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Tropas russas estão a tentar precaver-se para a contraofensiva no sul da Ucrânia através de "linhas na frente" com "posições de combate avançadas"

Anadolu Agency via Getty Images

Tropas russas estão a tentar precaver-se para a contraofensiva no sul da Ucrânia através de "linhas na frente" com "posições de combate avançadas"

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Rússia tem capacidade para travar uma contraofensiva ucraniana?

Moscovo fez linhas defensivas com obstáculos "formidáveis" no sul da Ucrânia para resistir à contraofensiva, mas militares desmotivados podem ser problema. Kiev pede armas e aposta no tudo ou nada.

Trincheiras, bunkers e barreiras antitanques. Ao longo de 120 quilómetros, as tropas russas organizaram, nos últimos meses, as suas linhas defensivas no sul da Ucrânia, especialmente em redor da província de Zaporíjia. Com uma contraofensiva ucraniana anunciada há já alguns meses, a Rússia empenhou-se “significativamente” e colocou no terreno “obstáculos” que o Ministério da Defesa britânico definiu, num relatório diário, como “formidáveis”. Mas se — e quando — a contraofensiva de Kiev for posta em marcha, terão as forças de Moscovo capacidade para resistir?

“Os russos desenvolveram muitos esforços num sistema de defesa de fortificações avançadas e complexas, que serão a sua grande vantagem quando a contraofensiva começar”, afirma, em declarações ao Observador, Huseyn Aliyev, professor na área dos estudos de segurança na Universidade de Glasgow. Mesmo assim, o especialista não considera que isso seja suficiente: “A Rússia está certamente pouco preparada para uma contraofensiva ucraniana”.

Dani Belo, professor de Relações Internacionais na Universidade de Webster, tem a mesma opinião. “Em traços gerais, a Rússia não aparenta estar pronta para uma forte campanha defensiva“, diz ao Observador, sustentando o seu ponto de vista com o atual nível de “prontidão e treino” dos militares russos, insuficiente para segurar posições e resistir a uma ação alargada da Ucrânia — assim como a escassez de “munições e equipamentos”.

Com a guerra a chegar ao 15.º mês, o Presidente da Ucrânia, Volodoymyr Zelensky, já admitiu, por seu turno, que tem a esperança de que pode acabar com o conflito ainda este ano, num cenário que admite uma vitória ucraniana na guerra, o que implicaria a conquista de todo o território perdido, incluindo a Crimeia. A contraofensiva está a ser encarada por Kiev como um passo determinante para alcançar esta ambição, daí que o Chefe de Estado aposte todas as fichas nesta operação militar.

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Nesse cenário, a Ucrânia tem tentado aumentar as suas capacidades ofensivas, recorrendo à ajuda do Ocidente. Volodymyr Zelensky visitou, no início da semana passada, quatro capitais europeias (Roma, Berlim, Paris e Londres), precisamente para aumentar o número de armas que Kiev tem à sua disposição para começar a contraofensiva. Ao mesmo tempo, o líder ucraniano, após uma grande pressão exercida na “coligação de caças” — inicialmente incentivada pelo Reino Unido e pelos Países Baixos —, conseguiu que os Estados Unidos cedessem e anunciassem que vão enviar caças F-16 para território ucraniano, decisão que foi ultimada na cimeira dos G7 em Hiroshima.

Equipada com mais tanques, mísseis e munições do Ocidente, a Ucrânia deseja quebrar as “formidáveis” linhas defensivas russas, esperando surpreender o mundo, tal como fez com a reconquista de Kharkiv e Kherson. Paralelamente, a Rússia vai tentar suster a contraofensiva, protegendo os territórios que tomou desde fevereiro de 2014, ano em que anexou a Crimeia.

epa10627009 Ukrainian President Volodymyr Zelensky gestures during a joint press conference with German Chancellor Olaf Scholz (not in the picture) following their meeting at the Chancellery in Berlin, Germany, 14 May 2023. It is the first time Zelensky visits Germany since the start of the Russian invasion of Ukraine in February 2022.  EPA/CLEMENS BILAN

Zelensky encetou uma maratona diplomática para conseguir mais armas

CLEMENS BILAN/EPA

As linhas defensivas russas e o problema com as tropas

As tropas russas estão a tentar precaver-se para a contraofensiva no sul da Ucrânia através de “linhas na frente” com “posições de combate avançadas”, havendo — na retaguarda — “duas zonas de defesa quase contínuas”. “Cada uma está aproximadamente entre dez a vinte quilómetros atrás da anterior”, explica o Ministério da Defesa britânico, que aponta que a Rússia “está convencida” de que Kiev está a “considerar” um ataque à cidade de Melitopol, localidade essencial para avançar para Mariupol e para a Crimeia.

