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Action Bronson, ao centro. À direita está o chef Grant Achatz, um dos mais importantes cozinheiros norte-americanos, e à esquerda, o chef Andrew Brochu, do restaurante The Aviary
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Action Bronson, ao centro. À direita está o chef Grant Achatz, um dos mais importantes cozinheiros norte-americanos, e à esquerda, o chef Andrew Brochu, do restaurante The Aviary

Divulgação

Action Bronson, ao centro. À direita está o chef Grant Achatz, um dos mais importantes cozinheiros norte-americanos, e à esquerda, o chef Andrew Brochu, do restaurante The Aviary

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Action Bronson: "O Anthony Bourdain é um vadio solitário"

O Observador falou em exclusivo com o rapper, cozinheiro, autor e estrela de TV que apresenta "F*ck, That's Delicious". Saiba o que ele diz sobre Portugal, vinho natural, alta cozinha e muito mais.

— Estou?
— Sim, como estás, bro?
— Estou a falar com o Action Bronson?
— Não, é o Lorenzo… [risos] Claro que sou eu!

Foi com este bom humor que começou a conversa com Arian Asllani, nome verdadeiro do rapper que virou estrela da TV graças ao programa “F*ck, That’s Delicious. Criado pela Viceland e importado para Portugal via canal Odisseia (dá todos os dias, de segunda a sexta-feira, em pleno horário nobre), este polémico programa de viagens e gastronomia tem uma premissa simples: Bronson percorre o mundo com os seus amigos a descobrir as melhores e mais inusitadas bebidas e receitas.

Como o próprio disse ao Observador, “é o melhor trabalho do mundo”, mas isso não quer dizer que o resultado final seja despido de conteúdo ou substracto. Antes da vida entre rimas e batidas, Bronson foi cozinheiro profissional e chegou a ter algum sucesso na sua Nova Iorque natal. Traído por um grave problema de saúde, viu-se afastado dos fogões quando ainda era jovem, episódio que o fez virar-se para a sua outra grande paixão: a música.

Hoje, já com uma respeitável carreira musical, Bronson vê as suas duas grandes paixões reunidas no programa que, diz, “o fez mais feliz do que alguma vez pensou ser”. É sobre essa felicidade e tudo aquilo que a fez nascer que falou com Observador. Veja aquilo que ele tem para contar.

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[primeiro episódio da série “F*ck, That’s Delicious”:]

Onde está neste momento?
Estou no estúdio a ouvir umas músicas etíopes/nigerianas muito fixes.

O que é que pretendia mostrar quando decidiu fazer o F*ck, That’s Delicious?
O programa foi criado algures entre a Austrália, a Nova Zelândia e a África do Sul quando estava em digressão com o Eminem, em 2014… ou terá sido 2013? Epá, já nem me lembro bem da merda do ano. Bem, o que eu realmente queria mostrar era aventura, comida incrível, felicidade e pessoas a divertirem-se. Queria mostrar isso porque essa é a minha vida. Eu divirto-me, sorrio muito, tento não levar as coisas demasiado a sério… Só quero aproveitar os tempos felizes com os meus amigos e família, viajar por este mundo incrível e provar comida do caralho.

O Action Bronson foi cozinheiro, antes de se tornar rapper. Como foi voltar a entrar em contacto com o mundo da comida?
Estava predestinado a acontecer, tenho a certeza. Foi algo de muito bonito, para mim, e não mudaria uma única coisa na forma como tudo me fez chegar ao dia de hoje, enquanto estou aqui ao telefone contigo.

Sente que aprendeu muita coisa que desconhecia, desde que começo a fazer este programa?
Sem dúvida. De todos os sítios onde já fui, aprendi sempre alguma coisa. Isto é um ciclo sem fim, é uma viagem interminável onde aprendes sempre qualquer coisa, desde que estejas aberto a isso. Sou muito grato pela vida que tenho e por tudo aquilo que ela já me deu. Sabes, não há grande esperança de sucesso no sítio de onde eu venho. É uma realidade difícil. Daí a minha gratidão.

Então e como é sentir que conseguiu ultrapassar esse obstáculo?
Faz-me sentir bem no coração. Faz com que me possa sentar, esteja eu onde estiver, e sentir que já não estamos em dificuldades, estamos bem. Finalmente.

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Quais foram as coisas mais surpreendentes que aprendeu ao longo dos episódios que já fez?
Cada programa, cada viagem é uma experiência totalmente diferente. Não podes ter grandes expectativas porque muitas vezes vais confiante de que te vais divertir à grande mas depois isso não acontece — e vice-versa. Tens de deixar rolar, aceitar aquilo que te for dado e olha, acredita que eu tiro o melhor de tudo. Todos nós. Divertimo-nos muito e acho que isso passa para quem vê o programa, faz com que as pessoas gostem de o ver. Deixamos rolar as boas vibrações, ficamos bêbados, bebemos muito vinho natural, comemos comida incrível… É maravilhoso.

