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O músico passou quatro anos a lutar nos tribunais para conseguir um visto de residência nos EUA
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O músico passou quatro anos a lutar nos tribunais para conseguir um visto de residência nos EUA

Mirrorpix via Getty Images

O músico passou quatro anos a lutar nos tribunais para conseguir um visto de residência nos EUA

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Quando os EUA quiseram devolver John Lennon ao Reino Unido

André Ventura sugeriu a “devolução” de Joacine por causa de uma proposta do Livre. Há 48 anos, nos EUA, temendo a oposição do ex-Beatle, muitos mexeram cordelinhos para Lennon voltar a casa.

Nem as maiores estrelas pop do planeta escapam a uma ameaça de deportação se forem politicamente indesejáveis.

Entre o Portugal de 2020 de Joacine Katar Moreira e os Estados Unidos de Nixon em 1972, são muito mais as diferenças do que as semelhanças. E os dois casos — o de uma política e ativista nascida em Bissau mas com nacionalidade portuguesa que ouviu outro político, André Ventura, sugerir a sua “devolução” por não gostar de uma proposta do seu partido; e o de uma estrela pop britânica nascida em Liverpool mas com visto nos EUA que teve de lutar para evitar uma efetiva repatriação nos tribunais — os contornos são muitos distintos.

Num caso, o que aconteceu em Portugal neste ano de 2020, a deportação foi uma sugestão com xenofobia em pano de fundo por parte do líder do Chega a propósito da proposta do Livre de devolver bens culturais às ex-colónias. Em terras norte-americanas, no início dos anos 1970, a tentativa de deportar o senhor ex-Beatle não foi xenófoba, mas também foi motivada por questões políticas. Porque o seu discurso era indesejável, as propostas radicais, a militância no ativismo pelo fim da guerra do Vietname arreigada. Os Estados Unidos da América queriam mesmo muito livrar-se de John Lennon.

O caso de André Ventura e Joacine serve só como ponto de partida partida para lembrar mais uma das histórias mais controversas dos EUA dos tempos de Nixon.

Quando o hippie do pop-rock, de óculos de sol na cara e cabelo a descer pelo pescoço, se mudou em definitivo para Nova Iorque em 1971, com ideias de por ali ficar muitos anos — argumentava então que para qualquer músico daquele tempo era decisivo estar ali, pela efervescência artística que se sentia nos EUA —, os Beatles já se tinham desfeito por tempo indeterminado.

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John e Yoko

Keystone/Getty Images

Lennon era já um artista a solo com os holofotes todos sobre si, umas das figuras mais messiânicas e endeusadas da música, que quase todos conheciam bem (menos o FBI, mas já lá chegaremos). No ano anterior editara John Lennon/Plastic Ono Band, o primeiro álbum em nome próprio, se consideramos as experiências dos três discos anteriores com Yoko Ono, brincadeiras musicais que nem o mundo nem o próprio levaram muito a sério (nos dois primeiros fez questão de no título alertar: o que ali estava era unfinished music, música inacabada). Nesse ano de 1971, chegaria Imagine, mais eternizado até pelo single (homónimo) do que pelo próprio álbum.

Mesmo que a efervescência musical nos Estados Unidos da América não fosse de somenos por aqueles tempos — e era-o já desde os anos 60 —, não era só a música que interessava a Lennon nos EUA de 1971. Política e socialmente, aquele era o sítio para estar, com o mundo pregado e de olhos postos no conflito do Vietname, na luta pelos direitos civis e nas manifestações da juventude americana pela paz.

Logo no ano em que chegou aos Estados Unidos da América, Lennon não se fez rogado: estava ali para uma missão, tinha coisas para dizer e os encontros com ativistas como Jerry Rubin e Rennie Davis deixaram o FBI de pulga atrás da orelha.

Logo no ano em que chegou aos Estados Unidos, Lennon não se fez rogado: estava ali para uma missão, tinha coisas para dizer e os encontros com ativistas como Jerry Rubin e Rennie Davis deixaram o FBI de pulga atrás da orelha. Na verdade, o núcleo duro dos serviços secretos era alheado e ensimesmado o suficiente para que mais tarde, numa circular interna, pusesse a correr um cartaz de “homem procurado” (wanted man) referindo-se a John Lennon, mas com um enorme erro. A fotografia era de um outro rapaz chamado David Peel, que costumava aparecer por East Village, em Manhattan, de guitarra na mão, cabelo parecido ao de Lennon e — tal como ele — óculos escuros redondos na cara.