Segundo uma análise do jornal Kiev Independent, as fortificações russas, localizadas principalmente perto de estradas, vão desde a margem sul do Rio Dniepre até à Crimeia, existindo inclusivamente trincheiras nas praias da península. Valas antitanques, dentes de dragão (peças de cimento com a forma de pirâmides utilizadas pela Alemanha na II Guerra Mundial), juntamente com o delinear de posições estratégicas para a colocação de carros de combate russos, tornam as linhas de defesa da Rússia bastante resistentes a um ataque.

Mesmo que as tropas ucranianas pressionem ofensivamente, as forças russas têm espaço para recuar de forma organizada, evitando o cenário do que aconteceu em Kharkiv em setembro do ano passado — que levou a que a Rússia deixasse imensos equipamentos de combate para trás por conta de uma fuga desorganizada. Isso vai também permitir diminuir a intensidade dos movimentos ofensivos, originando à Ucrânia perdas consideráveis no terreno.

Mapa partilhado em abril por especialista japonês com definição de eventuais linhas defensivas ucranianas

Adicionalmente, sublinha o Kiev Independent, os batalhões que estão no sul da Ucrânia estão menos desgastados do que aqueles que combatem em outras partes do território, nomeadamente em Donetsk, em que alguns batalhões estiveram mobilizados para a conquista de Bakhmut. Na hora de uma contraofensiva, isso poderá representar uma vantagem, na medida em que já não há intensos combates naquela região desde novembro de 2022, altura em que a cidade de Kherson foi conquistada.

Não é, no entanto, o sul a única região em que a Rússia fortaleceu as suas linhas defensivas. Também o fez no oblast de Donetsk, nomeadamente na parte ocidental da cidade de Severodonetsk, mas não de forma tão extensiva como em redor de Melitopol.

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Uma trincheira na Ucrânia

Getty Images

Ainda assim, para Dani Belo, o fortalecimento das linhas defensivas no sul não significa necessariamente que a Ucrânia terá mais dificuldade do que em Donetsk e em Lugansk. “De uma perspetiva militar e logística, o Donbass é mais fácil para a Rússia defender do que as áreas ocupadas junto a Kherson”, começa por dizer, argumentando que as “distâncias curtas” no sul da Ucrânia possibilitam que as tropas ucranianas sejam capazes de se “reabastecerem” mais facilmente em termos de armamento e no número de militares. Ora, isso não sucede na parte junto à fronteira, regiões em que é mais fácil para Moscovo mobilizar tropas para apoiar “operações defensivas”.

Respondendo a uma contraofensiva, a proximidade é a “principal vantagem” da Rússia, especialmente no Donbass, o que permite mobilizar “um número elevado de soldados”. “A principal fraqueza é a sua relativa inabilidade para reabastecer as suas tropas com armamento”, considera Dani Belo.

O moral e os problemas dos sistemas de comando e controlo

Tendo em contas estas movimentações defensivas, Sarah Whitmore, professora de Ciência Política na Oxford Brookes University, tem uma opinião diferente, assinalando que a “Rússia claramente se tem preparado para uma contraofensiva” ao organizar as linhas nas “áreas em que se antecipa” que haverá combates com maior intensidade. Ao mesmo tempo, ressalva a especialista em declarações ao Observador, “é evidente que [Moscovo] não tem todos os recursos à sua disposição”, por causa “das perdas que sofreu nos últimos meses de combate, quer de equipamentos, quer de militares”.