Cresceu num ambiente gastronómico muito rico, sendo o seu pai um albanês muçulmano e a mãe uma norte-americana judia. Como foi crescer rodeado desses sabores?
Eu fui criado pelos meus avós da parte do pai, que também eram albaneses muçulmanos, por isso fui muito influenciado por aquilo que eles cozinhavam e comiam. Tudo isso ficou muito embebido em mim. Ao mesmo tempo, quando visitávamos os meus outros avós, os judeus, tínhamos todo um lado cultural muito diferente. Foi muito bonito crescer rodeado de tudo isto, de estar exposto a estas culturas tão diferentes. Isto já para não dizer que eu, sendo do bairro de Queens [em Nova Iorque] — um dos melhores sítios na terra –, cruzava-me todos os dias com todos os tipos de pessoas que possas imaginar.

“Fuck, That’s Delicious”. As receitas de um rapper cozinheiro

Com todo o fenómeno da globalização a comida ganhou ainda mais importância enquanto manifestação cultural de um povo, de um país ou de uma religião. Concorda com isto?
Sem dúvida. Pensa nisto: quando eu era miúdo, toda a gente dizia que queria ir a Paris para ver a Torre Eiffel. Não. Isto já não é necessariamente assim. Cada vez oiço mais pessoas a dizer-me que vão a Paris comer a este restaurante, aquele wine bar, àquele mercado… Acho que isto diz muito sobre a forma como as coisas mudaram: cada vez mais, tudo gira à volta da comida e isso é tão importante como a história ou os monumentos. Cada vez mais viajamos para conhecer culturas através da sua comida e isso é uma experiência incrível. Ver como outras pessoas vivem, comem e respeitar tudo isso.

Partindo então do princípio de que a comida é uma representação cultural de um povo ou país, o que é que a comida americana diz sobre os EUA?
Diz-te que continua a ser o país que era — a terra da oportunidade. Uma nação cheia de diversidade, um porto de abrigo para muitas, muitas pessoas que vem para cá em busca de uma vida melhor. Há representações culturais de praticamente todo o globo, percebes? Para mim, é isso que a comida americana diz. Podes ser qualquer pessoa, vir de qualquer lado e encontrar aqui a hipótese de seres uma pessoa nova. O mais interessante é que ao mesmo tempo que isto acontece, as tuas raízes não desaparecem. Trazes contigo o orgulho do teu país de origem e isso manifesta-se através da comida, por exemplo.

"Isto é um cíclo sem fim, é uma viagem interminável onde aprendes sempre qualquer coisa, desde que estejas aberto a isso. Sou muito grato pela vida que tenho e por tudo aquilo que ela já me deu. Sabes, não há grande esperança de sucesso no sítio de onde eu venho. É uma realidade difícil. Daí a minha gratidão."

E relação entre música e comida? Existe?
Claro que sim. Tens de perceber que para mim, todas as artes estão ligadas de alguma forma. A comida e a música mexem contigo de formas muito semelhantes, há até uma espécie de sensualidade, quase, na forma como tu absorves ambas as coisas, por exemplo. É uma sensação assoberbante. Acho que uma das coisas relevantes entre estas duas formas de arte é o ritmo. Tudo tem a ver com ritmo. Precisas de ritmo para fazer uma boa paella, um risotto ou qualquer merda do género. Até dentro de uma cozinha profissional o ritmo tem um papel essencial, tem de estar tudo encadeado. Pensa nisto: no desporto, quando alguém se está a safar bem, está in the zone, dizemos “agora é que eles encontraram o ritmo certo”… Curioso, não é?

Muitas pessoas continuam sem perceber bem a diferença entre um menu de degustação com estrelas Michelin e a chamada “comida da avó”. Muitas vezes parece que não percebem a diferença entre uma grande tachada de um guisado qualquer e um conjunto de vários pratos, de porções reduzidas. Para si, qual é a diferença que existe?
Na minha opinião, aqueles restaurantes que servem menus de vinte pratos onde tudo é feito com enorme delicadeza e sensibilidade artística, são uma espécie de instalação artística. Para o perceberes dessa forma tens de ter interesse em visitar museus, ou exposições de arte contemporânea. É isso que eu acho. Pessoas como o chef José Andrés [cozinheiro espanhol americano muito conhecido nos EUA que ganhou duas estrelas Michelin no restaurante Minibar, em Washington D.C.], por exemplo, fazem com que uma ida a um restaurante seja parecido com o visitar de um museu de ciência. Quando era miúdo fazíamos umas visitas de estudo ao museu de ciência em Queens e lá víamos todo o tipo de merdas maradas que nunca tínhamos visto, cenas tipo água verde a borbulhar e coisas assim. Para mim, a alta cozinha é algo muito parecido com isto.