O FBI poderia não lhe conhecer o rosto, mas ao longo de 1971 começou a conhecer-lhe os movimentos, os hábitos, as amizades, as orientações políticas “esquerdistas”. Em dezembro, quando uma das figuras mais populares da música — “estrangeira” ainda por cima — foi à Crisler Arena, na Universidade do Michigan, participar num concerto com milhares de pessoas que pediam a libertação de John Sinclair, condenado a dez anos de prisão pela posse de dois cigarros de marijuana, o caldo entornou-se de vez. Até porque Lennon não foi brando na acusação: “Todo este tempo, o John Sinclair tem estado preso por ter feito oposição ao Governo”, gritou ao microfone.

[a canção “John Sinclair” no concerto que pedia a libertação do ativista, em dezembro de 1971:]

No concerto que ficou conhecido como John Sinclair Freedom Rally, não faltava gente mais e menos conhecida entre os participantes: estavam lá Stevie Wonder, o tal rapaz de East Village David Peel (que o FBI confundira com Lennon), Phil Ochs ou Archie Sheepp. Mas um ex-Beatle é um ex-Beatle, um britânico não é um norte-americano e as companhias de Lennon que deixavam os serviços secretos com comichões não eram só músicos: estavam lá oradores como o poeta beat Allen Ginsberg e sobretudo também alguns dos novos amigos de John de que o FBI mais suspeitava, como Bobby Seale (um dos fundadores dos Black Panthers), Ed Sanders e os já referidos Jerry Rubin e Rennie Davis.

Os ventos norte-americanos daqueles tempos também eram agitados para o partido republicano. Havia eleições presidenciais agendadas para onze meses depois do concerto em defesa da libertação de John Sinclair (que acabou mesmo libertado). Nixon seria candidato à reeleição, no final acabaria mesmo por derrotar o democrata George McGovern, mas, pormenor que era à data preocupação maior, aquelas seriam as primeiras eleições presidenciais em que as urnas estariam abertas a maiores de 18 anos e não a maiores de 21. Traduzido para aritmética política, a preocupação era simples: mais jovens a votar podia significar mais votos no Partido Democrata. Era nesse agregado eleitoral mais novo que a contestação à guerra do Vietname era maior, como lembrou Jon Wiener numa entrevista à NPR, e ter John Lennon, um ídolo da juventude, a percorrer o país em ações cívico-políticos não dava jeito nenhum.

O clima interno nos Estados Unidos da América nesse início dos anos 1970, convém lembrar, também não era propriamente pacífico. Os motins tinham-se tornado ferramenta de protesto. À ira da juventude, numa guerra que os EUA estavam já a perder internamente com a perceção geral de que não havia motivo para a travar, não ajudaram acontecimentos como o tiroteio do ano anterior na universidade de Kent State, no Ohio, quando quatro estudantes morreram e nove ficaram feridos (um deles, paraplégico) depois de alvejados pela Guarda Nacional do Ohio.

O clima naquele dia era tenso, o protesto contra os bombardeamentos no Cambodja (que mantinha oficialmente a neutralidade) era veemente e a mobilização dos estudantes de Kent State (certamente zangados) era grande. Estavam, contudo, desarmados e enfrentaram 67 rondas de disparos de 28 soldados, durante 13 segundos. Ainda hoje no campus da universidade americana é possível encontrar um memorial com uma homenagem às vítimas.

Há precisamente 48 anos, a 4 de fevereiro de 1972, o senador republicano Strom Thurmond, da Carolina do Sul, enviava uma carta “pessoal e confidencial” ao Procurador-Geral da Justiça, John N. Mitchell. Nos anexos vinha uma sugestão: "Se o visto do Lennon acabar, isso evitaria estrategicamente" os perigos.

Era a este clima que o FBI e o Partido Republicano dos EUA viam somar-se a influência de um imprevisível e incontrolável John Lennon. Rapidamente o ex-Beatle, que estava no país com um visto temporário, foi posto sob vigilância apertada.