Recently recaptured villages of Kherson Oblast, Ukraine

Um carro de combate destruído em Kherson

Anadolu Agency via Getty Images

Embora reconheça que “é mais fácil defender território do que conquistá-lo” e que a Rússia teve “muito tempo para preparar as linhas defensivas e colocar minas”, Sarah Whitmore salienta que as tropas russas estão “pouco preparadas” e “mal treinadas” para susterem a contraofensiva. “Tem havido algumas mudanças interessantes nos canais estatais russos com comentadores a parecerem preparar os espectadores para alguns revezes e surpresas desagradáveis”, nota.

Huseyn Aliyev concorda que a falta de preparação das tropas e o moral das mesmas pode representar o principal problema de Moscovo numa possível contraofensiva. “É questionável se a Rússia tem militares suficientemente motivados para segurar as linhas defensivas“, constata, acrescentando que persistem problemas de abastecimento no armamento que as tropas russas terão à sua disposição, bem como em relação a munições.

"É questionável se a Rússia tem militares suficientemente motivados para segurar as linhas defensivas"
Huseyn Aliyev, professor na área dos estudos de segurança na Universidade de Glasgow

Mas nem todas as análises coincidem na ideia de que as tropas russas estão mal preparadas para uma possível ação ofensiva da Ucrânia. Alguns especialistas consideram que Moscovo aprendeu algumas lições com aquilo que correu mal nas fases iniciais do conflito. Num artigo publicado no Royal United Services Institute (RUSI), dois membros do think tank da área da Defesa, Jack Watling e Nick Reynolds, consideram que houve uma evolução. 

Como o Observador dava conta em março, nas primeiras fases de conflito existiu, entre outros fatores, uma falha de um serviço centralizado de informações na tropas russas, o que originou um sistema comando e controlo que funcionou de forma inoperacional, a que se juntaram tropas pouco preparadas e com um baixo moral.

Ora, Jack Watling e Nick Reynolds consideram que há “evidências” de que a Rússia tem feito esforços para criar um “processo centralizado para identificar deficiências e encontrar soluções”. Aliás, em janeiro deste ano, o Kremlin substituiu o comandante geral das Forças Armadas Russas, trocando Sergey Surovikin por Valery Gerasimov, justificando com a “necessidade de organizar uma interação mais próxima entre os ramos das Forças Armadas”, tendo igualmente em vista a melhoria da eficácia dos sistemas de comando e controlo.

Moscow Conference on International Security

Valery Gerasimov foi escolhido para chefiar tropas russas na Ucrânia

Anadolu Agency via Getty Images

Apesar de a Rússia estar a corrigir os seus problemas, Jack Watling e Nick Reynolds vincam que foi uma “adaptação reativa” e que foi idealizada para tentar suavizar “sérias deficiências nas tropas russas”: “O resultado é uma estrutura que se torna melhor ao longo do tempo a enfrentar problemas, mas que também encontra dificuldades em antecipar novas ameaças”.

Deste modo, as Forças Armadas da Rússia representam um “desafio significativo” para as tropas de Kiev. Não obstante, os dois especialistas do Royal United Services Institute ressalvam que, se a Ucrânia conseguir “desorganizar as linhas defensivas russas” e tiver sucesso em “impor uma situação dinâmica” no terreno, é “provável” que as tropas russas fiquem novamente descoordenadas, repetindo-se o que aconteceu há alguns meses em Kharkiv e em Kherson.

Grupo Wagner: uma pedra no sapato?

A guerra deu um forte protagonismo ao líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, existindo inclusive a teoria de que o fundador da milícia privada se tenha colocado numa posição privilegiada para substituir o Presidente russo no cargo.

Russian President Vladimir Putin Attends Saint Petersburg International Economic Forum

Prigozhin foi ganhando relevo na guerra

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Tendo alegadamente conquistado Bakhmut (versão que é desmentida pelas tropas ucranianas, que dizem que ainda controlam partes “insignificantes” da localidade), ainda não é claro qual será o papel da milícia privada na resposta a uma possível contraofensiva ucraniana. Yevgeny Prigozhin detalhou que os mercenários vão sair da cidade até 1 de junho e vão transferir o controlo da cidade para o exército russo.

