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"Novela" grega. Cinco prognósticos sobre o que vem aí

A crise grega continua a dominar as atenções e é o principal risco para a economia europeia. A poucos dias do "momento da verdade", saiba o que pode acontecer, na visão dos bancos de investimento.

As negociações entre o governo grego e as instituições credoras (anteriormente conhecidas como troika) estão a poucos dias de terem, forçosamente, uma conclusão. Seja uma que viabilize o fecho da última avaliação do segundo resgate, estendendo a novela grega por mais alguns meses, ou uma conclusão que arrisca ditar a saída da Grécia da zona euro. Do lado de Atenas, a mensagem passada é de otimismo, ainda que Alexis Tsipras continue a garantir aos seus colegas do Syriza que não irá aceitar “exigências irracionais”. Os outros países, com a Alemanha e o seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, à cabeça, dizem que esse otimismo “não tem substância e que existe, apenas, na atmosfera”.

A pouco mais de uma semana da data em que a Grécia tem de pagar 302 milhões ao FMI, no dia 5 de junho (o “momento da verdade”, segundo um responsável do Syriza), apresentamos-lhe cinco prognósticos de um conjunto de bancos de investimento internacionais e gestoras de fundos que fazem as suas apostas sobre o que irá acontecer.

1. UBS dá quatro cenários. Dois passam pela saída da Grécia do euro

WALTER BIERI/EPA

O UBS mantém como cenário central que a saída da Grécia da zona euro será evitada. Reinhard Cluse, economista-chefe do banco suíço, afirma em nota de análise recente que as partes deverão acabar por chegar a um acordo que viabilize a conclusão do segundo resgate (cujo prazo foi, em fevereiro, alargado para junho). Até lá, continuará a haver “tensão“, “confronto“, “receios” e “nervosismo“, reconhece o UBS. Mas o acordo chegará, não só sobre a conclusão do segundo resgate mas, também, para o mais que provável terceiro resgate.

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“A chave para o fim do impasse é que o governo grego, perante finanças públicas cada vez precárias e perda de depósitos no setor bancário, acabe por se ver forçado a fazer cedências mais abrangentes em áreas cruciais como a reforma das pensões e do mercado de trabalho, os impostos e as privatizações”, escreve o UBS. Para que isso aconteça, Alexis Tsipras teria de contrariar a ala mais extremista do seu partido ou, eventualmente, alargar a coligação governativa para incluir partidos mais moderados.

Isto, claro, no cenário central do UBS. É que o banco admite mais três cenários alternativos – dois dos quais significariam o Grexit, ou seja, a saída da Grécia da união monetária. O segundo cenário mais provável é que o tempo passe e a Grécia acabe por falhar algum pagamento de dívida. Nesse caso, “o risco de Grexit subiria, claramente, mas não seria algo inevitável”. Dependeria de saber, exatamente, em que tipo de dívida é que a Grécia incumpriu (BCE, FMI, dívida de curto prazo, empréstimos internos, etc.) e, associado a isso, qual seria a reação do BCE (cortar o financiamento aos bancos ou não).

Os outros dois cenários, que levariam ao Grexit, distinguir-se-iam um do outro porque um seria uma saída rápida após um incumprimento ou uma saída retardada em que se começaria por emitir uma moeda paralela. No primeiro caso, uma falha de pagamento desencadearia um sucessão rápida de acontecimentos, entre os quais fuga de depósitos (até que fossem – se fossem – instaurados controlos de capitais). O governo acabaria por ter de imprimir moeda própria para tentar que a economia não derrapasse totalmente.

No último caso, a moeda paralela seria introduzida lentamente, primeiro para pagar despesas internas. Mas a chamada Lei de Gresham, da Teoria económica, define que a existência de uma moeda paralela (que poderia, depois, mudar de mãos entre os gregos como de qualquer moeda se tratasse), de valor mais baixo, tende a reduzir a circulação da moeda mais forte (o euro) até que esta deixa de desempenhar um papel importante nas transações. O resultado final seria, igualmente, a saída do euro.

Para mais detalhes, pode encontrar aqui o link para a nota de análise do UBS.

