Sacrificar o Ano Novo para aliviar o Natal, foi essa a mensagem de António Costa quando faltava uma semana para o início das festividades. Veio o Natal, veio o Ano Novo e, agora, cerca de uma semana após a Passagem de Ano, as contas fazem-se em mais de 10 mil novas infeções diárias por Covid-19 e um Serviço Nacional de Saúde — que já estava sobrecarregado — à beira do colapso. E um novo confinamento geral está, tudo indica, por dias. Nesta sondagem, tentámos perceber como encaravam os portugueses os dois pesos e as duas medidas do Governo para as datas que marcam esta época do ano. Num e noutro caso, medidas “adequadas” é a resposta mais ouvida.

Os dados desta sondagem foram recolhidos entre os dias 22 de dezembro e 3 de janeiro — antes, portanto, de haver uma noção tão clara como a que existe hoje sobre o crescimento exponencial da pandemia pós-festividades. Mas não foi por falta de aviso dos especialistas sobre os riscos de aligeirar as regras em nome de um tempo em família na noite de Natal. O vírus “é injusto e cruel”, disseram. “Ele vai atacar, seja Natal ou não”, anteviram. Haverá “um preço a pagar”, avisaram.

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Apesar de tudo isto, a 25 de dezembro, o jornal Público escrevia que, nos dois dias anteriores, os portugueses deslocaram-se tanto como um ano antes. Os dados da consultora PSE indicavam que nos dias que antecederam o Natal era ténue a diferença do nível de deslocações face ao ano de 2019, num tempo pré-pandemia. Não surpreende, por isso, que na sondagem Observador/TVI/Pitagórica, 55% dos inquiridos considerem que as medidas adotadas para a época de Natal — ou a suspensão das regras, dito de outra forma — foram “adequadas”.

No Ano Novo, tudo voltava ao novo normal. Circulação proibida entre concelhos, recolher obrigatório a partir das 23h, restaurantes de portas fechadas a partir das 22h30, espetáculos de pirotecnia maioritariamente cancelados. Regras diferentes, resultado semelhante: 66% dos inquiridos consideraram “adequado” o sacrifício desta data em benefício do Natal.

Olhando mais em detalhe, percebe-se que um grupo de 37% dos inquiridos até considerava “permissivas” as regras estabelecidas para o dia 25. Em sentido contrário, apenas 7% consideravam que o Governo estava a ser demasiado “rígido” — mesmo que não tenha havido restrições de maior à circulação ou aos ajuntamentos de pessoas (sobretudo, familiares) nesta época.

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No caso da Passagem de Ano, foram 15% os inquiridos na sondagem que consideraram “permissivas” as regras para este período, contra os 18% que se manifestaram contra a “rigidez” das medidas restritivas aplicadas pelo Executivo.

Há uma homogeneidade quase absoluta na forma como homens (57%) e mulheres (54%), por um lado, ou os inquiridos das várias faixas etárias, considerando outra perspetiva, consideram “adequadas” as medidas no Natal. Mas há uma ligeira predominância nos inquiridos com mais de 54 anos, o maior grupo (59%) a defender que as regras eram adequadas ao momento. Na análise por classes sociais, é a classe média baixa quem mais apoia esta ideia (61% votaram “adequadas”).

De uma perspetiva mais partidária, são os eleitores do CDS e do Bloco de Esquerda (ambos nos 64%) os que mais contribuem com a opinião de que o Governo decidiu de forma “adequada” face ao momento, no que ao Natal diz respeito. Os inquiridos do PSD (14%) e da CDU (13% sendo que, curiosamente, o PCP é um dos partidos que mais se tem manifestado de forma crítica relativamente à manutenção do estado de emergência) são os que mais defendem a ideia de que as regras no Natal foram demasiado permissivas.

E no Ano Novo? Mais uma vez, não há discrepâncias relevantes em função do género ou da idade. Numa análise por classe social, são os mais privilegiados aqueles que mais apoiam a ideia de que o sacrifício deste período foi a decisão mais adequada. E é a classe média alta a que mais defende que o garrote foi apertado com demasiada força nesta fase. Os eleitores PSD — um partido que desde o início apoiou o estado de emergência — estão em maioria na defesa de que o Governo foi demasiado rígido nestes dias.

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Como dizíamos logo de início, estes dados foram recolhidos ainda o país não tinha disparado para um ritmo de contágio acima dos 10 mil novos casos diários. Ainda assim, para 71% dos inquiridos, a terceira vaga era já uma certeza no horizonte. Apenas 18% consideravam que, não, a pandemia não teria força para um terceiro momento de propagação acelerada do vírus na comunidade.

E se a esmagadora maioria tinha como certa a aproximação de uma nova vaga, 38% dos inquiridos admitiam que ela pudesse ser nem mais nem menos mas, sim, igualmente grave. Seria uma reedição da segunda vaga que percorreu o país a partir de setembro.

O segundo maior grupo de respostas à questão sobre como antecipavam a força da terceira vaga é o dos inquiridos que admitiam que ela pudesse ser mais grave ou muito mais grave que a anterior: são 29%. No extremo oposto, os resultados não são muito diferentes: 26% admitiam um período menos grave que o de setembro.

Ficha técnica

Durante 6 semanas (10 Dezembro 2020 a 21 de Janeiro 2020 ) vão ser publicadas pela TVI e pelo Observador uma sondagem em cada semana com uma amostra mínima de 626 entrevistas. Em cada semana a amostra corresponderá a 2 sub-amostras de 313 entrevistas. Uma das sub-amostras será recolhida na semana da publicação e a outra na semana anterior à da publicação. Cada sub-amostra será representativa do universo eleitoral português (não probabilístico) tendo por base os critérios de género, idade e região.

Semana 4 Publicação: O trabalho de campo decorreu entre os dias 22,23,26,27 e 29,30 de Dezembro de 2020 e 2,3 de Janeiro 2021. Foi recolhida uma amostra total de 629 entrevistas que para um grau de confiança de 95,5% corresponde a uma margem de erro máxima de ±4,0%. A seleção dos entrevistados foi realizada através de geração aleatória de números de “telemóvel” mantendo a proporção dos 3 principais operadores identificados pelo relatório da ANACOM, sempre que necessário são selecionados aleatoriamente números fixos para apoiar o cumprimento do plano amostral. As entrevistas são recolhidas através de entrevista telefónica (CATI – Computer Assisted Telephone Interviewing).

O estudo tem como objetivo avaliar a opinião dos eleitores Portugueses, sobre temas relacionados com as eleições , nomeadamente os principais protagonistas, os momentos da campanha bem como a intenção de voto nos vários partidos.

A taxa de resposta foi de 53,76% . A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva.

A taxa de abstenção na sondagem é de 55,5% a que correspondem os entrevistados que aquando do momento inicial se recusaram a responder à entrevista por não pretenderem votar nesta eleição.

A ficha técnica completa bem como todos os resultados foram disponibilizados junto da Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizara oportunamente para consulta online.