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Um membro do FabLab Lisboa analisa um protótipo durante um Open Day
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Um membro do FabLab Lisboa analisa um protótipo durante um Open Day

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Um membro do FabLab Lisboa analisa um protótipo durante um Open Day

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Makers: os artistas, inventores e faz-tudo que recusam classificações

São guardas prisionais que constroem máquinas, empreendedores que lançam negócios próprios ou oficinas de prototipagem para uso comunitários. Todos juntos são makers, "inventores dos tempos modernos".

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Estão em garagens, oficinas coletivas, laboratório apoiados pelo Estado e espaços de colaboração criativa. Desenvolvem protótipos com ferramentas industriais, cruzam arte com tecnologia e desmontam máquinas de jogos. Há designers e arquitetos, mas também há guardas prisionais e estudantes universitários, artistas e inventores. Uns reconhecem-se como artistas, outros como curiosos das coisas e ainda há quem vá buscar o rótulo mais abrangente: maker. Em geral, preferem dizer que são muitas coisas. E tanto alugam um espaço num workspace como reservam tempo numa máquina laser de um laboratório.

O que une a comunidade maker portuguesa? A vontade de experimentar, construir e modificar — de ser um fazedor, até porque o termo maker vem de make, que em português se traduz para “fazer”. No FabLab Lisboa, a palavra de ordem é a experimentação, na Fábrica Moderna é a partilha e no altLab é o conhecimento.

Todas as definições do movimento são redutoras, mas há uma inspiração comum: o lema a que todos aderem é o “Faça Você Mesmo” (Do it Yourself, DIY, no original), que deu origem aos makerspaces hackerspaces. No primeiro, cria-se de quase tudo, de bordados a plantas geneticamente modificadas. No segundo, modificam-se ou reparam-se coisas que já existem. Ambos os sítios podem funcionar numa lógica comercial (pelo pagamento de quotas, a venda de workshops ou a venda de produtos desenvolvidos) ou semi-amadora.

Portuguese Makers. Eles querem pôr-nos a fazer coisas

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O movimento começou há 21 anos, nos Estados Unidos da América. Em 1998, a universidade do MIT introduzia aquela que rapidamente se tornaria numa das disciplinas mais populares: How to Make (Almost) Anything. A aula, introduzida pelo cientista informático Neil Gershenfeld, queria dar aos estudantes de engenharia o acesso a ferramentas industriais, mas com o passar do tempo, como explicou Neil Gershenfeld à CNN em 2010, a lógica alterou-se por completo: “Os alunos estavam a responder a uma pergunta que eu não estava a fazer: Para que é que isto serve?’. E a resposta era: ‘Não para criar aquilo que se pode comprar numa loja, mas para criar o que não se pode comprar numa loja, para personalizar a fabricação'”.

O fundador do primeiro FabLab na China (XinFab), o brasileiro Lúcio Pentagana Guimarães, refletia o mesmo numa entrevista de 2019 ao E2: “É o inconformismo de comprar pronto. O maker quer modificar, quer pôr o seu toque nas coisas”.

Em 2001, o MIT formalizou o espírito dos alunos no Center for Bits and Atoms, que ficaria responsável pela criação do primeiro FabLab do mundo — um FabLab é um makerspace que possui determinados equipamentos mínimos e segue uma série de princípios universais: a Fab Charter. São sete mandamentos na forma de pergunta-resposta, que definem os FabLabs atuais como “uma rede global de laboratórios locais que fomentam o espírito de inovação e criatividade oferecendo acesso a ferramentas de fabricação digital”.

São uma rede global porque, no total, existem pelo menos 1205 laboratórios registados com a FabFoundation (criada em 2009 para gerir o movimento), distribuídos por todos os continentes exceto a Antártida.Em Portugal, são 19. O primeiro makerspace português com a lógica de um FabLab surgiu em 2010, no Porto (OPO’Lab). Só ano seguinte seria fundado o primeiro espaço formalmente nomeado como FabLab: o FabLab EDP, em Lisboa.

FabLab Lisboa: O laboratório público

Um jogo de speed-dating (o Ice Breaker) ou máquinas de tecelagem. Em cada canto do FabLab Lisboa, financiado pela Câmara Municipal de Lisboa e sediado no Mercado do Tijolo, há uma invenção diferente. “Há quem venha com um produto em mente, que no final poderá gerar uma startup e há quem venha cá como hobby, para partilhar ideias”, explica o coordenador de programação do espaço, Rafael Calado. Os restos de experiências na robótica, artesanato e principalmente no design, ocupam e decoram prateleiras e armários, sendo que a lógica é tendencialmente a de prototipagem.

