Um plano de corte, introduzido erradamente durante escassos segundos pelo editor responsável por montar o episódio desta segunda-feira do programa A Current Affair, do canal australiano Nine Network, terá sido quanto bastou para que, no Brasil, começassem a multiplicar-se as publicações nas redes sociais sobre o pretenso tratamento a que a Rainha Isabel II, atualmente infetada com Covid-19, estaria a ser submetida.

“RAINHA DA IVERMECTINA? Programa australiano comenta que Rainha Elizabeth II testou positivo para vírus chinês e revela que ela está sendo medicada com “Stromectol” (nome de aprovação da Ivermectina nos EUA)”, escreveu esta segunda-feira à noite um utilizador do Facebook, garantindo que a monarca inglesa estaria a ser tratada com a substância.

Como ele, muitos outros internautas brasileiros têm partilhado publicações do género ao longo das últimas horas, tornando a recém-criada hashtag #BolsonaroSalvouARainha uma das mais populares do Twitter naquele país — recorde-se que Jair Bolsonaro é um dos mais célebres apologistas da utilização do medicamento para tratar a Covid-19.

Em causa está a exibição, durante segundos apenas, de uma caixa do medicamento, como plano de corte do programa dedicado à doença da Rainha britânica, que contou com a participação de vários especialistas, incluindo biógrafos e comentadores reais e médicos.

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Foi durante a intervenção de Mukesh Haikerwal, médico britânico-australiano baseado em Melbourne e ex-presidente da Associação Médica Australiana, que a caixa de Stromectol surgiu no ecrã, não tendo, em momento algum, sido referido o medicamento.

Na sua conta pessoal de Twitter, o médico, de 61 anos, fez questão de se demarcar rapidamente da polémica. “Esta é a lista de medicamentos utilizados na Austrália para o tratamento definitivo da COVID-19. Sei que as imagens inadvertidamente inseridas no @ACurrentAffair9 serão removidas durante o dia de hoje. O canal foi alertado”, escreveu Haikerwal, a acompanhar uma listagem de fármacos em que a Ivermectina não consta.

O próprio canal, que entretanto reeditou o programa e fez desaparecer a polémica caixa de Stromectol, veio esta terça-feira a público explicar a situação, assumir o “erro humano” e garantir que já tinha sido apresentado um pedido de desculpas formal ao médico — que o aceitou.

“A nossa reportagem de ontem à noite sobre a Rainha continha um plano que não deveria ter sido incluído. O plano foi incluído como resultado de um erro humano. Queríamos destacar um medicamento aprovado chamado Sotrovimab e acidentalmente foi incluída na reportagem uma imagem de Stromectol — um produto que contém Ivermectina”, pode ler-se no texto publicado no site do Nine Network. “Como programa fizemos inúmeras histórias sobre as preocupações que existem sobre a toma de Ivermectina como tratamento para a Covid-19. Não quisemos sugerir que o Dr. Mukesh Haikerwal aconselha a Ivermectina”, garantia ainda o mesmo comunicado.

Conclusão

Não existe qualquer evidência de que Isabel II esteja a ser medicada com Ivermectina e o facto de o medicamento ter surgido, em imagem, numa reportagem de um canal de televisão australiano sobre o estado de saúde da monarca também não significa que esse mesmo programa o tenha noticiado. O que aconteceu, explicou o médico ouvido na reportagem do Nine Network e também os responsáveis pelo canal que emite, desde 1971, o programa de informação A Current Affair, é que foi utilizada uma imagem errada para ilustrar a peça. “O plano foi incluído como resultado de um erro humano”, justificou o canal, que também já pediu desculpas ao médico Mukesh Haikerwal pelo mal-entendido.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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