Tem algum prato favorito?
É difícil encontrar alguma coisa de que não goste, para ser sincero. A única coisa de que eu não gosto mesmo nada é carapau. Não gosto de peixinhos pequeninos e oleosos. Não gosto mesmo nada de merdas desse género, isso deixa-me todo fodido…

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Então quando vier a Portugal não vai gostar muito das nossas conservas…
Bro, percebes o quanto eu quero ir aí? Estou doido para ir aí! Quando estiver pela Europa, neste verão, vou fazer de tudo para passar por aí.

O chamado vinho natural é algo que leva muito a sério. Já conhecia este tipo de bebida antes de começar a fazer os programas ou foi algo que descobriu “ao longo do caminho”?
Curiosamente, tudo isto começou quando estávamos a gravar o episódio de Paris no “F*ck, That’s Delicious”. Isto há uns dois ou três anos. Durante um dos dois concertos esgotados que dei lá, num sítio lindo chamado Le Trianon, o meu amigo Clovis apareceu nos bastidores com um sumo incrível. Eu provei aquilo e fiquei maluco. Adorei e fiquei viciado. Depois fui tentando aprender mais sobre o assunto e no meio de tudo isso tornei-me passei a ser “o gajo do vinho natural”. Bro, nunca me vais ouvir dizer que sei tudo sobre qualquer coisa, eu não sei merda nenhuma sobre vinho natural. Fui procurando aprender mais sobre o assunto, estudei a coisa, mas não sei nem metade daquilo que outros entendidos sabem. Sou novo nisto, mas sei muito bem aquilo que gosto, sei o que me sabe bem. É assim que me tento guiar.

Tem muita gente a pedir-lhe dicas de sítios onde comer?
Sem parar! [risos] Tenho de fazer um blog ou uma revista ou algo do género.

"Eu trago os meus rapazes sempre comigo, a minha familia. Se eu me estou a divertir, todos os meus amigos também se estão a divertir. Não só isso mas também acho que vejo as coisas de uma perspectiva diferente. Eu não olho para as coisas de forma politica, só me quero divertir."

Já gravou programas em que países, na Europa?
Em muitos, muitos deles. Ainda há muito que quero conhecer. Já estive em grande parte da Escandinávia, mas quero muito conhecer melhor a Rússia, a zona dos Balcãs, a Grécia. Mergulhar ainda mais em Itália, visitar Portugal, Espanha… Vais a estes sítios uma ou duas vezes mas ficas sempre com a sensação de que deixaste mil coisas por conhecer. Quero conhecer o mundo inteiro, da América do Sul ao Sudoeste Asiático, Índia… Quero ir a todo o lado! Às ilhas Fiji, à Tonga, à Polinésia, às ilhas Salomão… Quero ver merdas estranhas, merdas completamente maradas!

Já alguém comentou consigo que o seu programa e o do Anthony Bourdain têm muitas coisas em comum?
Nem por isso… Não sei quão fixe ele é, mas posso te dizer que eu levo os meus amigos sempre comigo. Ele é uma solo hoe [algo como um “vadio solitário”, traduzido à letra]. Eu trago os meus rapazes sempre comigo, a minha família. Se eu me estou a divertir, todos os meus amigos também se estão a divertir. Não só isso mas também acho que vejo as coisas de uma perspectiva diferente. Eu não olho para as coisas de forma política, só me quero divertir. Toda a gente quer transformar tudo em algo maior, filho da puta eu só me quero divertir. Viver a minha vida e experienciar o máximo de coisas que conseguir. É só isso. Não há cá depressões, balelas subliminares sobre coisas que tu achas que as pessoas querem ouvir… Nada disso caralho. Eu estou-me a divertir. Estou mocado, bêbado e a viver.

[o episódio em que Action Bronson passa por Inglaterra:]

O que é que os rappers comem?
Há uns que gostam de haute cuisine, outros que acham que percebem do assunto… Sei lá. Toda a gente é diferente, gosta daquilo que gosta. Apenas sei que nós começamos isto. Eu comecei isto para muita gente. Só quero que toda a gente possa desfrutar e viver muitas das coisas que eu já conheci através deste programa. Espero que mais e mais pessoas consigam viajar e conhecer tudo isto, mas uma coisa te garanto: podem fazer muitos programas parecidos com o meu, mas “F*ck, That’s Delicious” há só um.

Gosta de cozinhar em casa?
Sim, claro. É o que eu mais gosto de fazer! Vou a muitos restaurantes, recolho muitas inspirações e influências para depois regressar a casa e criar.

Tem algum prato de assinatura?
Tenho muitos. Sabes onde os encontrares? No livro de receitas do “F*ck, That’s Delicious”.

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