Numa das paredes, por baixo de um cachecol com o logótipo do FabLab, estão autocolantes de outros espaços (makerspaces e hackerspaces) que passaram pelo laboratório em visitas ou colaborações. É visível a “super dinâmica” comunidade maker portuguesa e europeia, em que o FabLab Lisboa se insere, diz Rafael Calado. Em Portugal, “a comunidade é maioritariamente informal e está reunida À volta de sub-grupos muito fluídos, que discutem temas específicos porque gostam de hacking ou de fresadoras”. Mas o gosto generalizado pela criação não se reflete necessariamente numa propagação dos espaços dedicados aos makers: “Ainda estamos um bocadinho na garagem. É uma comunidade de indivíduos curiosos”.

"Nós não somos uma empresa para gerar lucro daqui a um mês. Plantamos sementinhas, que hão-de dar dinheiro daqui a uns anos, não a nós, mas à sociedade. Para o Estado, é como investir numa escola, é responder à responsabilidade de pensar nas gerações futuras"
Rafael Calado, Coordenador do FabLab Lisboa

Os cinco funcionários a tempo inteiro do FabLab Lisboa servem, em média, mais de 200 pessoas por mês. Além dos dias abertos gratuitos para prototipagem autónoma (terças e quintas), há quem vá a workshops temáticos (da eletrónica à impressão 3D, durante a semana e também ao fim de semana) e quem pague o aluguer do espaço às quartas-feiras (o dia de produção).

As quartas são dedicadas a pequenas produções, pagando-se o aluguer das máquinas e se do serviço de apoio de especialista necessário, permitido criar objetos em maior quantidade, para testar um protótipo antes de o levar ao mercado, por exemplo. Mas, sublinha Rafael Calado, o que querem não é que lhes paguem o serviço de apoio, mas sim “motivar as pessoas a trabalharem sozinhas” — “O nosso intuito não é fazer produção nem maquetas. A nossa lógica é a da experimentação”.

As segundas e sextas estão reservadas para a gestão interna e para residentes: designers, empreendedores, inventores e artistas convidados que produzem trabalhos “importantes para o FabLab e para a cidade”. O processo de residência deverá passar a ser feito por uma open call — um convite público – que terá um foco temático e do qual serão selecionados projetos de importância reconhecida. “As primeiras residências estão ligadas ao desenvolvimento de um Bio Lab, com experimentação biológica feita em parceria com a Faculdade de Ciências [da Universidade de Lisboa]”, avança Rafael Calado.

Estabelecer um makerspace tem um custo variável. O investimento da Câmara Municipal de Lisboa no FabLab Lisboa, de acordo com os valores avançados ao Observador, terá rondado os 200 mil euros. Anualmente, mantêm-se gastos em funcionários, na manutenção do espaço e em materiais para projetos, mas para Rafael Calado, o espaço gera retornos indiretos: “Não somos uma empresa para gerar lucro daqui a um mês. Plantamos sementinhas que hão-de dar dinheiro daqui a uns anos, não a nós, mas à sociedade. Para o Estado, é como investir numa escola, é responder à responsabilidade de pensar nas gerações futuras”.

Rafael Calado, coordenador de programação FabLab Lisboa

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

A partilha de conhecimento é fulcral, explica, dando aos espaços “uma vertente mais educacional, daí que mais de metade dos FabLabs estejam ligados a instituições”. Estas instituições tanto podem ser governamentais (com financiamento local, regional ou nacional) como fundações públicas ou empresas privadas – é o caso do FabLab EDP, por exemplo. Um FabLab privado sustenta-se “através de workshops ou cobrando pelo acesso às máquinas”. Já o FabLab Lisboa (estabelecido pela Câmara Municipal de Lisboa no verão de 2013) quer “promover o conhecimento e a criatividade através do acesso às ferramentas”.

"Basta querer fazer algo para se ser um maker"
Carlos Roque, responsável pelo desenvolvimento de projetos no FabLab Lisboa

“Cada pessoa é um potencial maker, aliando as suas capacidades às suas motivações”, explica o responsável pelo desenvolvimento de projetos no FabLab Lisboa, Carlos Roque. “Basta querer fazer algo para se ser um maker”, conclui.

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Existirão 40 espaços para criadores em todo o país (contabilizando tanto hackerspaces como makerspaces ativos), que se articulam através de plataformas digitais e de encontros físicos regulares – o último foi organizado em Torres Vedras por “um FabLab que não está registado nem na FabFoundation nem na Associação Nacional”, prova da fluidez transversal ao movimento.