Há precisamente 48 anos, a 4 de fevereiro de 1972, meros dois meses passados desde o concerto pela libertação de John Sinclair — e a apenas nove meses das presidenciais americanas —, o senador republicano Strom Thurmond, da Carolina do Sul, enviava uma carta “pessoal e confidencial” ao Procurador-Geral da Justiça de então, John N. Mitchell. A carta só viria a ser revelada mais tarde, quando o processo que opunha Lennon ao Estado norte-americano corria já nos tribunais.

Na missiva, o Senador republicano avisava que era ajuizado tomar medidas contra John Lennon, de outro modo este era capaz de dar “muitas dores de cabeça” no futuro. Anexado estava um memorando com ficheiros também eles confidenciais, de um subcomité de segurança interna do Senado que avisava para as movimentações de um “grupo de comuna” que pretenderia perturbar a Convenção Nacional do Partido Republicano desse ano. Citavam uma “fonte confidencial” que assegurava que as atividades do grupo estavam a ser financiadas por nem mais nem menos do que John Lennon — algo que até hoje ninguém sabe se era verdade. Outro memorando alertava para a utilização de Lennon como chamariz para o sucesso de festivais de rock, eventos que teriam como intuito angariar fundos para fazer oposição a Nixon. Seria então uma espécie de cartada usada por um grupo de “líderes da Nova Esquerda radical”, segundo o documento.

Os memorandos e a carta do republicano Strom Thurmond ao então Procurador Geral dos EUA, John N. Mitchell, foram revelados por exemplo no jornal The New York Times, numa notícia sobre a conclusão do processo de pedido de deportação de John Lennon pela justiça americana. Na carta, um dos memorandos anexados sugeria de forma razoavelmente explícita a importância da deportação do ex-Beatle para o sossego da vida interna norte-americana: “Se o visto do Lennon acabar, isso evitaria estrategicamente” os perigos.

Menos de um mês depois da carta do Senador Republicano ao Procurador-Geral da Justiça, os Serviços de Imigração e Naturalização dos EUA revogaram o visto ao antigo Beatle. Precisavam de um motivo para justificar que a entrada de Lennon no país tinha sido ilegal, um lapso jurídico, e arranjaram-no: em 1968, o músico e cantor tinha sido detido por posse de meia onça de droga no Reino Unido. Na lei, um dos critérios para legitimar uma deportação a cidadãos britânicos que já estavam nos EUA era a de que estes tivessem sido em tempos “condenados por qualquer lei que abrangesse a posse ilícita de narcóticos ou marijuana”.

Foi então que começou uma batalha legal, com a equipa de juristas de Lennon — encabeçada por Leon Wildes, um advogado tão conhecedor da cultura pop que não fazia a mais pequena ideia de quem era o ex-Beatle antes de lho dizerem — a argumentar que o que fora encontrada era haxixe e portanto não se enquadrava tecnicamente nas drogas mencionadas na lei.

Segundo conta o The New York Post, o advogado de John Lennon pediu então uma extensão do visto por seis meses — até porque Lennon não queria mesmo sair do país, dado que Yoko Ono adquirira já nacionalidade norte-americana e estava nos EUA a lutar pela custódia da filha Kyoko, nascida de um casamento que tivera com Tony Cox. A resposta ao advogado foi ríspida: o hippie que tirasse o cavalinho da chuva porque não havia visto para ninguém, o melhor era — palavras do advogado — “pôr-se a andar daqui para fora”.

A partir daí, e durante boa parte dos anos de 1972 e 1973, Lennon passou o tempo nos Estados Unidos da América com uma ordem para sair do país nos 60 dias seguintes, que era constantemente “congelada” e adiada pelos recursos e disputas judiciais.

O que sabemos hoje sobre as posições dos serviços secretos norte-americanos relativamente a John Lennon e o cerco que lhe montaram devemo-lo, em grande parte, ao historiador Jon Wiener, que passou 14 anos a tentar ter acesso a documentos oficiais e confidenciais da agência. Já o que não sabemos devemo-lo em parte aos escritórios do FBI em Miami, onde ao contrário do que aconteceu em outras cidades foi decidido destruir todos os documentos da agência relativos a Lennon.

