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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Pedro Nuno agigantou vitória, PS foge do fantasma de novas eleições: "Não temos pressa"

Pedro Nuno Santos conseguiu primeira vitória como líder e nacionalizou-a ao máximo. Garantiu abertura negocial, atirando ónus da instabilidade ao PSD. E usará instrumento de Guterres.

Não foi uma vitória estrondosa, mas para quem estava no hotel Altis, em Lisboa, a ver a festa do PS, certamente pareceu. A necessidade de vencer estas europeias, numa espécie de adenda ao resultado das eleições legislativas de março, estava tão presente na cabeça dos socialistas que a vitória curta — cerca de 40 mil votos e um ponto percentual de diferença, num total de 32,1%, com 8 eurodeputados, menos um do que em 2019 — soube a muito. Foi assim que Pedro Nuno Santos festejou os resultados, puxando pela vitória em todas as dimensões possíveis, mas sempre com uma ideia presente: o PS sente-se vitaminado com este resultado, mas não mais motivado para provocar eleições antecipadas. Até porque a convicção dos socialistas é que, para já, os eleitores não as desejam.

Os socialistas tinham passado horas mergulhados num clima de expectativa: as primeiras projeções atribuíam resultados quase idênticos a PS e AD e, apesar de a tendência ser para a vitória, a margem de um deputado sobre a AD demorava a confirmar-se. A meio da noite já se respirava de alívio — o PS estava a ganhar força na contagem de votos e já não haveria margem de inversão, confirmava-se no quartel-general do PS — mas só pela meia-noite é que Pedro Nuno Santos entrou na sala onde os militantes o aguardavam, ao lado de Marta Temido, sabendo já que a vitória era certa.

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E Pedro Nuno esforçou-se por garantir isso mesmo, em todas as vertentes: primeiro, anunciando que o PS é hoje a “primeira força política em Portugal”, numa primeira nacionalização do resultado; depois, lembrando a margem de votos (mais alta também face ao resultado do próprio PS em 2019) e de um eurodeputado contra uma coligação, a AD, que inclui três partidos e está no Governo; recorreu à lupa geográfica para frisar que, face às legislativas de março, o PS voltou a vencer em três distritos — Faro, Guarda e Porto; e chegou a retirar o Chega da equação para atirar que, se as contas forem feitas por blocos, a esquerda foi “maioritária” nestas eleições (apesar de tanto Bloco de Esquerda como CDU terem perdido um deputado e de o Livre não ter conseguido eleger).

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Ainda assim, vitória é vitória, e ainda em março uma vitória mais curta, nessa altura da AD, serviu para formar Governo, disparou Pedro Nuno Santos. “O primeiro-ministro diz que por um voto se ganha e por outro se perde, e nós ganhámos por 40 mil. E se por 0,8 se perde, por 1 ponto percentual se ganha”, provocou. Se o líder socialista até começou por dedicar elogios à sua cabeça de lista e à relação de “humildade e empatia” que Temido — a primeira mulher a vencer umas eleições nacionais — tem com os portugueses, rapidamente passou a nacionalizar as europeias, recorrendo para isso à curta vitória da AD em março, que tanto se disse que teria nestas europeias uma espécie de segunda volta.

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Desta vez, a situação inverteu-se: foi o PS que ganhou por pouco e, não estando em causa umas legislativas, Pedro Nuno assegurou-se de que a leitura nacional era feita na mesma, acusando o Executivo de se ter ocupado a “nacionalizar” estas eleições e a invadir permanentemente a campanha com “anúncios”, ou de fazer do Conselho de Ministros uma “direção de campanha”. Tudo junto, argumentou, aumenta o mérito de o PS ter conseguido vencer um Governo que ainda nem sequer foi atingido pelo natural “desgaste” que uma governação mais longa implicaria.

