Não vale a pena ignorar, nem é desejável fazê-lo: hoje em Portugal a direita tem um problema de governabilidade. Até na Madeira, onde governa desde 1974, a construção de uma coligação de direita enfrenta alguns sarilhos. O PSD tem a sua parte das responsabilidades, mas hoje quero falar sobre a IL e o Chega, os novos partidos de direita.

Comecemos pela IL. Os liberais começaram com um discurso muito ideológico, o que enfrentava alguns limites, mas mostrava também virtudes, sobretudo porque tradicionalmente a direita em Portugal sofre de um sério défice de ideologia e de doutrina. Mas a IL está a mudar. O partido parece que está a passar pelo síndroma de ‘Cheganização.’ Estão obcecados em retirar o terceiro lugar nas sondagens ao Chega, e querem adoptar um discurso populista. Foram pelo caminho mais fácil, mas frequentemente o pior. Se o populismo funciona, também querem ser populistas. Essa transformação foi visível quando votaram a favor da moção de censura do Chega.

Agora na Madeira, colocaram condições para participar na coligação de maioria quase impossíveis para o PSD aceitar. Aparentemente, o raciocínio é o seguinte: Se o Chega não está com o poder, a IL também prefere continuar na oposição. Têm medo que o poder os faça perder em vez de crescer, e que muitos dos seus eleitores fujam para o Chega. Mas os dirigentes da IL têm que entender o seguinte: o eleitorado está a olhar para o seu comportamento para ver se o partido pode e quer participar numa coligação para tirar o PS do governo. Para a maioria do eleitorado das direitas, o maior objectivo é afastar os socialistas do poder. Irá a IL ajudar? Hoje as dúvidas são maiores do que eram há uns meses.

Quanto ao Chega, há um grande problema. Não dá qualquer argumento àqueles que estão dispostos a defender que uma solução de direita terá que incluir o Chega. É muito difícil defender uma coligação com o Chega apenas por uma questão de aritmética eleitoral. Tem que haver mais. O Chega tem uma atitude completamente negativa, só ataca. Não têm uma agenda positiva para o país. Nós já sabemos que não gostam nada do PS (ainda bem) e que são de direita (óptimo), mas precisamos de saber muito mais. Quais são as políticas do Chega para a economia, para apoiar os empresários, para defender os pequenos comerciantes e os jovens empreendedores? Não sabemos. Por vezes, falam da economia como se fosse de esquerda, contra os lucros, a favor da intervenção do Estado. Para isso, ninguém precisa do Chega. Já há partidos suficientes em Portugal.

No caso da corrupção, o Chega fala do problema em termos gerais. Acusar quase todos de corrupção não adianta nada, apenas favorece os corruptos. Quais são as políticas concretas do Chega para combater a corrupção? Quais são as ideias do Chega em relação às empresas públicas que todos os anos dão prejuízos e empregam milhares de funcionários com cartões de militantes partidários? Quais são as políticas de educação e de saúde do Chega? Por exemplo, são a favor da descentralização do sistema de educação? São a favor da participação do sector privado na saúde? Mais uma vez, não sabemos ou temos dúvidas.

Além de tudo isso, o Chega dá sinais de que pretende juntar os seus deputados no Parlamento Europeu ao grupo de Marine Le Pen e da AfD, em vez de integrar o grupo conservador de Meloni e do Vox, assim como da direita populista dos países escandinavos. O partido de Le Pen tem sido apoiado pelo regime de Putin, e a AfD é um partido racista e cheio de neo-nazis. É essa a companhia que o Chega quer na Europa? Se for, não pode estar com o PSD numa coligação parlamentar, muito menos num governo.

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