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O caso aconteceu no passado dia 30 de julho na Costa da Caparica
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O caso aconteceu no passado dia 30 de julho na Costa da Caparica

O caso aconteceu no passado dia 30 de julho na Costa da Caparica

Os insultos, a detenção e as reações. O caso de racismo contra os filhos dos atores brasileiros em 7 pontos

Crianças têm 7 e 9 anos e foram alvo de insultos racistas: "Pretos imundos". O que se sabe sobre a suspeita, agora alvo de uma queixa por discriminação racial? O que se passou ao certo?

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O vídeo que circula nas redes sociais mostra a atriz brasileira Giovanna Ewbank a gritar: “Racista nojenta”. A mulher para quem grita está sentada, mas momentos antes tinha entrado num restaurante na Costa da Caparica e terá começado a insultar os filhos da atriz, casada com o também ator Bruno Gagliasso, e um grupo de angolanos que ali se encontrava. “Pretos imundos”, “voltem para África”, “voltem para o Brasil”, “Portugal não é lugar para vocês”, terão sido alguns dos insultos proferidos — mas desse momento não há registos em vídeo.

Rapidamente o caso ganhou dimensão no Brasil e o mesmo está a acontecer em Portugal. Os atores brasileiros, conhecidos pelas suas participações na novela “Malhação”, já apresentaram queixa à Guarda Nacional Republicana (GNR) e o caso vai agora ser investigado, tal como o Observador avançou — o Ministério Público também já confirmou a abertura de inquérito. Mas quem é a mulher de 57 anos suspeita? O que se sabe sobre ela e sobre o que aconteceu?

Ator Bruno Gagliasso apresenta queixa sobre caso de racismo contra os filhos. Marcelo lembra que “todos somos Portugal”

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O que aconteceu no restaurante da Costa da Caparica?

O caso aconteceu no passado sábado, dia 30 de julho, no restaurante de praia Clássico Beach Club, na Costa da Caparica, onde estavam Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso — que estão a passar férias em Portugal: “É um restaurante onde gostamos muito de ir porque sempre encontramos muitas pessoas pretas ali e, para os nossos filhos, achamos isso importante“, explicou a atriz numa entrevista ao programa “Fantástico” da TV Globo.

A família estava nesse estabelecimento ao final da tarde, acompanhada de amigos e família, quando “uma mulher branca, que passava em frente ao restaurante”, terá proferido insultos racistas não só contra os filhos dos atores, mas também a “uma família de turistas angolanos que estavam no local  — cerca de 15 pessoas negras”, informou a família num comunicado. A GNR também confirmou ao Observador que, “do relato das várias testemunhas, estariam mais pessoas de outras origens e que também teriam sido criados distúrbios com eles”.

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O ator Bruno Gagliasso tem três filhos

NurPhoto via Getty Images

A mulher não estava dentro do restaurante e aproximou-se dos filhos do casal, que estavam junto à areia. “Estavam na praia a brincar e de repente uma das crianças subiu e falou o que tinha acontecido e ficámos muito chateados”, relatou o ator. “Pretos imundos”, “voltem para África”, “voltem para o Brasil”, “Portugal não é lugar para vocês”, foram alguns dos insultos proferidos, segundo relatou a mãe das crianças na entrevista.

Apesar de o gerente do restaurante ter pedido para não entrar, a suspeita acabou por fazê-lo. “O gerente pediu para ela se ir embora, mas ela negou e começou a xingar alto“, relatou o ator. “Quando percebemos o que estava a acontecer, o Bruno saiu da mesa, foi até ao gerente e mandou chamar a polícia. Eu vi que a família de angolanos estava recuada e aí eu comecei a entender que era algo racial”, contou Ewbank.

O próprio restaurante também confirmou o sucedido e repudiou “as condutas criminosas e racistas praticadas por uma mulher branca contra os filhos de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, além de turistas angolanos”. “Lamentamos que em 2022 tais condutas ainda sejam perpetradas e reforçamos o nosso compromisso em combater práticas racistas e discriminatórias”, lê-se na nota partilhada nas redes sociais do estabelecimento.

O que se vê no vídeo?

O momento após os insultos foi captado por pessoas que estavam no restaurante. No vídeo, é possível ver a atriz Giovanna Ewbank a enfrentar a mulher — a quem terá, inclusivamente, cuspido na cara. “Acho que ela nunca esperava que uma mulher branca fosse combatê-la como eu fiz“, disse a atriz em entrevista à TV Globo. Pode ainda ouvir-se Ewbank a chamar à mulher “racista nojenta” — o que o marido considerou ser “um grito de dor, mas também de indignação”.