Dylan escreveu: "O John e a Yoko inspiram e transcendem e estimulam. Deixem o John e a Yoko ficar". John Updike também defendeu o casal: "Não vão fazer mal nenhum a este país — e até são bem capazes de fazer algum bem”.

Num artigo publicado por Jon Wiener em 2010 no Los Angeles Times, o historiador revelava uma campanha de defesa de Lennon junto das autoridades norte-americanas feita por altas figuras das artes do país, nesses anos 1970. Wiener contava que para escrever o artigo tinha ido à sua garagem buscar uma série de cartas — enviadas por gente como os músicos Bob Dylan, John Cage e Joan Baez, os escritores John Updike e Joyce Carol Oates e o pintor Jasper Johns. Dylan, por exemplo, escrevera que “o John e a Yoko inspiram e transcendem e estimulam” as pessoas, lamentava o mau gosto do entretenimento que passava por arte e terminava escrevendo: “Deixem o John e a Yoko ficar”. Joan Baez, por seu turno, dizia que isto de “manter as pessoas confinadas a certas áreas do mundo” era “uma das razões pelas quais tivemos seis mil anos de guerra em vez de seis mil anos de paz”. E o insuspeito John Updike, que estava longe de ser um hippie ou um beatnick dos anos 1960, escrevia que Yoko Ono e John Lennon “não vão fazer mal nenhum a este país — e até são bem capazes de fazer algum bem”.

Por um lado, a campanha pedindo a deportação de Lennon surtiu os seus efeitos: alertado para a necessidade absoluta de não atirar mais lenha para a fogueira e ficar na retaguarda na oposição a Nixon, Lennon não conseguiu fazer a digressão de atuações (ou será melhor dizer pregação com música?) pelos Estados Unidos da América que desejava. As intervenções políticas foram rigorosamente reduzidas — sobretudo se excluirmos daqui uma conferência de imprensa de Lennon e Yoko em que o ex-Beatles, com os seus famosos óculos redondos na cara, declarava o nascimento de um “país concetual” chamado Nutopia, a junção das palavras “new” e “utopia” (portanto, nova utopia). Nesse país, dizia Lennon, a nacionalidade adquiria-se meramente por reconhecer a existência da tal nova utopia — terra “sem região definitiva, sem fronteiras, sem passaportes, sem leis que não as cósmicas, apenas com pessoas”. Como “dois embaixadores da Nutopia”, lia já o casal em voz alta, Yoko e John pediam “imunidade diplomática”.

O cerco que o FBI montou a John Lennon, contudo, foi um pouco maior e um pouco mais grave do que a maior parte dos envolvidos (inclusive o próprio) à época julgavam. Se a vigilância diária era sentida — o advogado chegou a contar que apareceram em casa dos Lennon técnicos de reparação de telefones que fugiram quando lhes pediram o cartão de identificação e recordou que havia “dois homens” que pareciam segui-los a toda a hora de carro ou a pé —, não se imaginavam propriamente conspirações.

Lennon num dos muitos protestos contra a guerra do Vietname

Mirrorpix via Getty Images

Circulares internas do FBI da época posteriormente revelados, contudo, anteviam a hipótese de teias conspirativas: na agência de serviços secretos chegou a sugerir-se, como revelou o Washington Post em 1983, que Lennon fosse “detido se possível pela posse de narcóticos” porque isso torná-lo-ia “mais ‘deportável’ de imediato”. E internamente usava-se mesmo uma expressão contundente: era preciso “neutralizá-lo”. Nos registos do FBI constavam ainda algumas das “letras mais conversas e anti-guerra de Lennon”, cartazes com referência a marchas pacificistas em que participou, resenhas de concertos do músico e cópias de textos que o associavam, bem ou mal, ao candidato democrata às presidenciais de 1972, George McGovern.

Isto é o que se sabe sobre o sufoco das autoridades norte-americanas a John Lennon. Mas isto é mesmo somente o que se sabe. Não se sabe, desde logo, que documentos e correspondências estavam nos escritórios do FBI em Miami, que foram mandados destruir. E também não se sabe o que estava em boa parte dos documentos enviados pelo FBI ao historiador Jon Wiener (depois de este levar a sua avante até ao Supremo Tribunal dos EUA), porque consideráveis bocados vinham “fortemente censurados”, com passagens inteiras “rasuradas e riscadas a preto”. O argumento do FBI? Segurança nacional.