2. Royal Bank of Scotland acredita que a Grécia terá um "acordo intercalar"

ANDY RAIN/EPA

A equipa de economistas liderada por Alberto Gallo, do Royal Bank of Scotland (RBS), acredita que a crise atual terá uma resolução faseada, mais precisamente em duas fases. “Parece cada vez mais provável que exista um acordo intercalar, com um desembolso na ordem dos quatro mil milhões de euros, com negociações paralelas, até ao outono, sobre as reformas do mercado de trabalho e das pensões, com vista ao terceiro resgate“, escrevem os especialistas do RBS.

Líderes europeus como Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, têm descartado publicamente esta hipótese, exigindo um acordo pleno sobre todas as matérias em análise para que conclua o segundo resgate. E só depois, portanto, se dará início aos trabalhos com vista a um programa subsequente. O RBS acredita, contudo, que a Europa irá ceder nesta matéria e permitir este acordo intercalar, na linha do que foi admitido recentemente pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Essa será, também, a preferência do governo de Tsipras, que conseguiria, assim, alguma liquidez. Liquidez que poderia, ainda assim, não chegar para o verão – é impossível calcular ao certo. Um acordo mais abrangente ficaria para o outono, o que daria a Tsipras tempo para vergar a oposição dentro do próprio partido Syriza. A batalha, nessa altura, poderá travar-se entre até onde a Grécia está a disposta a ir nas reformas e até onde a Europa está disposta a ir no alívio da dívida. Um ponto importante a este respeito do timing para esta discussão: vários países da zona euro, incluindo Portugal e Espanha, estarão em eleições ou em campanha eleitoral.

Ao obter um acordo intercalar, que o RBS acredita que poderá chegar nestas próximas semanas, a Grécia poderia, também, atenuar um outro risco crucial: a Espada de Dâmocles que pende sobre o país e que está relacionada com o financiamento do BCE aos bancos gregos. Um acordo intercalar seria suficiente para que o BCE pudesse continuar a poder “distanciar-se da disputa política, mantendo provavelmente a liquidez aos bancos gregos, para já”.

Para mais detalhes, pode encontrar aqui o link para a nota de análise do RBS.

3. BlackRock quer que se faça um referendo para acabar com o impasse

Getty Images

Foi após declarações do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, na última reunião do Eurogrupo, que ganhou força a hipótese de um referendo na Grécia como forma de tentar acabar com o impasse que se arrasta há quatro meses. A Alemanha, que em 2011 criticou duramente Georgios Papandreou, o primeiro-ministro de então, por querer fazer um referendo para preparar o segundo resgate, decidiu, agora, sugerir esse instrumento como forma de levar os gregos a pronunciarem-se sobre se aceitam, ou não, que o governo assine um novo acordo com os credores.

Para a maior gestora de fundos de investimento do mundo, a BlackRock, um referendo seria a solução “mais sensata”, porque ajudaria Alexis Tsipras a combater a oposição interna no Syriza e vincularia a população a um acordo. Isto, claro, se o resultado fosse favorável a um compromisso. Nesta altura, a BlackRock aponta para uma probabilidade de 20% a 25% de uma saída da Grécia da zona euro porque, como diz Sergio Trigo Paz, responsável pelo investimento em dívida de mercados emergentes da BlackRock, “a forma como a Grécia geriu estas negociações colocou o governo numa posição isolada“.

Num encontro com jornalistas em Londres, na última quinta-feira, os analistas da BlackRock sublinham que a população grega tem manifestado que quer manter-se na zona euro, o que lhes dá confiança de que o referendo teria um resultado no sentido de um acordo entre a Grécia e os credores. Este sábado foi divulgada uma sondagem que suporta essa opinião, já que, segundo esta consulta, 61,2% dos gregos acreditam que o governo acabará por chegar a um acordo com a Comissão Europeia, BCE e FMI. Isto apesar de uma proporção similar dos consultados (58,4%) acreditar que esse acordo levará a mais austeridade.

