A operação de resgate do PAN falhou e Pedro Fidalgo Marques não vai recuperar o lugar que Francisco Guerreiro vagou ao partido no Parlamento Europeu, em 2o2o. Quatro anos após ter visto aquele que foi o seu primeiro eurodeputado a tornar-se independente por “divergências políticas” com a direção, o partido animalista não voltou a garantir o lugar no hemiciclo europeu. A este desaparecimento soma-se o facto de ter perdido mais de 100 mil votos e de, com 1,2%, ficar atrás do ADN, partido encabeçado por Joana Amaral Dias nesta eleição.

“Partimos para estas eleições a tentar resgatar o lugar que nos foi tirado em 2020 e sabíamos que seria muito difícil”, assumiu Inês Sousa Real na reação aos resultados definitivos da noite eleitoral, apontado que “em democracia há alturas que em que se ganha e outras em que se perde. Duma coisa a porta-voz do partido não tem dúvidas, o órgão legislativo europeu “ficou mais pobre sem a representação do PAN”.

Questionada pelos jornalistas presentes no Teatro Thalia, onde decorreu a noite eleitoral do partido, sobre a perda de 100 mil votos em relação à eleição de 2019, a deputada única mencionou “pontos de partida muito diferentes”, lembrando que “cada ato eleitoral tem a sua particularidade” e acrescentando ainda a “instabilidade política” no país e no mundo. “Não podemos encarar a não eleição no Parlamento Europeu como uma derrota. Temos ciclos políticos tão curtos em que o eleitorado se tende a desmobilizar, é um fenómeno transversal a vários partidos”, defendeu.

Pedro Fidalgo Marques, o nome escolhido para liderar a candidatura europeia do PAN, sofreu uma derrota considerável na noite deste domingo, mas considera que quem mais perdeu foram as causas que o partido defende e lamenta que o partido não tenha conseguido eleger um eurodeputado que as pudesse defender ao nível europeu. “O PAN fez o seu caminho, está cá inequivocamente para as causas que representa, mais ninguém tem esta preocupação ambientalista e da proteção animal e nunca vai desistir dos animais e da Natureza”, assegurou, recusando tirar quaisquer conclusões internas a partir do resultado conhecido este domingo à noite.

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“Não perdemos este lugar hoje, perdemos em 2020”

“O nosso mandato fui perdido em 2020 e queríamos resgatá-lo”, afirmou Pedro Fidalgo Marques. Tanto o cabeça de lista às europeias como a porta-voz do partido fizeram questão de mencionar, ao longo de uma noite eleitoral de semblante carregado para os militantes presentes no Thalia, que a derrota não é atual. Recua a 16 de junho de 2020, data em que Francisco Guerreiro, eurodeputado eleito com pouca margem pelo PAN, em maio de 2019, se desfiliou apenas um ano depois de assumir o mandato, passando a independente em Estrasburgo.

“Não perdemos este lugar hoje, perdemos em 2020“, repetiu Inês Sousa Real, considerando que, se o trabalho político do partido não tivesse sido interrompido, o resultado desta eleição poderia ter sido diferente.

Eurodeputado Francisco Guerreiro sai do PAN por “divergências políticas” com direção

Tanto Fidalgo Marques como Sousa Real tentaram justificar a descida acentuada na votação com as novas forças que, em 2019, quando o partido angariou mais de 160 mil votos e 5% dos votos em Portugal, “não existiam“, bem como com o “crescimento da direita e extrema-direita” em toda a Europa.

Logo à entrada, quando ainda não havia uma derrota para justificar, mesmo que tudo já apontasse para ela, Sousa Real negou que a noite que estava a chegar fosse de “tudo ou nada”, recusando que o resultado das europeias colocasse de alguma forma o partido em xeque. “O PAN tem o seu caminho, tem representação nacional e nas regiões autónomas”, disse nesse momento e voltou a repetir a mesma ideia no discurso ao final da noite.

Fidalgo Marques andou à boleia da mesma ideia sempre que tomou a palavra, recordando, já depois de assumir a derrota, que o PAN “consolidou os seus resultados nas legislativas”, “reelegeu na Madeira e nos Açores” e continua a ter um “papel fundamental em diversas autarquias pelo país”.

Com pressa em deixar para trás a derrota europeia, Inês Sousa Real afirmou que o partido “está unido e pacificado” e já de olhos postos no próximo ato eleitoral: as eleições autárquicas de 2025.

ADN ultrapassa PAN. “É preocupante um partido que nega as alterações climáticas e a ciência ter este resultado”

Com todos os 21 mandatos de eurodeputados atribuídos e resultados fechados ao nível nacional, o PAN conseguiu 47.969 votos. São menos 6094 que o ADN (54.063 votos), o partido presidido por Bruno Fialho que se fez representar por Joana Amaral Dias na candidatura europeia.

A consternação dos militantes e dirigentes do PAN foi evidente durante toda noite eleitoral, levantado-se a hipótese, entre os presentes na sala do Teatro Thalia, de os eleitores terem voltado a confundir a AD com o ADN tal como terá acontecido nas últimas eleições legislativas.

Para que o episódio não se voltasse a repetir e para excluir o risco de confusão entre as designações, o PSD decidiu mudar a denominação da coligação eleitoral com o CDS-PP e o PPM para a eleição ao Parlamento Europeu para “AD — ALIANÇA DEMOCRÁTICA”, depois da semelhança com a designação com o ADN em março.

“Há nomes parecidos.” Para evitar “confusões” com ADN, AD publica vídeo a esclarecer eleitores

O PAN é, nestas europeias, a nona força política mais votada e ter sido o ADN o partido que o ultrapassou não é de somenos. Para Fidalgo Marques é “preocupante um partido que nega as alterações climáticas, a ciência e a Covid-19 ter este resultado”, referindo que existem até apoiantes da força política “a dizer que a terra é plana”.

Inês Sousa Real também não se conteve nas críticas ao e alertou para a necessidade impedir o “crescimento de forças políticas que são anti-direitos humanos”. E ressalvou que o ADN “não teve melhores resultados nos distritos em que que o PAN tem maior potencial de eleição, como o Porto, Lisboa e Setúbal”.