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Com a ida de Volodymyr Zelensky a Washington, o Presidente norte-americano vai novamente tentar colocar pressão para que se chegue a um acordo entre democratas e republicanos

AFP via Getty Images

Com a ida de Volodymyr Zelensky a Washington, o Presidente norte-americano vai novamente tentar colocar pressão para que se chegue a um acordo entre democratas e republicanos

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Zelensky nos EUA. O convite de Biden para evitar "o melhor presente que Putin podia ter"

Nos EUA, Zelensky estará com Biden, senadores e congressistas para apelar à aprovação de pacote de ajuda de 60 mil milhões de dólares. Republicanos têm dúvidas e estão focados na política migratória.

A poucos dias do Natal, o Presidente dos Estados Unidos (EUA), Joe Biden, convidou o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, a ir à Casa Branca esta terça-feira. O principal tema em cima da mesa será o pacote de ajuda financeiro e militar para o esforço de guerra da Ucrânia, que o Partido Republicano no Senado norte-americano bloqueou na semana passada. O líder norte-americano tem multiplicado os apelos aos republicanos — alguns dos quais abertamente contra o prolongamento de ajuda militar a Kiev —, mas até ao momento não teve nenhum resultado concreto.

Com a ida de Volodymyr Zelensky a Washington, o Presidente norte-americano vai novamente tentar colocar pressão para que se chegue a um acordo entre democratas e republicanos. Contudo, a tarefa não se afigura fácil. Devido à época festiva, o Senado deverá suspender os trabalhos a 15 de dezembro, o que deixa uma margem de manobra muito reduzida para conseguir aprovar o pacote de ajuda de 110 mil milhões de dólares (cerca de 102 mil milhões de euros), 61 mil milhões dos quais (aproximadamente 57 mil milhões de euros) seriam canalizados para a Ucrânia, enquanto o restante seria distribuído entre Israel, Taiwan e a política migratória.

[Já saiu: pode ouvir aqui o sexto e último episódio da série em podcast “O Encantador de Ricos”, que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade. Pode sempre ouvir aqui o quinto episódio e aqui o quarto, o terceiro aqui, o segundo aqui e o primeiro aqui]

No entanto, caso o pacote de ajuda seja aprovado na câmara alta do Congresso norte-americano — precisando de entre 60 a 100 votos a favor (os maioritários democratas têm apenas 51 lugares no Senado) —, a moção tem ainda de receber luz verde da Câmara dos Representantes. Neste último órgão, os republicanos têm a maioria dos lugares, o que ainda dificulta ainda mais a aprovação da proposta.

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epa10376008 Speaker of the House Nancy Pelosi (C) and US Vice President Kamala Harris (L) hold a Ukrainian flag after Ukrainian President Volodymyr Zelensky  delivered an address to a joint meeting of the United States Congress in the House of Representatives chamber on Capitol Hill in Washington DC, USA, 21 December 2022. Zelensky is on his first known foreign trip since Russia invaded Ukraine more than 300 days ago, travelling to the US on a high-stakes visit to secure support for his war effort.  EPA/MICHAEL REYNOLDS

Zelensky no Congresso em dezembro de 2022

MICHAEL REYNOLDS/EPA

Tendo em conta este contexto, o apoio dos republicanos é essencial para que os fundos sejam desbloqueados. Como contrapartida para a aprovação do pacote de ajuda militar ucraniano, o Partido Republicano exige que Joe Biden adote políticas migratórias mais duras e reforce o controlo da fronteira entre os Estados Unidos e o México, destinando mais verbas para esta área. O Presidente norte-americano já mostrou abertura para debater o assunto e disse que havia espaço para negociar, mas a oposição mantém-se inflexível.

Ao convidar Volodymyr Zelensky para uma passagem pelos EUA — depois de uma presença na Argentina para assistir à tomada de posse no novo Presidente, Javier Milei —, o Chefe de Estado esperará sensibilizar o Partido Republicano, principalmente a ala mais moderada. Enquanto o partido fala a uma só voz no que diz respeito ao aumento de verbas para parar com a imigração ilegal, existe uma divergência de opiniões sobre a continuidade do apoio ucraniano. Se, por um lado, os republicanos mais extremistas querem terminar com a guerra o mais cedo possível, independentemente das cedências de territórios que a Ucrânia tenha de fazer, por outro lado, os mais moderados continuam a entender a necessidade de apoiar Kiev — mas colocam condições para que isso aconteça. 