“Não somos muitos a puxar os cordelinhos e a fazer contactos, mas nota-se que cada vez há mais gente na comunidade”, admite Rafael. E, mesmo que o FabLab não traga para si um papel de ativismo, essa é uma faceta visível do movimento: “Há preocupações que vão da economia circular ao direito de reparar e direito de modificar que chegam a ser pilares centrais de alguns espaços”.

Carlos Roque, responsável pelo desenvolvimento de projetos no FabLab Lisboa

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Carlos Roque acrescenta que “é uma comunidade que diferencia as pessoas pelas preocupações que têm, articuladas como uma vontade criativa muito forte”. “O mais importante é não ter medo de errar. No sistema normal, falhar é algo mau. Nós não nos preocupamos muito se alguém fizer um corte mal na máquina laser. Da próxima vez vai fazer melhor”, reforça o Rafael Calado, continuando: “Todos os erros vão sendo acumulados para gerar mais conhecimento e experiência partilhada não só dentro do FabLab como de toda a comunidade”.

Qualquer pessoa pode usar o FabLab Lisboa. Para os curiosos, há funcionários disponíveis para explicar como funcionam as máquinas, que podem ser reservadas reservas a partir de 2 horas (e com slots mínimos a partir de 15 minutos) . “A noção de comunidade é muito importante para a definição do FabLab. Alguns espaços estão abertos só a estudantes, por exemplo, mas nós queremos chegar a todos os munícipes”, justifica o coordenador de programação do espaço.

Fábrica Moderna: A oficina que é mais do que um makerspace

"Um maker não deixa de ser um maker por ter uma componente comercial"
Rita Sampaio, co-fundadora da Fábrica Moderna

Em Marvila, desde 2017 que há um armazém que se transformou numa oficina criativa partilhada. O foco, nas palavras da co-fundadora Rita Sampaio, encontra-se em procurar o sucesso numa lógica profissionalizante: “Um maker não deixa de ser um maker por ter uma componente comercial. Os nossos residentes são freelancers, têm negócios e empresas. Não somos só um espaço para makers, somo um espaço para artistas, designers e também para makers”.

A Fábrica Moderna não se identifica nem como cowork nem como makerspace. “É um espaço onde se entende que as pessoas podem e devem fazer barulho, fazer coisas com cheiros, trabalhar com máquinas sabendo que a pessoa a trabalhar ao lado sabe que têm uma razão para o que estão a fazer – não estão a fazer barulho para incomodar”, explica o outro fundador, Vasco Cosme.

O espaço distancia-se da lógica de hobby associada aos makerspaces tradicionais. “O amadorismo é o amor pelas coisas, o que é fantástico, mas não é sustentável, precisa sempre de mais apoios”, afirma Vasco Cosme, continuando: “Há coisas que me fazem confusão nos FabLabs. Olho para aquilo e penso que é uma perda ver tanto valor tão mal dirigido e foi por isso que quis encontrar um sistema que permitisse às pessoas talentosas chegar ao fim dos projetos e fazer dinheiro”. Para fazê-lo é preciso criar uma estrutura de apoio comercial, dirigida por “pessoas que percebam de negócios, não por pessoas que percebam de viver na Câmara”.

"Há coisas que me fazem confusão nos FabLabs. Olho para aquilo e penso que é uma perda ver tanto valor tão mal dirigido"
Vasco Cosme, co-fundador da Fábrica Moderna

Para funcionar, é preciso uma dedicação comum à rentabilidade, garante Vasco Cosme: “Se estiverem focados, os criadores conseguem ser sustentáveis. Têm é de estar numa comunidade com esse objetivo. Não podem ser dois com bons negócios e dez a fazer as coisas por diversão”. O ambiente é mantido filtrando os membros da oficina: “Queremos saber se os projetos têm viabilidade, se a pessoa é dedicada e se traz uma energia positiva para o espaço. As coisas boas contagiam e as coisas más também”.

O espírito comunitários dos makers é visível. Há espaços partilhados e zonas individuais que devem “permitir que as sinergias surjam naturalmente”, nas palavras de Rita Sampaio “As pessoas têm de estar sintonizadas em termos de qualidade e de objetivos. É preciso que cheguem a ser fãs do trabalho uns dos outros, que se respeitem”, diz Vasco Cosme. A interdisciplinaridade da Fábrica Moderna permite a “agregação do valor do trabalho dos vários membros”.

