Mais uma década de preparação, sinais de melhoria inegáveis em relação ao que existia, a mesma dúvida que se colocava quando a FIFA atribuiu a organização do Campeonato do Mundo de 2022: o que poderá na verdade fazer o Qatar? Ninguém sabe ao certo. Aliás, essa é uma das principais incógnitas nesta fase de grupos, num choque de realidades entre o deve e o pode que nem todo o dinheiro pode comprar. Se é verdade que o projeto desportivo estava lá e fazia sentido na teoria, a prática trouxe dores de crescimento naturais num país com uma população limitada, sem tradição no futebol e com costumes que muitas vezes chocavam com aquilo que era necessário para fazer crescer as bases lançadas com a Aspire Academy.
Os responsáveis nacionais colocaram desde cedo um objetivo a longo prazo para 2022: transformar a sua equipa nacional num conjunto mais competitivo e que pudesse estar à altura de todo o investimento feito em infraestruturas. Se a influência britânica trouxe esse gosto pelo futebol, o mesmo andou sempre mais centrado nas principais ligas europeias do que propriamente no Campeonato local, inaugurado em 1963 num regime semi-profissional que deu um pequeno salto a partir de 1972 com a entrada na Confederação Asiática. A população, pequena, não dava grande margem de crescimento. E a estratégia mudou.
O Qatar criou uma academia nacional que pudesse também ir “recrutando” alguns jovens talentos que tivessem nascido em África não numa perspetiva de naturalização como aconteceu noutros desportos já com idades mais avançadas mas para que pudessem dar outra competitividade aos jogadores locais. Em paralelo com isso, foram apoiando a Liga para trazer grandes nomes do futebol mundial que estivessem em final de carreira. Contas feitas, e Xavi é um bom exemplo disso mesmo, o know how que existia permitiu que esse mesmos atletas dessem depois os primeiros passos como treinador, mas a Liga nunca deu o salto necessário. Ainda assim, a seleção nacional deu o salto. Ganhou a Taça da Ásia de 2019 batendo as equipas mais fortes do continente, participou na Copa América e por pouco não chegou à final da Gold Cup. Os jogos particulares não tiveram agora os melhores resultados mas a experiência ajudou a evoluir.
BI
- Ranking FIFA atual: 50.º
- Melhor ranking FIFA: 42.º (agosto de 2021)
- Alcunha: The Maroon (Os Marrons)
- Presenças em fases finais: Nenhuma
- Última participação: –
- Melhor resultado: –
- Qualificação: qualificada como país organizador
- O que seria um bom resultado? Conseguir uma vitória e passar a fase de grupos
Jogos em 2022
- Jogo particular, 26/3: Bulgária (casa), 2-1 (V)
- Jogo particular, 29/3: Eslovénia (casa), 0-0 (E)
- Jogo particular, 26/8: Jamaica (neutro), 1-1 (E)
- Jogo particular, 23/9: Canadá (neutro), 0-2 (D)
- Jogo particular, 27/9: Chile (neutro), 2-2 (E)
- Jogo particular, 13/10: Nicarágua (neutro), 2-1 (V)
- Jogo particular, 23/10: Guatemala (neutro), 2-0 (V)
- Jogo particular, 27/10: Honduras (neutro) 1-0 (V)
- Jogo particular, 9/11: Albânia
O onze
- 5x3x2: Saad Al Sheeb; Pedro Miguel Ró-Ró, Boualem Khoukhi, Bassam Al Rawi, Abdelkarim Hassan, Homam Ahmed; Karim Boudaif, Hassan Al Haydos, Abdulaziz Hatem; Almoez Ali e Akram Afif
O treinador
- Félix Sánchez (espanhol, 46 anos, desde julho de 2017)
- Outros clubes: Barcelona (formação), Aspire Academy, Qatar Sub-19 e Qatar Sub-23
O craque
- Akram Afif (25 anos, avançado do Al-Saad)
- Outros clubes: Eupen, Villarreal e Sporting Gijón
A revelação
- Almoez Ali (26 anos, avançado do Al-Duhail)
- Outros clubes: LASK Linz II, LASK e Cultural Leonesa
O mais internacional e o maior goleador
- Hassan Al-Haydos (168 internacionalizações) e Almoez Ali (40 golos)
Os 26 convocados
- Guarda-redes (3): Saad Al-Sheeb (Al-Sadd), Meshaal Barsham (Al-Sadd) e Yousef Hassan (Al-Gharafa)
- Defesas (8): Pedro Correia (Al-Sadd), Musab Khoder (Al-Sadd), Tarek Salman (Al-Sadd), Bassam Al-Rawi (Al-Duhail), Boualem Khoukhi (Al-Sadd), Abdelkarim Hassan (Al-Sadd), Ismaeel Mohammad (Al-Duhail) e Homam Ahmed (Al-Gharafa)
- Médios (8): Jassem Gaber (Al-Arabi), Ali Asad (Al-Sadd), Assim Madibo (Al-Duhail), Mohammed Waad (Al-Sadd), Salem Al-Hajri (Al-Sadd), Mostafa Tarek Mashaal (Al-Sadd), Karim Boudiaf (Al-Duhail) e Abdulaziz Hatem (Al-Rayyan)
- Avançados (7): Naif Al-Hadhrami (Al-Rayyan), Ahmed Alaaeldin (Al-Gharafa), Hassan Al-Haydos (Al-Sadd), Akram Afif (Al-Sadd), Almoez Ali (Al-Duhail), Mohammed Muntari (Al-Duhail) e Khalid Muneer Mazeed (Al-Wakrah)
O local do estágio
- Al Aziziyah Boutique Hotel, em Doha (treinos: Aspire Zone Training Facilities 3)
A antevisão
A ligação a Portugal
- Um português indiscutível na seleção do Qatar e vencedor da Taça da Ásia como jogador? Sim, é mesmo isso. Pedro Correia, mais conhecido no mundo do futebol por Ró-Ró, nasceu em Mem Martins tendo origens cabo-verdianas, andou no clube local até aos infantis, chegou a passar pelo Benfica entre o último ano de infantil e os juvenis, passou pelo Estrela da Amadora, fez os juniores no Farense, estreou-se como sénior no Aljustrelense mas acabou por mudar-se na época seguinte, em 2010/11, para o Qatar, onde ficou até hoje entre Al Ahli (2011-2015) e Al-Sadd (até hoje). Fez a estreia pela seleção local em 2016, leva 80 internacionalizações e já ganhou vários títulos nacionais, incluindo três Campeonatos e três Taças do Qatar entre 13 troféus conquistados desde 2013.
Pedro Correia, ou Ró-Ró, o defesa nascido em Mem-Martins que joga pelo Qatar