Foi partindo deste diagnóstico que o líder do PS passou a disparar recados em direção à AD: “Esta vitória do PS, e a derrota da AD, não é irrelevante no plano nacional. Não tenho memória de um Governo tão envolvido numas europeias como estas”. Conclusão: “Esta foi a resposta que o povo português deu à forma como o Governo quis estar nesta campanha”. E foi também, na visão do PS, uma prova de que os portugueses aprovam a sua estratégia “responsável mas assertiva” na oposição, e um “alerta” para que o Governo desista da estratégia de “governar por decreto e ignorar o Parlamento e a oposição” — “essa estratégia foi chumbada“.

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PS rejeita instabilidade e atira ónus para o PSD

O segundo passo no raciocínio do PS chegaria logo a seguir: apesar de toda a celebração do resultado, de dizer que com menos do que isto se formou um Governo e de considerar a votação um referendo às ações do Executivo, o PS não planeia deitá-lo abaixo tão cedo. Se o próprio líder socialista tinha arrancado a corrida à Europa prometendo que queria “ganhar na Europa para logo a seguir ganhar Portugal”, as juras arrefeceram já durante a campanha, quando Carlos César veio a jogo pedir “paciência” e afastar o fantasma das eleições antecipadas. Desta vez, Pedro Nuno prometeu, recorrendo a várias fórmulas, que “nunca virá do PS a instabilidade em Portugal”, que o Governo “não ficou em causa”, que o PS é um partido “responsável” e, rematando, que “não tem pressa nenhuma” de ir novamente a eleições.

Ainda assim, a responsabilidade por manter esse clima de alegada boa vontade será do Governo, insistiu, também socorrendo-se de várias fórmulas diferentes: a pergunta sobre eleições antecipadas “tem de deixar de ser feita ao PS, têm de perguntar à AD”, atirou; o PS não ficou “sossegado” ao ouvir as declarações de Luís Montenegro, que disse não ver um PS disposto a chegar a consensos, frisou; e, para terminar, acusou o PSD de não tirar “nenhuma ilação da derrota”.

A disponibilidade para “construir” do PS poderá aplicar-se a vários níveis, de negociações parlamentares até, teoricamente, ao Orçamento do Estado que Pedro Nuno Santos tem vindo a dizer que é “praticamente impossível” aprovar, explicam vários dirigentes do PS. O ponto principal do raciocínio é outro: o PS tem presente que “as pessoas não querem eleições nem instabilidade política”, e precisa de “fugir da ideia de ser um partido irresponsável”, como diz um dirigente socialista ao Observador.

Ou seja, mostrar que tem disponibilidade para negociar e que não é uma força de bloqueio, para “tentar inviabilizar o discurso de vítima da AD”, é essencial, até para evitar que no futuro o Executivo aplique com sucesso a fórmula de Cavaco Silva para chegar à maioria absoluta após uma governação minoritária e “bloqueada”.

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Na cabeça dos socialistas, o cenário ideal seria mesmo que “o PSD negociasse e se entendesse com o Chega”. Até porque há quem no partido recorde que, com o resultado abaixo das expectativas que conseguiu nestas eleições, André Ventura poderá ter menos tentações de provocar umas eleições antecipadas. Mas, e apesar de todos os cenários relativos ao Orçamento serem “prematuros”, não é garantido que umas negociações à direita fossem bem sucedidas. Por isso, é crucial mostrar abertura negocial — sempre ao mesmo tempo que o PS acusa a AD de ir dando provas de que do seu lado não mostra a mesma disponibilidade. “Cabe ao Governo começar a dialogar com a oposição, coisa que até agora não fez”, dispara um dirigente socialista. Isso significa que a garantia repetida por Pedro Nuno de que seria “praticamente impossível” viabilizar um Orçamento da AD mudou? “Não, por falta de vontade da AD”, justifica.

PS com balão de oxigénio e mais “livre” para escolher

Uma coisa é certa: o PS fugirá do fantasma da instabilidade a sete pés, e acredita que com esta vitória ganhou um balão de oxigénio para os próximos tempos. “Temos uma posição de maior força”, defende um dirigente socialista: “O Pedro Nuno já não é um derrotado a negociar. O que acontece hoje é que agora o PS é livre de fazer o que entender”. Ou seja, terá mais margem para optar, numa negociação orçamental, por uma “abstenção benemérita”, a imitar a “abstenção violenta” do tempo de António José Seguro, se for mais conveniente na altura; ou por chumbar o Orçamento, argumentando que não tem medo de ir as eleições porque ganhou as últimas.

