitada ligação arte/gastronomia — por isso nada como citar a organização: “A ideia é que a partir do momento que se entre pela porta do jantar, vários elementos artísticos se incorporem na decoração, no som, na própria comida. Local? Secreto. É um Jackson Pollock, Banksy, ou um Abramović?”
A participação no Silver Spoon custa 80€ por pessoa. As inscrições devem ser feitas para info@silverspoon.cph.com
* No dia 15 de abril, a organização informou que o chef Manel Lino já não irá ser o responsável pelos jantares em Lisboa. A cozinha ficará a cargo dos chefs do Chimera: Thomas Mancini, Adam Heller e Hugo Ferreira.