"A gente fala muito sobre isso [racismo] com eles, mas ela nunca tinha me visto combatendo de frente como foi feito. Ela ficou muito assustada. O Bless não percebeu muita coisa, porque ele estava brincando, mas a Titi entendeu tudo"
Giovanna Ewbank

A atriz brasileira referiu que a filha mais velha “ficou muito assustada”. “O Bless não percebeu muita coisa, porque ele estava brincando. Mas a Titi entendeu tudo“, contou, considerando que “é muito cruel pensar que Titi e Bless, que têm 9 e 7 anos, já têm que ser fortes” e que “já precisam ser preparados para combater o racismo, sendo que com 9 e 7 anos são duas crianças que teriam que estar vivendo sem pensar em absolutamente nada”. Esta foi, disse, “a primeira vez” que a sua filha a viu “combatendo o racismo de frente”. “A gente fala muito sobre isso com eles, mas ela nunca tinha me visto combatendo de frente como foi feito”, rematou.

 A polícia foi chamada?

Sim. No comunicado emitido pela família, é explicado que Bruno Gagliasso acabou por chamar a polícia. E, no vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver a mulher a ser levada por dois militares da GNR. Segundo confirmou o Observador junto de fonte desta força policial militarizada, a mulher, que se encontrava alcoolizada, foi levada para o posto da GNR, onde foi identificada e ouvida. Depois, acabou por ser libertada por ordem da Procuradora da República.

Foi apresentada queixa contra a mulher?

Sim. Logo no comunicado da família era referida a intenção do casal de apresentar “formalmente queixa contra a racista”. Entretanto, esta segunda-feira, o Observador confirmou junto de fonte da GNR que os pais das crianças apresentaram uma queixa por discriminação racial contra a mulher — cuja moldura penal varia entre seis meses a oito anos de prisão.

O crime pelo qual há uma queixa apresentada é de discriminação racial. No entanto, no momento da detenção, a mulher ofendeu os militares da GNR, acabando também por ser detida pelo crime de injúria, agravado pelo facto de se tratarem de agentes de autoridade — neste caso, a mulher arrisca uma pena de prisão até quatro meses e meio ou pena de multa até 180 dias.

"Foram identificadas algumas testemunhas que agora serão ouvidas. No âmbito dessa queixa, serão feitas as diligências de inquérito"
Fonte da GNR

Com um inquérito aberto, a GNR irá ouvir testemunhas que estiveram no local e que possam ajudar a esclarecer o que aconteceu. “Foram identificadas algumas testemunhas que agora serão ouvidas. No âmbito dessa queixa, serão feitas as diligências de inquérito”, informa também a GNR. Uma dessas diligências pode também passar por recolher as imagens de videovigilância que o próprio restaurante já se mostrou disponível a fornecer.

O que se sabe sobre a suspeita?

Tem 57 anos, segundo confirmou fonte da GNR ao Observador. E, segundo está a ser noticiado no Brasil, será a mesma pessoa que já teria insultado uma brasileira. De acordo com o jornal “Metrópoles”, em março deste ano, a mulher terá entrado num bar e começado uma discussão com um grupo de pessoas naturais do Brasil que ali se encontrava, tentando mesmo atirar uma cadeira contra elas. No entanto, o Observador não conseguiu confirmar que se trata efetivamente da mesma mulher.

“Estava no bar em que um amigo trabalha e ela começou a se exaltar dentro bar. Quando ela saiu, eu estava lá fora com uns amigos brasileiros e ela já começou a gritar falando: ‘Brasileiros, vão para o Brasil’. Depois de um tempo de discussão, ela tentou jogar uma cadeira em mim, que não acertou, e continuou xingando e falando para nós brasileiros irmos pro Brasil”, contou Eduarda Rabello, brasileira a viver em Portugal, que estava nesse grupo. O jornal “Metrópoles” divulgou vídeos, onde se vê uma mulher no centro de Lisboa a dizer: “Brasileiros, vão para o Brasil”.

O casal falou sobre o caso numa entrevista ao programa "Fantástico"

A mulher alegadamente alvo de insultos adiantou que chamou a polícia e que, à semelhança do que aconteceu na praia da Costa da Caparica, a suspeita começara a provocar os polícias: “Depois de um tempo chamei a polícia, eles chegaram e nem assim ela se controlou”. Além de ter afirmado que não os ia levar a sério porque “tinham cara de taxistas”, a mulher de 57 anos terá gritado: “Leva-me para a esquadra. Lá é a minha casa”.

No entanto, Eduarda Rabello não apresentou queixa, porque, segundo ela, os polícias disseram-lhe que o caso não iria dar em nada e seria uma perda de tempo. Mas agora, diz-se disposta a ajudar Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso na investigação ao episódio do último fim de semana.