Vasco Cosme (à esquerda) e Rita Sampaio (à direita), co-fundadores da Fábrica Moderna

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Quase todos os residentes (o custo de arrendar um espaço na oficina começa nos 120 euros mensais) referem a importância do coletivo. Mafalda Zagalo, que cria bordados sob a marca Meaningful Designs, garante que a trabalhar em casa “não tinha feito metade” do que fez na Fábrica Moderna: “Se não tenho conhecimentos, posso sempre pedir a alguém que me ajude. Como somos pessoas com backgrounds e pontos de vista diferentes crescemos juntos”.

A máquina de bordar usada por Mafalda Zagalo

Os projetos crescem em paralelo e em conjunto. Além da colaboração pontual nascem no espaço parcerias continuadas. No topo da oficina, invejado por ser o local mais quente do armazém, reúne-se o auto-intitulado núcleo de comunicação da Fábrica Moderna. Em três secretárias, às quais acedemos trepando escadas tão inclinadas que lembram as de um navio, reúnem-se conhecimentos de fotografia, design gráfico, motion graphics e criação de websistes.

“Não foi nada programado”, admite a designer Susana Aulbiero, explicando que “foram surgindo as pessoas e a Fábrica Moderna precisou de fazer uma série de trabalhos”, portanto decidiram reunir-se num só espaço. A união ajuda a criar em conjunto, a partilhar trabalho e a “gerar amizade entre todos os membros”, espírito que a designer associa à gestão dos fundadores do espaço.

Na secretária ao lado, a fotógrafa Cátia Barbosa, reforça a noção de comunidade: “É muito importante a partilha constante, a disponibilidade dos colegas para dar feedback e uma palmadinha nas costas nos dias mais difíceis”. O espírito da Fábrica Moderna é o do retorno: “Acredito que, a longo prazo, se dás apoio aos teus amigos e colegas, depois vais receber esse apoio. Isso é que gera esta união”.

Uma união que, à imagem da comunidade maker, se faz com uma diversidade visível de métodos, percursos e objetivos, que unem o tradicional à tecnologia de ponta. Lado a lado cria-se a cerâmica utilitária de Mariana Filipe (Malga) e a impressão 3D em barro de Isaac Gens (Drama Lisboa). Num espaço separado, trabalha o arquiteto de formação Pedro Martins (Vinco e HangBoards), que admite, em tom de gozo, estar “perdido entre tantos artistas”, e o carpinteiro de pequenas peças Frederico Fero. Numa oficina anexa ao armazém está instalado o italiano Flávio Persico (Marelungo), apaixonado pela criação com couro. Em cada esquina há um criador. Demasiados para enumerar. Tanto que, no espaço atual, há espaço para mais “dois ou três residentes, no máximo”, assume Vasco Cosme.

A impressora 3D de barro de Isaac Gens

O nosso foco é tornar este espaço rentável e sustentável sem precisar de quaisquer apoios governamentais”, sublinha Vasco Cosme. O futuro é o de crescimento continuado, sem falta de ambição. Se houver interesse, e bons projetos, surgirá espaço. Rita Sampaio, brincando coloca os limites da Fábrica Moderna muito para lá do armazém atual: “Qual é o tamanho de Marvila?”.

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altLab: O hackerspace das horas vagas

No altLab, o amadorismo é razão de orgulho.”Está tudo no espírito de entreajuda. Isto é uma tertúlia maker a que as pessoas vêm para esquecer os problemas do trabalho e de casa”, explica João Alves, um dos membros. “Queremos fazer coisas. Quando fazemos algo, temos um aumento de adrenalina e de bem-estar que nos traz aqui repetidamente, mesmo que isto não seja a nossa atividade principal”, continua.

O espaço podia ser problema no altLab, não fosse o espírito do hackerspace criado em 2009 o de fazer o melhor com o que se tem. O grupo de entusiastas fala constantemente online e reúne-se todas as sextas-feiras numa pequena oficina anexa ao FabLab Lisboa (e cedida pela organização em 2015). Funcionando de forma autónoma, coletiva e horizontal (sem hierarquias), todos pagam quotas, apoiam os projetos do grupo e trabalham fora da zona de conforto. O lema do altLab traduz-se num DIT: Do It Together (Faça Em Conjunto), por oposição ao típico DIY. Afinal, como caracteriza João Silva, o “processo de criação pode ser solitário, mas faz mais sentido em equipa”.

João Silva é guarda prisional

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Para manter o bom ambiente o altLab desenvolve constantemente novos projetos. Em 2019, adaptaram a fonte de energia de um micro-ondas para criar uma máquina de soldar e voltaram a pensar num projeto que se arrasta há anos: construir de raiz um sistema para fermentar cerveja.