O “presente” que Biden não quer dar a Vladimir Putin e as divisões entre republicanos

“Isto não pode esperar.” Esta tem sido das principais mensagens que Joe Biden tem transmitido e que revela a urgência em aprovar o pacote de ajuda de 110 mil milhões de dólares. O Presidente norte-americano vai ainda mais longe e diz estar “surpreendido” que se tenha chegado a “este ponto”, no qual os “republicanos no Congresso estão dispostos a dar a Putin o melhor presente que ele podia esperar”. 

epa11014143 US President Joe Biden delivers remarks urging Congress to pass his national security supplemental request, including funding to support Ukraine, from the Roosevelt Room at the White House in Washington, DC, USA, 06 December 2023.  EPA/YURI GRIPAS / POOL world rights

Biden está "surpreendido" que republicanos possam dar uma "prenda" a Putin

YURI GRIPAS / POOL/EPA

Fortemente dependente da ajuda do Ocidente para prosseguir o esforço de guerra, o fim do auxílio dos Estados Unidos simbolizaria um duro revés para a Ucrânia: o país ficaria sem aquele tem sido o seu principal fornecedor de armas e de ajuda financeira. Neste cenário, ainda que a guerra não terminasse e as autoridades ucranianas pudessem continuar a contar com o apoio da União Europeia, haveria uma maior probabilidade de se encetarem negociações para o final da guerra — mesmo que as condições fossem desfavoráveis para Kiev.

Pela parte dos Estados Unidos, Joe Biden sublinhou que, ao tirar o tapete à Ucrânia, o país estaria a “abandonar” o seu papel na “liderança global”. “Política zangada, mesquinha e focada em interesses partidários não se pode colocar no caminho das nossas responsabilidades enquanto nação que lidera o mundo. Todo o mundo está a ver o que os Estados Unidos fazem”, frisou o líder norte-americano num discurso ao país na passada quarta-feira, reforçando que, se Washington abandonasse Kiev, isso daria mais força a “futuros agressores”.

Embora tenha realçado que o povo “corajoso” ucraniano negou à Rússia “uma vitória no campo de batalha” e “derrotou a ambição de Vladimir Putin em dominar a Ucrânia”, Joe Biden defendeu que os Estados Unidos são a “razão” pela qual o seu homólogo russo não “conquistou” o país vizinho e também não “foi além disso”, ou seja, não pôde invadir outros Estados.

"Política zangada, mesquinha e focada em interesses partidários não se pode colocar no caminho das nossas responsabilidades enquanto nação que lidera o mundo. Todo o mundo está a ver o que os Estados Unidos fazem"
Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos da América

Neste sentido, o Presidente dos Estados Unidos, país que desempenha um papel charneira na NATO, voltou a denunciar que, se Vladimir Putin conquista a Ucrânia, “não vai parar aí”. “É importante ver a longo prazo. Ele vai continuar. Ele deixou isso bem claro. Se Putin atacar um aliado da NATO — e se tiver sucesso ele vai atacar um aliado da NATO —, bem, nós comprometemo-nos enquanto Estado-membro da NATO a defender todos os centímetros do território da NATO”. 

Com o argumento de que a Rússia pode começar uma guerra com a NATO, Joe Biden tentou recordar os republicanos de que um novo conflito mundial levaria a algo que ninguém “procura”: “Tropas norte-americanas a lutar contra tropas russas”. “Não podemos deixar Putin ganhar. Faz parte do nosso interesse nacional e do interesse internacional dos nossos amigos”, reforça Joe Biden.

Certas fações do Partido Republicano são sensíveis a este argumento. Por exemplo, Mitt Romney, antigo candidato presidencial, ressalvou que o partido não quer passar um “cheque em branco” às autoridades ucranianas, mas quer que Kiev tenha “armas suficientes para se defender contra a invasão brutal de Putin, que é um criminoso e um assassino”.

Mitt Romney considera que EUA devem apoiar Ucrânia, mas mantém foco na política migratória

Bill Pugliano/Getty Images

“Na minha visão, é do interesse norte-americano ver a Ucrânia ter sucesso e providenciar armas para que se possa defender. Qualquer coisa diferente disso seria abandonarmos as nossas responsabilidades… É do interesse norte-americano garantir que a Ucrânia consegue lutar”, defendeu Mitt Romney.

Não obstante, nem todos os republicanos pensam assim — e alguns consideram que o apoio à Ucrânia não faz parte do interesse nacional norte-americano. Na sua conta pessoal do X, o congressista da Florida Matt Gaetz escreveu que os Estados Unidos já “enviaram dinheiro suficiente para a Ucrânia”: “Devemos dizer ao Zelensky para procurar a paz.”

A posição do congressista da Florida encontra ecos nos discursos de Donald Trump, o ex-Presidente e candidato republicano às próximas eleições presidenciais de 2024, de quem é um importante aliado. O magnata já garantiu que, se vencer Joe Biden, vai terminar com a guerra em 24 horas e vai colocar os Estados Unidos em primeiro lugar. “A Ucrânia primeiro, a América em último”, é uma das principais acusações do antigo Chefe do Estado dirigidas a Biden.