Um outro ponto interessante que saiu desta sondagem é que, entre aqueles consultados que dizem apoiar o Syriza, apenas 29,1% defendem que o governo deve adotar uma posição mais dura nestas negociações. Perante dados como este, a BlackRock acredita que, se o referendo que defende vier a realizar-se, a vontade da população grega passaria de ser um fator de bloqueio – já que o Syriza ganhou as eleições prometendo acabar com o programa da troika – para ser um fator conducente a um compromisso entre as partes.

4. Barclays diz que referendo não chega. Uma crise política é inevitável

Mario Cruz/LUSA

A equipa de economistas liderada por François Cabau, do Barclays, não acredita que o governo atual, liderado por Alexis Tsipras, tenha condições – mesmo com um referendo – de se manter em funções perante a magnitude das cedências que os credores exigem. Uma crise política é, na visão do Barclays, uma inevitabilidade. Mesmo que seja possível chegar a um acordo técnico de última hora, “a marcha-atrás em relação às promessas eleitorais levará, provavelmente, a uma crise no governo”, escreve o banco de investimento numa nota de análise publicada na última semana.

A confirmar-se a crise política, esta deverá resultar numa remodelação governamental, com vários membros mais radicais dos partidos da coligação a saírem. É possível, diz o Barclays, que Alexis Tsipras quebre a coligação com o partido de extrema-direita Gregos Independentes (ANEL), liderado por Panos Kammenos, e que escolha um novo parceiro de coligação. O Barclays considera que este seria um cenário menos disruptivo do que um referendo ou eleições antecipadas.

Uma remodelação poderia ajudar a Grécia a assegurar uma conclusão do segundo programa de resgate, algo que ajudaria muito a atenuar os receios atuais de um incumprimento na dívida por força da posição precária do Tesouro público. Sem este acordo, acrescenta, a Grécia caminhará para um futuro conturbado, marcado pela bancarrota e pelos controlos de capitais.

5. Bank of America tem uma alternativa "teórica" ao terceiro resgate

AFP/Getty Images

Quase todos os especialistas veem como um cenário mais do que provável que a Grécia vá ter um terceiro resgate. Tendo em conta a dificuldade que está a verificar-se na conclusão da última avaliação do segundo resgate, muitos destes especialistas alertam que as negociações para um terceiro resgate serão ainda mais difíceis. Porquê? Porque obrigarão a novas consultas em vários parlamentos da zona euro, alguns dos quais pouco favoráveis a mais pacotes de resgate para a Grécia. Além disso, a discussão ocorrerá, provavelmente, numa altura sensível marcada por eleições legislativas em países como Portugal e Espanha.

É nesse contexto que a equipa de economistas liderada por Athanasios Vamvakidis, do Bank of America-Merrill Lynch, traça um cenário “teórico” mas que “vale a pena ponderar”deixar a Grécia por sua própria conta assim que for possível concluir as negociações relativas ao segundo resgate. Em vez de um terceiro resgate, o especialista acredita que, tendo em conta o momento delicado de eleições na Europa, é possível gizar um plano de quatro fases que mantenha a Grécia na zona euro sem um terceiro resgate.

O plano passaria por uma decisão política de permitir que a dívida que a Grécia tem junto do BCE (que o banco central comprou no auge da crise e não foi trocada na reestruturação de março de 2012) fosse paga pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). Seria uma forma indireta de financiar a Grécia, ou seja, ajudar o país a satisfazer as necessidades de financiamento sem um novo pacote de resgate.

O plano passaria, também, por rescalonar os empréstimos europeus à Grécia, mediante um acordo com a Grécia sobre um objetivo de um saldo orçamental primário de 2% a 3% do PIB [o saldo orçamental é a diferença entre receitas e despesas, excluindo juros]. O economista calcula que, mediante o cumprimento deste objetivo, será possível a Grécia pagar todas as suas dívidas a tempo, sem necessitar de um terceiro resgate, até porque a Grécia não tem de se preocupar nos próximos anos com o reembolso dos fundos europeus recebidos em 2012.

Pode ler mais detalhes sobre a proposta do Bank of America-Merrill Lynch neste documento (Greece: Time to think outside the box)

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