Não é, pelo menos para já, claro qual será o papel da milícia privada numa possível resposta a uma contraofensiva. Ainda assim, Dani Belo afiança que o “grupo Wagner não parece estar preparado nem equipado para uma operação defensiva nem para dar apoio às tropas russas”.

Este cenário de colaboração é, ainda assim, improvável, tendo em conta as divergências entre o grupo Wagner e o ministério da Defesa russo. A tensão entre a milícia privada e a pasta chefiada por Sergei Shoigu é, aliás, pouco vantajosa para as tropas russas. Um proeminente empresário russo comentou ao New York Times que Yevgeny Prigozhin faz parecer o governo russo “absolutamente desajeitado, sem cérebro e idiota” — o que, diz, “parece que cada vez mais corresponde à realidade”.

De recuo em recuo até à conquista total. Jogo de contrainformação de líder dos Wagner garantiu vitória em Bakhmut?

Como escreve o jornal norte-americano, o grupo Wagner põe em evidência as falhas das tropas russas, ainda para mais se se confirmar a tomada de Bakhmut. Mas não é só: por exemplo, há duas semanas, Yevgeny Prigozhin enfrentou o Ministério da Defesa russo, indignando-se contra a falta de munições fornecida pela Rússia. O mercenário ameaçou que ia abandonar Bakhmut numa questão de dias, o que depois acabou por não acontecer, uma vez que acabou por receber o que pedia.

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Bakhmut tem sido palco de intensos combates entre a Rússia e a Ucrânia

Anadolu Agency via Getty Images

Este clima de guerra interna entre os mercenários Wagner e o Ministério da Defesa da Rússia cria dois focos distintos nos objetivos e nas táticas utilizadas, o que dificulta a criação de um sistema comando e controlo. Mais do que isso, a milícia privada leva a que haja um comparativo no desempenho militar, o que pode motivar críticas se as tropas comandadas pelas Forças Armadas não conseguirem ter sucesso na contraofensiva, acabando por as fragilizar ainda mais.

Mesmo estando em campos opostos, o chefe dos serviços de informações ucranianos, Kyrylo Budanov, elogiou a prestação do grupo Wagner que, a seu ver, mostra uma “grande eficácia” no terreno, ao contrário do “exército russo”, que mostrou, por sua vez, a “máxima ineficácia”. O responsável da Ucrânia foi ainda mais longe, dizendo que o facto de Prigozhin não ter “munições nem apoio” se deve à “inveja da liderança militar russa, que é agora personificada por Shoigu e Gerasimov”.

A contraofensiva ucraniana que não começa

Já desde o início do ano que a Ucrânia alega que quer começar uma contraofensiva, inicialmente na primavera. Até ao momento não se viu qualquer operação militar para o efeito. Numa entrevista a vários órgãos de comunicações sociais europeus, na semana passada, Volodymyr Zelensky sinalizou que a Ucrânia precisava de mais “tempo”, explicando que as tropas ucranianas sofreriam imensas perdas caso desencadeassem uma operação de âmbito ofensivo.

À medida que se aproxima o verão e as temperaturas mais amenas, criam-se condições cada vez mais favoráveis para o início de operações militares mais arriscadas. Porém, não existe uma data, nem sequer uma estimativa, de quando a contraofensiva pode efetivamente iniciar-se. De acordo com a CNN, isso pode ser uma estratégia para enganar a Rússia, apanhando as tropas do país ocupante desprevenidas.

Ainda que não exista sequer uma estimativa para o início da contraofensiva, Volodymyr Zelensky tem tentando fazer de tudo — em termos diplomáticos — para que esta seja bem sucedida. O Presidente da Ucrânia esteve em quatro capitais europeias para pedir mais armas, deslocou-se, na passada sexta-feira, à Arábia Saudita e esteve em Hiroshima, no Japão, onde estiveram reunidos os líderes do G7 — as sete economias mais fortes do mundo.

Volodymyr Zelensky continua empenhado em obter mais armamento do Ocidente e de outros parceiros que se mostrem recetivos. Isto porque, como assinalou o chefe do gabinete presidencial de Volodymyr Zelensky, Ihor Zhovkva, em entrevista à Sky News na terça-feira, Kiev não dispõe ainda de “sistemas de artilharia e munições”, nem de “veículos blindados ou tanques” suficientes para começar a contraofensiva.