A visita de Zelensky aos EUA e o novo líder da Câmara dos Representantes

Esta terça-feira, Volodymyr Zelensky vai estar na Casa Branca com o Presidente norte-americano. Mas não será o único encontro que o líder ucraniano terá. Também se vai encontrar com o líder do Senado, o democrata Chuck Schumer, e com o republicano Mike Johnson, o novo líder da Câmara dos Representantes.

Como nota a CNN internacional, a reunião entre Volodymyr Zelensky e Mike Johnson deverá ser a mais importante, uma vez que o republicano chegou no final de outubro ao cargo e esta será a primeira vez que os dois responsáveis políticos se encontrarão. Nas suas duas últimas idas aos Estados Unidos, era Kevin McCarthy quem liderava a Câmara dos Representantes, com quem o Presidente ucraniano mantinha uma relação cordial — ainda que nos últimos meses menos amigável.

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Mike Johnson é a favor do apoio à Ucrânia, mas frisa que batalha é a "fronteira" com o México

Getty Images

Para além de ser uma forma de Joe Biden colocar pressão sobre os republicanos, a ida de Volodymyr Zelensky aos Estados Unidos servirá como uma operação de charme ao líder republicano, tentando cair nas suas graças. Publicamente, segundo escreve a imprensa norte-americana, Mike Johnson já disse acreditar que é importante ajudar a Ucrânia, mas vê o seu partido cada vez menos recetivo à ideia.

Mesmo assumindo uma posição mais favorável do que muitos dos seus companheiros partidários relativamente à Ucrânia, Mike Johnson continua a insistir, no que concerne ao apoio dos republicanos ao pacote de ajuda de 110 mil milhões de dólares, que a principal “batalha”, neste momento, é a “fronteira” com o México. “Isso terá prioridade máxima”, assinalou, assegurando, contudo, que vai responder “a outras obrigações” — como a ajuda à Ucrânia ou a Israel.

As dificuldades da Ucrânia em garantir apoios

Após uma contraofensiva que não “alcançou os objetivos” propostos e com um inverno “difícil” no horizonte, a Ucrânia tem enfrentado um “momento difícil” na guerra, que tem implicações igualmente fora de fronteiras, que já se vão manifestando.

Menos apoio dos EUA e uma ofensiva russa: Ucrânia vive dos “momentos mais difíceis” desde o início da guerra

Um estudo realizado pelo instituto alemão Kiel refere que a “dinâmica de apoio à Ucrânia diminuiu”, tendo atingido os níveis de janeiro de 2022 — ou seja, antes de a guerra ter começado. “De todos os 42 dadores, apenas 20 se comprometeram a novos pacotes de ajuda nos últimos três meses, o número mais pequeno de dadores ativos desde o início do compromisso. Também tem havido poucos compromissos da União Europeia e dos Estados Unidos.”

Christoph Trebesch, um dos autores do estudo e diretor do Instituto Kiel, explica que os resultados do estudo “confirmam a impressão de uma atitude mais hesitante nos últimos meses” na ajuda à Ucrânia por parte do Ocidente. “Por conta da incerteza relativamente à ajuda norte-americana, a Ucrânia pode apenas esperar que a União Europeia aprove finalmente o pacote de apoio de 50 mil milhões de euros”, que ainda está a ser discutido. Se não for, Vladimir Putin “acabará por ser beneficiado”.

De todos os países em estudo, os Estados Unidos foram um dos que mais diminuíram o seu apoio à Ucrânia. Adicionalmente, a análise concluiu que os Estados-membros da União Europeia já superaram o nível de ajuda de Washington. “No total de 25 mil milhões de euros em artilharia (janeiro 2022 até outubro de 2023), os Estados Unidos contabilizam 43% do valor total, enquanto todos os países da União Europeia e instituições juntos já perfazem 47%.”

"No total de 25 mil milhões de euros em artilharia (janeiro 2022 até outubro de 2023), os Estados Unidos contabilizam 43% do valor total, enquanto todos os países da União Europeia e instituições juntos já perfazem 47 por cento"
Estudo do Instituto Kiel

Neste momento, os principais pilares da Ucrânia têm sido, como destaca o Instituto Kiel, a Alemanha e os países nórdicos. Relativamente à ajuda alemã, o chanceler do país, Olaf Scholz, garantiu este fim de semana que Berlim vai apoiar Kiev se outros aliados deixarem de sustentarem o esforço de guerra ucraniano, uma mudança relativamente às fases iniciais da guerra, em que a Ucrânia criticou a falta de assertividade alemã face à Rússia.

Para tentar contrariar esta tendência de diminuição do apoio, Volodymyr Zelensky vai aos Estados Unidos. A receção não deverá ser tão calorosa como aquela que recebeu há sensivelmente um ano, quando foi aplaudido por democratas e republicanos, mas o Presidente ucraniano vai continuar a tentar cativar novos aliados — e fortalecer relações com um país que um dia lhe poderá sempre virar costas.

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