"Se a informação não é disponibilizada temos de andar todos a reinventar a roda. E só vale a pena reinventar a roda se quisermos saber muito sobre rodas"
Vinicius Silva, membro do altLab

Tudo o que se faz no altLab é, ou deve ser, documentado em detalhe, explicado e partilhado online através da plataforma que criaram, o Documenta. O princípio de software open source aplica-se a toda a fabricação (open hardware) e o objetivo, define Vinicius Silva, é o de promover a criação de “fogueiras digitais” e de “comunidades centradas na partilha de conhecimento”.

“A chama aqui é o conhecimento e o conhecimento partilhado de forma estruturada é uma linguagem. Com a linguagem comunica-se, aprende-se e evolui-se. O maior inimigo da sociedade atual é a ignorância“, diz. Quando as formas de documentar não são preparadas há “muita vida e muito crescimento, mas não há cristalização”, o conhecimento morre com as pessoas. “Se a informação não é disponibilizada temos de andar todos a reinventar a roda. E só vale a pena reinventar a roda se quisermos saber muito sobre rodas.”

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Arrumar bem o conhecimento é também uma forma de responsabilização: “Dá-se valor a quem ajudou a criar algo, e tem-se a capacidade de saber quem fez o quê, tanto bem como mal. É transparência, kudos e traceability“.

“Algumas pessoas até acharam estranho isto de dar conhecimento sem dar nada em troca. Para mim é interessante e útil partilhar informação”, acrescenta João Alves, continuando: “Poder trocar experiências e descobrir áreas novas, fora da minha atividade profissional é o que me traz aqui”.

João Alves trabalha em informática

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

A ideia é uma forma assumida de ativismo: “Somos fazedores de lixo, mais do que orgânico, eletrónico. Nasce de não estar vincado o direito à reparação, que devia quase ser uma obrigação. Sempre que algo se estraga deitamos fora e compramos novo”. Além disso, a legislação de alguns países “impede as pessoas de modificar os próprios bens”. Para João Alves, a noção de open source liga-se a tudo isto: “Devia ser obrigatório uma marca divulgar toda a documentação sobre um produto que deixou de vender e reparar. Para eles é obsoleto. Para as pessoas faz toda a diferença”.

O altLab envolve-se na comunidade maker através de uma newsletter semanal, disponibilizando um fórum de discussão aberto, de workshops e iniciativas pontuais, como o  Café Conserto — momento em que se juntam makers e pessoas com aparelhos avariados para os desmontar e perceber como funcionam. “O objetivo não é o de fazer comida para as pessoas nem dar-lhes peixe, é ensiná-las a pescar”, brinca Vinicius Silva. A expetativa é a de que se desenvolva de forma orgânica.

"Ser um maker ou ter atitude de maker são coisas diferentes. Há makers que são profissionais. Mas o que o maker é é o inventor dos tempos modernos, é alguém que faz coisas, todo o tipo de coisas"
João Alves, membro do altLab

“Não há concorrência entre espaços”, garante João Alves. “A única coisa que nos gera animosidade é ter alguém a tentar usar o nosso espaço e o nosso tempo para fins comerciais, sem qualquer contrapartida. Somos um pouco anti-comerciais”. A contrapartida não implica um pagamento ao altLab, idealmente passa apenas pela disponibilização de todo o projeto num formato open source.

Apesar de hoje existir uma comunidade, João Alves diz que ela já foi mais forte no passado. A chegada de convenções para makers (a Maker Faire) a Lisboa trouxeram atenção ao movimento e ao longo de três edições (2013, 2015 e 2016) o altLab participou individual ou coletivamente e chegou a receber prémios por criar uma máquina de garra controlada por um comando de televisão.

Maker Faire: o movimento “mostra e conta” regressa a Lisboa

João Alves vê o interesse variável como algo cíclico: “O movimento esmoreceu nos últimos anos. Vieram as Maker Faires e houve um boom no interesse pela comunidade maker. Depois passou onda e ficaram os FabLabs. Mas os maiores clientes dos FabLabs nem são os makers, são pessoas que precisam de ferramentas para atividades profissionais ou académicas”.

“Ser um maker ou ter atitude de maker são coisas diferentes. Há makers que são profissionais. Mas o que o maker é é o inventor dos tempos modernos, é alguém que faz coisas, todo o tipo de coisas”, esclarece João Alves, antes de abrir um tutorial de YouTube para guiar os colegas na montagem da máquina de CNC que tinha chegado naquele dia ao espaço.

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