Dois candidatos a candidatos presidenciais, um de direita (Marques Mendes) e um de esquerda (Francisco Assis), dividiram o palco do Campus Liberdade 23, do Instituto +Liberdade, para discutir o futuro de Portugal e ignoraram por completo a questão da corrida a Belém, que marcou a rentrée do novo ano político, exatamente devido ao comentário precoce de Luís Marques Mendes sobre o tema, em que admitiu uma candidatura caso veja “alguma utilidade”. Agora, perante uma plateia de jovens liberais, o antigo líder do PSD ativou o modo campanha com um disparar de críticas ao PS e ao Governo.

“Não há em Portugal coragem para agir, decidir e reformar. Andamos há anos e anos a fazer diagnósticos quando, no essencial, o que falta é saber decidir e ter ambição. Vou dar um exemplo: o primeiro-ministro apresentou algumas propostas, é difícil dizer que não têm algum sentido, mas este é o exemplo daquilo que não deve acontecer, é poucochinho e próprio de um primeiro-ministro sem ambição“, atira o ex-líder do PSD.

Marques Mendes foi mais longe para dizer que “o padrão é o mesmo” de sempre: “Apresentar várias pequenas medidas que, na prática, têm um papel muito reduzido, mas, uma a uma, permitem fazer um discurso”. “Chama-se a isto a gestão da retórica e da ilusão, cria-se a ilusão“, acusa Luís Marques Mendes.

Perante o grupo de 150 jovens liberais, Marques Mendes focou-se em “problemas de fundo” praticamente escolhidos a dedo para a plateia que tinha à frente: “O baixíssimo crescimento económico, jovens cheios de talento que saem do país e imigração”, dizendo que todos são “problemas sérios” e deixando uma questão no ar: “Algum destes problemas se resolve com este anúncio?” Recusa fazer “demagogia” e dizer que é possível “resolver tudo de uma assentada”, o que o leva a mais um disparo contra António Costa: “Durante oito anos, já se podia ter feito alguma coisa… ao menos que houvesse alguma perspetiva estratégica para o futuro.”

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Aos olhos de Mendes, falta “esperança” e “ambição”, ainda mais quando em Portugal há uma maioria absoluta e “uma oportunidade e condições de governabilidade que são melhores do que em qualquer outro modelo”. “Sempre que se pensa numa maioria absoluta é numa perspetiva de haver um processo de transformação. Onde é que existe esse projeto em Portugal?”

“Um país como o nosso não pode ser competitivo com este nível de fiscalidade no domínio das pessoas e das empresas”, alerta o ex-líder social-democrata, que cavalga o tema que tem marcado a rentrée, e que se atira ao facto de não haver um “projeto de transformação em nenhuma área”. “O problema é o crescimento económico”, insiste, enquanto arranca um aplauso aos jovens da plateia e resume: “Não temos cultura de criação de riqueza, estamos na cepa torta.

Ao seu lado, o socialista Francisco Assis — que Mendes considera que “devia ser ministro” —, alinhava na ideia de que um “grande falhanço” do país, em particular do PS e do PSD, foi não ter a capacidade de aproveitar as circunstâncias para fazer reformas. Francisco Assis dá o exemplo da justiça, enaltece que há “profundas disfuncionalidades” e não compreende o porquê: “O Presidente da República esforçou-se e não conseguiu. O Presidente não tem de se substituir aos partidos, nem ao partido de Governo nem aos da oposição; é o entendimento que tenho da função presidencial, mas em determinados momentos tem de ser a inspiração da vida política nacional e poderia e deveria ter moderado e inspirado — e fez o esforço em alguns momentos, mas por diversas circunstâncias as coisas não correram bem.”

Francisco Assis alerta para o facto de Portugal ter um problema de produtividade, frisa que esta “não cresceu e que é um dos grandes falhanços” do país, ataca a forma como os fundos comunitários são aplicados e como devia haver uma discussão sobre o tema e insiste na necessidade de Portugal ter mais autonomia económica e financeira.

Se Francisco Assis alerta que “é tão perigoso não sermos capazes de nos entendermos como é perigoso nos entendermos demais”, para defender que o “conflito” faz parte da política, Marques Mendes elogia a chegada da IL ao Parlamento (com um cumprimento especial a Carlos Guimarães Pinto, que era presidente quando o partido conseguiu a eleição de Cotrim Figueiredo) pelo facto de o liberalismo pertencer a um espaço que “fazia falta”.