Para suprir estas falhas, o Ocidente prometeu enviar mísseis de longo alcance e mais equipamentos de combate para a Ucrânia. E até caças. Na chamada coligação de caças, os Estados Unidos, após uma resistência de meses, já anunciaram que vão entregar F-16, assim como vão ajudar a treinar pilotos ucranianos. “Estamos a colocá-los numa posição em que se conseguem defendem”, justificou o Presidente dos Estados Unidos da América, acrescentando que recebeu garantias de Volodymyr Zelensky de que as aeronaves não seriam utilizadas para atacar território russo.

Embora dando uma inegável vantagem no domínio aéreo a Kiev, os caças não serão utilizados na contraofensiva, uma vez que ainda demorará tempo a treinar os pilotos ucranianos. O conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, esclareceu que as aeronaves não serão equipamentos “críticos” para o desenrolar da operação militar. “Há tanques, há sistemas de artilharia, há HIMARS e há munições. Os Estados Unidos mobilizaram um esforço excecional para entregar a tempo tudo o que a Ucrânia necessita para lançar esta contraofensiva.”

Aliás, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, defendeu esse ponto de vista, na passada quinta-feira. Em Lisboa, num encontro com o primeiro-ministro António Costa, o líder da aliança manifestou-se “confiante” de que as forças ucranianas já teriam a “capacidade para reconquistar os territórios ocupados”.

Mesmo sem caças, secretário-geral da NATO está “confiante” de que Ucrânia “tem capacidades” para “reconquistar territórios”

Mesmo se contassem com caças, a Ucrânia iria enfrentar uma Rússia que se colocou numa posição defensiva para o momento em que a contraofensiva começar — e que Sarah Whitmore antecipa que vai “ser difícil” para os dois lados. Por exemplo, a especialista reforça que nenhuma das duas partes “pode realmente contar com o poderio aéreo para apoiar as tropas no terreno, o que é uma desvantagem para os dois”.

Se a Ucrânia está mais bem posicionada no que diz respeito às “cadeias de abastecimento curtas”, a professora de Ciência Política na Oxford Brookes University nota que, do lado ucraniano, “não há nenhuma ilusão” de que a contraofensiva será fácil. Sarah Whitmore sublinha ainda que, politicamente, Kiev goza de uma grande vantagem. “A população e a elite política estão completamente a favor das forças armadas e a sociedade está a apoiá-los moral e materialmente”, enfatiza, dizendo que, no caso da Rússia, a guerra é um tema que está a perder fulgor em termos mediáticos.

Com grandes expectativas sobre o desempenho na contraofensiva, a Ucrânia quer ter êxito nesta oportunidade. Embora os aliados de Kiev repitam sistematicamente que apoiarão o país até “quando for necessário”, a presidência ucraniana receia que o apoio do Ocidente se esgote nos próximos tempos, principalmente se a operação militar não resultar.

UAF military mobility continue toward Kherson front

Armamento do Ocidente pode diminuir se contraofensiva for mal sucedida

Anadolu Agency via Getty Images

Num artigo publicado na revista Foreign Policy, Phillips P. O’Brien, professor de estudos estratégicos na Universidade de St. Andrews que esteve recentemente em Kiev, conta que ouviu uma “real preocupação”:  se a contraofensiva gerar apenas ganhos limitados e não uma vitória total. Nessa hipótese — em que a Rússia continue a ocupar territórios ucranianos —, Kiev teme uma eventual pressão dos EUA para que a Ucrânia se sente à mesa das negociações e isso acabe num acordo desfavorável. “Esse é o seu medo”, diz o especialista.

A contraofensiva é, por estes motivos, uma questão de tudo ou nada para Volodymyr Zelensky. Se for bem sucedida, Kiev não desilude os aliados e consegue o seu grande objetivo final, que é o de reconquistar os territórios perdidos para a Rússia desde 2014, mesmo que a guerra até acabe na mesa das negociações com a Ucrânia a assumir uma posição vantajosa. Se correr mal, pode ser o fim da linha do apoio do Ocidente para território ucraniano e, por isso, uma vitória, ainda que longe de ser em toda a linha, para o Kremlin.

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