Mesmo seguindo esta linha de raciocínio, traçado por um responsável do pedronunismo, reconhecem-se duas coisas: a primeira é que a vitória “não é esmagadora”, mesmo que ajude a “desgastar a marca AD”; a segunda é que “as pessoas estão fartas de eleições”. A esperança é que esta noite marque uma “inversão de tendência”, como defendia Marta Temido no seu discurso — “os portugueses voltaram a mostrar que confiam no PS” –, e que prove que o PS “não está refém de nada”. “A autonomia estratégica do PS sai reforçada”, resume ao Observador um dirigente socialista, ironizando com a expressão que o adversário de Pedro Nuno Santos, José Luís Carneiro, foi repetindo durante as eleições internas do PS.

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A nível interno, os primeiros cálculos indicam que Pedro Nuno também ganhou “à vontade”, consolidando a sua liderança com uma vitória depois de três derrotas seguidas (legislativas, Madeira e Açores). Mesmo entre quem não é fã do pedronunismo, reconhecia-se, no PS, ainda os resultados não estavam consolidados, que a vitória é “do Pedro Nuno e da Marta Temido”, assim como do “partido que melhor interpreta os valores europeus”. Para já, o resultado positivo do PS pareceu ter acalmado ondas de contestação que, a prazo, poderiam surgir — embora a posição que o PS tomar sobre o Orçamento possa vir a reavivá-las.

Estados gerais na oposição, como Guterres fez contra Cavaco

Entretanto, e enquanto garante que não deseja voltar a ir a eleições tão cedo e que quer prosseguir a sua estratégia na oposição, o PS está ciente de que precisa de reforçar a sua posição. Por isso, Pedro Nuno Santos também aproveitou para anunciar que vai lançar uns “Estados Gerais” do PS nos próximos meses, para fazer a prometida “renovação de quadros e de propostas” e, assim, “construir uma alternativa” que se deseja no PS que seja mais sólida, e com uma direção mais consolidada.

“Ele precisa de país”, justifica um dirigente ao Observador. “Do país das pessoas, das empresas, da cultura, da ciência, do desporto, de reunir com associações empresariais, sindicatos, escolas, universidades…”. Recordando que Pedro Nuno Santos só contava tornar-se líder do PS bem mais tarde, contando que a maioria absoluta durava até ao fim — “isto foi tudo muito rápido” — o líder socialista tem ainda muito trabalho pela frente para transformar esta vitória numa tendência consolidada: “É preciso dar-se a conhecer e conhecer melhor os sectores e as suas propostas”.

Curiosamente, e se a estratégia de Luís Montenegro tem sido comparada à de Cavaco Silva, desta vez Pedro Nuno decidiu agarrar uma ideia de António Guterres, em 1992, quando era oposição à maioria cavaquista para chegar ao poder — lançar uns estados gerais para pedir ideias e caras novas, que iria buscar à sociedade civil, e começar a tentar enfraquecer o Executivo de Cavaco. Uma ideia que chegou a ser considerada, no PS, “decisiva” para a vitória de Guterres em 1995.

Durante o discurso de vitória, e enquanto nos ecrãs do Altis se via a imagem de Costa-comentador, na CMTV, a falar sobre a hipótese de chegar ao Conselho Europeu, Pedro Nuno assumiu ainda que “seria com grande entusiasmo que gostaríamos de ver António Costa como presidente do Conselho Europeu”, assegurando acreditar que “há uma larga maioria em Portugal que apoia Costa” para Bruxelas. “Faremos todos força para que isso seja realidade”, prometeu. Depois de não ter contado com o ex primeiro-ministro na campanha, Pedro Nuno poderá dar os próximos passos desta sua oposição “renovada” com Costa mais longe.

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