A investigação da Polícia Judiciária está cada vez mais convencida de que o plano de J. era fazer um ataque à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa a 11 de fevereiro. E as provas recolhidas nas buscas apontam para o perigo que o jovem de 18 anos representava naquele dia, caso não fosse travado por uma operação que eclodiu após um alerta das autoridades americanas. Mas, um mês após a detenção, a investigação praticamente não avançou, não foi ouvido o suspeito, nem sequer testemunhas — foi apenas passado a pente fino o material informático apreendido, sabe o Observador.
Os trabalhos estão neste impasse, enquanto se aguarda a conclusão das perícias feitas ao suspeito, a pedido do Ministério Público, por uma equipa de peritos. O objetivo é determinar se existe imputabilidade, ou seja, se o jovem tinha noção dos seus atos e pode ser responsabilizado por eles. Fontes conhecedoras deste processo garantem que há uma grande probabilidade de se concluir que J. é inimputável ou tem imputabilidade reduzida.
“Parece justo no meio disto tudo”, explica uma fonte que conhece a investigação, lembrando que está a ser feita uma análise “à personalidade” por psiquiatras e psicólogos. Mesmo que não seja declarado inimputável, a equipa de especialistas pode concluir pela existência de uma “imputabilidade reduzida”.
Recorde-se que além de uma besta, pequenas botijas de gás e da gasolina, o suspeito tinha em sua casa facas, que seriam usadas no ataque, acredita a Polícia Judiciária. “Ele sabe que nesta altura os corredores da universidade estão cheios e isso estava no plano”, explicou em fevereiro uma outra fonte ao Observador, lembrando que o suspeito pressupunha que da atuação resultassem mortos e/ou feridos. Uma convicção que se mantém.
Análise ao computador reforça perigo
Ao Observador uma fonte da Polícia Judiciária explica que neste último mês foi analisado o material informático apreendido no dia das buscas, tendo-se reforçado a convicção de que havia um plano em marcha. As perícias terão confirmado todo o plano e que iria ser executado nesse dia, embora J. já o tivesse planeado para dias anteriores.
Ao passarem a pente fino o que estava no computador, os investigadores terão encontrado, por exemplo, conversas com outra pessoa, com uma idade próxima da de J., sobre este tipo de ataques — uma pessoa que vive em Portugal, com quem falou de algumas ideias e com quem partilhava diversas coisas online, mas com quem não tinha grande proximidade, explica a mesma fonte.
Já as restantes diligências, como as inquirições do suspeito e de testemunhas, nunca chegaram a ser feitas — uma dessas testemunhas será a sua amiga M., de 21 anos, que com ele tinha conversas sobre este tipo de ataques nos EUA, segundo noticiou a Sábado esta semana. A jovem terá sido inclusivamente um dos motivos que fez J. vir estudar para Lisboa. “A influência da M. é sempre indireta”, diz a mesma fonte, alertando que esta ainda não foi ouvida e, por isso, qualquer conclusão é “precipitada”.
Amiga do jovem não é suspeita, mas será ouvida
Ainda que os investigadores tenham tido conhecimento dos contornos da relação entre os dois jovens — que não terá corrido como J. desejaria, em parte por causa da família de M. –, sobre esta jovem não recaem quaisquer suspeitas.
Para os investigadores, apurou o Observador, mesmo que M. tivesse em mente uma ideia qualquer isso só por si não será considerado como tendo relevância. “É necessário ir um pouco mais além, haver alguns atos de execução, alguns indícios. A questão do terrorismo passa sempre por aí, não basta estarmos ao nível do que se está a cogitar”, diz a mesma fonte, acrescentando: “É preciso plano, armas, algum indício”.
Tudo isso existe contra J. e, por isso, os investigadores acreditam que haverá uma acusação neste caso — “até porque há bastante prova que vem demonstrar o que se suspeitava inicialmente”. A inimputabilidade não impede o desenrolar do processo, apenas vai introduzir alterações na parte da responsabilização pelo crime, caso este fique provado, com a aplicação de medidas de segurança, que podem ser restritivas de liberdade se houver perigo.
O primeiro alerta deste caso chegou das autoridades norte-americanas, que deram conta à PJ de que havia um português que consumia literatura e sites relacionados com movimentos de “shooting e live shooting“. Mas não chegou muito mais informação dos EUA. Apenas era referido que havia “um indivíduo com um determinado perfil, muito curto, que andava a consumir essa literatura e que publicou algumas citações que lhes pareceram serem perigosas”, como explicou em fevereiro ao Observador fonte da PJ.
Para o FBI, que foi alertado por um informador, tratava-se de alguém que poderia estar “na iminência de cometer um ataque destes”. Foi depois a investigação desenvolvida pela PJ a descobrir o resto: “O cruzamento de vários elementos permitiu chegar à identidade de um jovem que encaixava neste tipo de perfil”. A investigação durou menos de uma semana e culminou com uma operação de buscas na sua residência.
Até esse momento foi montada uma mega vigilância, como o Observador revelou logo nessa altura — durante dias, homens a pé, em carros e em motas da Polícia Judiciária seguiram 24 sobre 24 horas o jovem de 18 anos suspeito de planear um ataque à Universidade de Ciências da Universidade de Lisboa. Sem que soubesse, o suspeito teve até companhia quando foi fazer um exame dias antes do suposto ataque.