O que disse o Presidente da República sobre o caso?

Os contornos do caso já levaram o Presidente da República a reagir, condenando o episódio. Em comunicado, afirmou que “qualquer comportamento racista ou xenófobo é condenável e intolerável, e deve ser devidamente punido, seja qual for a vítima“.  Marcelo Rebelo de Sousa entende que “não vale a pena negar que há, infelizmente, setores racistas e xenófobos entre nós”, porém, defende que “não se pode, nem deve, generalizar, pois o comportamento da sociedade portuguesa é, em regra, respeitador dos direitos fundamentais e da dignidade da pessoa humana”. “O mesmo se dirá, especificamente, quanto às comunidades dos países irmãos de língua portuguesa, que têm vindo a aumentar a sua presença entre nós e são motivo de gratidão e de orgulho para Portugal”, lê-se.

O Presidente da República lembrou ainda que “a sociedade portuguesa é constituída por pessoas das mais variadas origens, que aqui chegaram há poucos ou há muitos anos, alguns há séculos, aqui vivem, trabalham, constituem as suas famílias”. E aponta que “não há ‘portugueses puros’”. “Somos todos descendentes de culturas, civilizações e origens muito diversas. Somos todos transmigrantes, todos temos familiares e amigos que vivem ou viveram fora do quadro geográfico físico de um país; tal como tantos que aqui encontram uma melhor vida. E todos somos Portugal”, rematou.

"Somos todos descendentes de culturas, civilizações e origens muito diversas. Somos todos transmigrantes, todos temos familiares e amigos que vivem ou viveram fora do quadro geográfico físico de um país; tal como tantos que aqui encontram uma melhor vida. E todos somos Portugal"
Presidente da República portuguesa

Mais tarde, em declarações aos jornalistas numa visita a Idanha-a-Nova, o Presidente da República afastou novamente a ideia de que “em Portugal há alergia a brasileiros”, embora reforce também que estes episódios “devem ser exemplarmente considerados e, se for caso disso, punidos”. “É injusto generalizar que o comum dos portugueses é racista ou xenófobo ou tem alergia à comunidade brasileira”, insistiu ainda, rematando: “Não há sangue puro.”

Marcelo garante que “não há alergia à comunidade brasileira” em Portugal

Já em entrevista ao jornal “O Globo”, Marcelo Rebelo de Sousa reforçou que este episódio é “inadmissível” e defendeu que “a polícia fez o que devia fazer”. Considerando que o “racismo é um fenómeno que existe na sociedade portuguesa”, disse também que “não é possível generalizar”. “Não pode ser generalizado, dizer que todos os portugueses são racistas ou que há uma campanha contra os brasileiros. Ao contrário, não explicava a vinda de uma imensa comunidade brasileira. Ninguém é sadomasoquista. Se achassem que não se sentiam bem em Portugal, não vinham”, disse.

Como é que o Brasil está a reagir ao caso?

Lula da Silva, antigo presidente do Brasil e atual candidato às eleições presidenciais, demonstrou a sua “solidariedade” aos atores brasileiros, à sua família, mas “também aos turistas angolanos”. “Nenhuma mãe ou pai merece ver seus filhos sendo vítimas de xingamentos racistas”, escreveu, apelando: “Vamos construir um mundo sem racismo”.

No Brasil, são várias as figuras públicas que reagiram ao caso. Nos comentários a uma publicação com o vídeo que mostra o momento em que Ewbank confronta a suspeita, a apresentadora brasileira Xuxa defendeu a atriz, dizendo-lhe que foi “muito educada e forte”. “Arrebentaria com os dentes dela, podem dizer que eu ia perder a razão, que não deveria, mas nada, nada justifica essa senhora fazer isso”, escreveu.

Também o YouTuber brasileiro Felipe Neto veio mostrar solidariedade com Ewbank, elogiando a forma como reagiu. “Racista se trata na porrada ou na humilhação pública. Não há outro caminho”, escreveu numa publicação no Twitter, onde acrescentou: “Parabéns, Gioh. Serei sempre seu fã”.

Já os jornais brasileiros têm dado muito destaque a este caso, mas também a outros. Por exemplo, já depois do episódio com os atores, o jornal brasileiro “O Globo” publicou uma reportagem sobre racismo nas salas de aula em Portugal, onde se entrevista uma professora brasileira que descreve situações de preconceito entre alunos, pais e até outros docentes.

[Atualizado às 16h19 de dia 3 de agosto com a informação de que o Ministério Público já confirmou a abertura de inquérito]

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