"O que é mais perturbador em tudo isto é a dimensão daquilo que o governo estava a fazer. O governo temia o John Lennon e o Nixon empregou uma quantidade incrível de recursos para tentar livrar-se dele.
Jon Wiener, jornalista, historiador e autor do livro "John Lennon vs. The USA"

Citado pelo Washington Post em 1983, o historiador que mais investigou o cerco do FBI a Johnn Lennon e que escreveu o livro “John Lennon vs. The USA: The Inside Story of the Most Bitterly Contested and Influential Deportation Case in United States History” afirmava: “O que é mais perturbador em tudo isto é a dimensão daquilo que o governo estava a fazer. O governo temia o John Lennon e o Nixon empregou uma quantidade incrível de recursos para tentar livrar-se dele”. Exercendo o direito ao contraditório, a publicação ouviu também um responsável do Gabinete de Liberdade de Informação do FBI, Jim Hall, que explicou que “as pessoas esquecem-se dos motins e dos incêndios que aconteceram naqueles tempos” e defendeu que havia “um número considerável de investigações daquelas a acontecer” com outras figuras públicas.

Depois de conseguir o visto para viver nos EUA, Lennon acabaria por ser morto por um fã 4 anos depois

Sygma via Getty Images

Em 1972, Nixon foi reeleito mas nem por isso as tentativas de deportar o autor de “Imagine” esmoreceram. Até Lennon conseguir finalmente a cidadania norte-americana, houve tempo para uma separação e uma reaproximação com Yoko Ono, para o escândalo do Watergate e para Nixon se ver obrigado a deixar o cargo de presidente, já em 1974.

Foi preciso chegar-se a 1975 para John Lennon começar a ver o processo avançar — e só no ano seguinte, em 1976, conseguiria em definitivo o visto de residência que tanto desejava. A 8 de outubro do ano anterior, o jornal The New York Times publicara um texto em que dava conta de uma “vitória judicial muito importante” em relação ao processo de que “travava” o departamento de imigração dos EUA para “deportar [o músico] por uma condenação por posse de marijuana no Reino Unido”. A condenação, dizia então o diário, não era “razão suficiente” para deportar o popular músico britânico de rock dos EUA, de acordo com a decisão, escrita pelo juiz principal Irving R. Kaufman”, que avaliara um recurso interposto pelo advogado de Lennon.

O advogado de Lennon defendeu que Nixon estava a tentar "silenciar a oposição política", o que violaria a Primeira Emenda. O juiz Irving R. Kaufman respondeu assim em 1975: "Não ouvimos esta afirmação de ânimo leve. A batalha de quatro anos de Lennon para permanecer no nosso país é uma testemunha da sua fé no sonho americano."

A sentença do jurista que avaliava o recurso da deportação não era simpática para as autoridades norte-americanas. Fundamentada e explicada em 24 páginas, alertava que os tribunais não deviam “perdoar uma deportação seletiva e motivada por questões políticas secretas”. O juiz lembrava que o advogado do músico defendera expressamente que a ação do governo era “baseada principalmente num desejo de silenciar a oposição política”, algo que violaria a Primeira Emenda, e abordava assim essa convicção:

“Não ouvimos esta afirmação de ânimo leve. Se nos nossos 200 anos de independência conseguimos de alguma forma realizar os nossos ideais, é em grande parte porque encontrámos sempre um lugar para aqueles que se comprometeram com o espírito da liberdade e se dispuseram a implementá-la. A batalha de quatro anos de Lennon para permanecer no nosso país é uma testemunha da sua fé no sonho americano”.

Ironia trágica, os anos que John Lennon passou a lutar por um visto de residência nos Estados Unidos da América e para evitar ser deportado foram praticamente os mesmos que passou no país já como cidadão de pleno direito. Quatro anos depois de receber o “cartão verde” dos serviços de imigração, a 8 de dezembro de 1980, o mais idealista dos Beatles foi alvejado quatro vezes pelas costas à entrada da sua casa, em Manhattan, por Mark David Chapman. Ainda foi transportado para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Foi pronunciado morto no Roosevelt Hospital, às 23 horas locais.

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